Uma companhia aérea chamada Brasília

Publicado em Aeroporto, Juscelino Kubitschek
Avião da Real Aerovias no Aeroporto de Brasília
Avião da Real Aerovias Brasília no aeroporto da capital

Julho é mês de férias. Período de viagem. Época de aeroporto cheio. O da capital não foge à regra. E hoje os brasilienses podem se orgulhar de ter um dos aeroportos mais modernos do país. Mas, em uma época que o terminal não passava de um barracão de madeira à beira de uma pista de terra batida, em meio à cidade em construção, aviões de uma gigantesca companhia nacional estampavam o nome e símbolos da capital federal em seus belos aviões. Quase desconhecida, sua história é fascinante.

Nascida em São Paulo após o término da Segunda Guerra Mundial, apenas com aviões militares movidos a hélice, a Real Aerovias Brasília chegou a ser a maior do país e a sétima do mundo em número de aeronaves. E ostenta o feito de ter sido a primeira a pousar no aeroporto internacional de Brasília, ainda em construção, em 1957.

A Real Aerovias (Redes Estaduais Aéreas Ltda.) surgiu em 1945. Como tantas companhias, aproveitou uma demanda reprimida do mercado e o baixo preço dos aviões por causa dos excedentes da guerra. O primeiro voo comercial ocorreu em 7 de fevereiro de 1946, entre os aeroporto de Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ). Com tarifas econômicas, política que faria sucesso décadas depois em todo mundo, logo a Real virou grande concorrente da Panair e da Varig nas rotas nacionais e internacionais. Graças à sua expansão, aeroportos brasileiros foram construídos para receber linhas da Real.

Real Aerovias, modelo PP-AXR Douglas
Real Aerovias Brasília, modelo PP-AXR Douglas

A empresa também cresceu comprando outras, menores. Em 1948, adquiriu a Linhas Aéreas Wright. Dois anos depois, comprou a Linhas Aéreas Natal (LAN). Em 1951, incorporou a Linha Aérea Transcontinental Brasileira (LATB), expandindo a malha na Região Nordeste e fazendo seu primeiro voo internacional, para Assunção, no Paraguai. O salto maior veio em 1954 e 1956, quando comprou a Aerovias Brasil e a Transporte Aéreo Nacional, respectivamente. Por fim, em 1957, assumiu metade do capital da Sadia Transportes Aéreas — rebatizada como Transbrasil em 1972.

Apogeu

Como um grande consórcio, a Real Aerovias chegou a 117 aeronaves, ocupando a sétima colocação no ranking da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), a mais alta posição atingida por uma empresa aérea brasileira até então. Na época, voava para os Estados Unidos. Aterrissou pela primeira vez em Brasília em 30 de abril de 1957, quando o definitivo aeroporto inaugurou o tráfego aéreo.

Real Aerovias, modelo L1049 Super H Constellation
Real Aerovias Brasília, modelo L1049 Super H Constellation

A companhia, dona da primeira rota regular para nova capital, passou a se chamar Real Aerovias Brasília em 1960. Seus aviões, em alumínio natural, adotaram uma logomarca verde e amarela na cauda com os traços da Catedral e desenhos das colunas do Palácio da Alvorada ao longo da lateral.

Também no ano de inauguração de Brasília, a Real criou o voo para o Japão, se transformando na primeira empresa brasileira a realizar travessias sobre o Oceano Pacífico. Trecho operado por quatro novos Constellation. Sem os modernos satélites de hoje, os pilotos usavam a navegação convencional, muitas vezes astronômica. Dessa forma, a travessia era grande aventura. Após decolar de Los Angeles, o avião fazia duas escalas — em Honolulu e na Ilha Wake —, antes de pousar em Tóquio.

A Real chegou a promover os jatos Convair 990, que acabaram sendo recebidos pela Varig
A Real Aerovias Brasília chegou a promover, em anúncios, os jatos Convair 990

 

Queda

Ainda em 1960, em seu 15° aniversário, tendo transportado 12 milhões de passageiros, voado para sete países, com sua própria escola de formação de pilotos e comissários e o recorde brasileiro de horas de voo (mais de 1 milhão), a empresa preparava-se para entrar na era do jato, com a encomenda de quatro Convair 990. A Real também acabara de comprar três Lockheed Electra II da American Airlines. Mas, no começo do ano seguinte, veio o abrupto fim, provocado por uma grave crise financeira. Para muitos, justamente em função do seu rápido crescimento e das tarifas baixas.

Para minimizar a falência da empresa, o seu dono, o comandante Linneu Gomes, passou as linhas e os aviões da Real à Varig, em duas operações, realizadas em maio e agosto de 1961. A transação ainda é mal explicada, assim como as decisões que incorporaram, da noite para o dia, a Panair à Varig.

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Saiba como era o aeroporto de Brasília nos anos 1960

 

Aeroporto de Brasília em 1957 / Arquivo Público do Distrito Federal
Aeroporto de Brasília em 1957 / Arquivo Público do Distrito Federal