Nas entrelinhas: O cerco se fechou

Publicado em Política

A nova ofensiva do Ministério Público na Lava-Jato chegou ao ex-presidente Lula e ao círculo mais próximo da presidente Dilma

Demorou, mas aconteceu. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ontem que o ex-presidente Lula e mais 30 políticos sejam investigados pela Operação Lava-Jato por participação direta no escândalo da Petrobras. Segundo ele, a “organização criminosa” que atuou na estatal “jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dela participasse”.

Com isso, sobe para 70 o número de políticos investigados pela Operação Java-Jato, pois o inquérito já contava com 39 pessoas envolvidas, entre elas o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente interino do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR). A nova ofensiva da do Ministério Público, porém, chegou ao  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao círculo mais próximo de colaboradores da presidente Dilma Rousseff, que a Constituição impede que seja investigada por fatos anteriores ao mandato durante o exercício do cargo.

O cerco da força-tarefa da Operação Lava-Jato a Lula e Dilma praticamente se fechou. Foram incluídos no pedido os ministros Jaques Wagner (Gabinete da Presidência), Ricardo Berzoini (Secretário de Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social); Giles Azevedo, assessor especial da Presidência; os ex-ministros Antônio Palocci e Erenice Guerra; o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto; o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o pecuarista José Carlos Bumlai.

As acusações do procurador-geral da República contra ministros petistas são muito pesadas. “No âmbito dos membros do PT, os novos elementos probatórios indicam uma atuação da organização criminosa de forma verticalizada, com um alcance bem mais amplo do que se imagina no início e com uma enorme concentração de poder nos chefes da organização: Edinho Silva, Ricardo Berzoini, Jacques Wagner, Delcídio do Amaral”. Janot faz carga contra Lula, por sua influência no Planalto e atuação contra a Lava-Jato.

As interceptações telefônicas de Lula, que tanta celeuma causaram por causa dos diálogos com a presidente Dilma Rousseff, segundo Janot, “não deixam dúvidas de que, embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula, mantém o controle das decisões mais relevantes, inclusive no que concerne às articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava-Jato”. Janot acusa formalmente a direção nacional do PT de envolvimento no esquema.

O novo o pedido de investigação também centra fogo no PMDB, apontado como “segundo eixo” do esquema, que começou a funcionar em 2003, no começo do primeiro mandato de Lula. O vice Michel Temer e os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, que articulam a formação de um novo governo, porém, não estão na lista. Janot, porém, quer investigar mais nomes do PMDB do Senado, como Jader Barbalho (PA), e da Câmara, como o presidente da Casa, Eduardo Cunha (RJ), além do ex-ministro Henrique Alves e do prefeito de Nova Iguaçu, Nélson Burnier.

Segundo ele, dois grupos atuavam de forma autônoma, um no Senado e outro na Câmara, “tanto em relação às indicações políticas para compor cargos relevantes no governo quanto na destinação de propina arrecadada a partir dos negócios escusos firmados no âmbito daquelas indicações”. A organização tinha mais três núcleos: um econômico, formado por empresários, um administrativo, integrado por servidores da Petrobras, e um financeiro, encabeçado pelo doleiro Alberto Youssef. O núcleo político protegia o esquema, nas comissões parlamentares de inquérito e comissões de fiscalização do Congresso, e junto ao Tribunal de Contas da União.

No final da noite de ontem, Janot também apresentou um pedido de investigação contra a presidente Dilma Rousseff e o  advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, por tentativa de obstrução da Justiça, com base nas interceptações telefônicas do ex-presidente Lula e na delação premiada do senador Delcídio do Amaral (MS).

Tapete

A cúpula do PSDB afinou a viola com o vice Michel Temer, ontem. “É preciso que logo na largada, não apenas na constituição do governo, mas também das propostas que o vice-presidente deverá apresentar ao país, é importante que elas gerem esperança, o otimismo que vem faltando ao Brasil para superar esta crise”, disse o senador Aécio Neves, presidente da legenda, após o encontro. O partido decidiu, em reunião com governadores e líderes, não indicar nomes para ministérios e cargos. “Nosso apoio congressual será absoluto, mas o vice-presidente não precisa, do ponto de vista de ocupação de cargos, se preocupar com o PSDB”, afirmou. É conversa pra boi dormir, pois o senador José Serra (SP) já está escalado para ser o novo ministro de Relações Exteriores de Temer e Bruno Araujo (PSDB-PE), para o Ministério das Cidades.