Nas entrelinhas: Eleições presidenciais serão em alta tensão

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Bolsonaro está inconformado com as investigações sobre fake news, que atingem diretamente seus operadores nas redes sociais

A campanha eleitoral nem começou, mas a tensão entre Jair Bolsonaro e os ministros Édson Fachin, que acaba de assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e Alexandre de Moraes, que presidirá a Corte durante a votação, aumentou. O presidente da República não foi à posse de ambos e, ontem, o secretário-geral da Presidência, general Luiz Ramos, criticou Fachin nominalmente. Na mesma linha, durante evento do banco BTG Pactual, Bolsonaro vez novos ataques direcionados aos ministros do Supremo, sem citar nomes.

“Nós precisamos de paz para ter liberdade e devemos lutar por isso. Não vai ser o chefe do Executivo que vai jogar fora das quatro linhas, mas, por favor, dois ou três no Brasil: não estiquem essa corda. Vocês vão ter que vir para as quatro linhas. Afinal de contas, todos nós temos limites”, declarou. A referência é endereçada também ao ex-presidente da Corte, Luís Barroso. Bolsonaro arrematou: “Alguns poucos, dois ou três, acham que não têm limites e ficam brincando de nos controlar, de desrespeitar a nossa Constituição.”

Bolsonaro está inconformado com a continuidade das investigações sobre fake news, que atingem diretamente seus operadores nas redes sociais. Questionou a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que desacatou os ministros do Supremo e defendeu a volta do Ato Institucional nº 5, que institucionalizou o regime militar. Também reclamou da desmonetização de sites de internet de seus seguidores, a partir de um acordo entre o TSE e as principais redes sociais: Google, Facebook, TikTok, Instagram e Twitter. Somente ficou de fora o Telegram, rede de relacionamento russa, sem representação oficial no Brasil.

Ontem, Moraes enviou ao Ministério Público Federal (MPF) um pedido de investigação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) sobre a viagem do vereador carioca Carlos Bolsonaro a Moscou. Responsável pela gestão das redes sociais do pai, o filho 02 é considerado o grande artífice da vitória eleitoral de Bolsonaro em 2018. A oposição suspeita que tenha viajado para contactar hackers russos, que possam vir a ser contratados para a campanha eleitoral.

Bolsonaro voltou a dizer que as urnas eletrônicas não são confiáveis. “Onde vamos chegar? Se temos um sistema eleitoral que você pode não comprovar que é fraudável, mas não tem como comprovar também que não é”, disse. Os ataques ao sistema eleitoral, para os ministros do Supremo, sinalizam a disposição de não aceitar o resultado das urnas por parte de Bolsonaro.

Fachin quer promover o esclarecimento da população sobre a segurança das urnas. Em entrevista coletiva, o novo presidente do TSE disse que a Corte “será implacável a ofensas injustificadas ao sistema eleitoral”. Segundo ministro, o TSE agirá se a própria instituição estiver sendo injustamente atingida. “Propagar dúvidas afirmando-se que há provas, quando não há, significa ter mais efeitos do que uma crítica política”, disse.

Radicalização

Preocupado com o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de opinião, Bolsonaro também subiu o tom dos ataques ao PT no evento do BTG Pactual, porém, sem citar o partido: “A gente sabe o que vai acontecer se os bandidos voltarem”. As últimas pesquisas mostram que a distância entre ambos diminuiu, o que aponta uma tendência de cristalização da polarização com Lula. Bolsonaro quer consolidar sua presença no segundo turno, quando acredita que possa capitalizar o antipetismo de seus adversários de centro, principalmente de Sergio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB).

As últimas pesquisas também acenderam um sinal de alerta no PT, que andava com salto alto, por causa da expectativa de poder gerada pelo favoritismo de Lula. A presidente do partido, Gleisi Hoffman, está prevendo uma campanha muito dura e pede mais engajamento. Lula dá sinais de que pretende ampliar sua campanha para vencer no primeiro turno. Seria algo inédito. O esforço tem muito a ver com o medo de um realinhamento de forças que leve os eleitores dos candidatos de centro a descarregarem os votos em Bolsonaro.

Essa é a aposta dos estrategistas da campanha do presidente, que sobe o tom contra o PT tendo como eixo o tema corrupção. Com isso, Bolsonaro mata dois coelhos: obriga Lula a atuar mais nos bastidores, para não aumentar a rejeição, e se coloca como alternativa ao antipetismo que alimenta as candidaturas de centro. O resultado dessa linha de atuação será mais radicalização política, o que também leva água ao moinho da não aceitação do resultado das urnas, como fez Donald Trump, o presidente republicano, ao ser derrotado pelo democrata Joe Biden, atual presidente dos EUA.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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