A forma de Dilma Rousseff governar é rejeitada por 82% e aprovada por 14%. A confiança em Dilma também é baixa (18%). São 80% os que não confiam na presidente da República
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta salvar a presidente Dilma Rousseff do impeachment. Atua como chefe da Casa Civil sem tomar posse, movendo-se nas sombras. Apela aos aliados mais casca-grossas, como o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), para recuperar as posições governistas no Senado, com ajuda discreta do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). É lá que Dilma pode ser afastada e, depois, ter o mandato cassado, caso a Câmara aprove o impeachment.
Fala-se na possibilidade de novas mudanças no ministério, tão logo o Supremo Tribunal Federal (STF) decida a situação de Lula. As expectativas nos meios jurídicos são de que a liminar do ministro Gilmar Mendes impedindo sua posse seja cassada pela maioria da Corte. O ex-deputado e jurista Marcelo Cerqueira, que convalesce de um acidente doméstico no hospital da Rede Sara, em Brasília, mas está antenado e sabe onde dormem as corujas, estima que Gilmar não terá mais de um voto. “Só quem poderia entrar com um habeas corpus é o ex-ministro Jaques Wagner”, afirma. Esse instrumento jurídico é prerrogativa da parte supostamente prejudicada e não de terceiros, explica.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já deu a senha para a derrubada da liminar concedida por Gilmar Mendes ao PPS, ao admitir que a nomeação de Lula é prerrogativa da presidente Dilma. Mas, no mesmo parecer, afirma que houve desvio de finalidade. Para o Ministério Público, Lula virou ministro para sair da alçada do juiz federal Sérgio Moro, por isso não deve ter foro privilegiado. Essa questão é a parte imponderável do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Se a prerrogativa de foro for mantida, Lula ganhará asas de águia para voar na Praça dos Três Poderes. Se permanecer na mira de Moro, vira uma arataca na gaiola. Deixemos a imagem de jararaca para o caso de não assumir o cargo.
Loteamento
Dilma sonha com reforços na equipe do ministério, mais especificamente o senador Roberto Requião (PMDB-PR), o ex-governador Ciro Gomes (PDT-CE) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ). É um trio da pesada, acostumado a jogar duro com os adversários. O problema é arrumar lugar de honra na equipe para os três, uma vez que as pastas disponíveis, por ora, são as do Turismo e a do Esporte. O governo trabalhava com a saída dos ministros do PMDB, é verdade, mas eles resolveram ficar, mesmo contrariando a decisão do PMDB, com exceção de Luiz Henrique Alves, que pediu demissão do ministério do Turismo. Lula avalia que os ministros do PMDB não têm votos suficientes para barrar o impeachment, mas demití-los não é uma decisão fácil. A ministra Katia Abreu, por exemplo, não tem um voto na bancada do PMDB, mas é amiga de Dilma e está na sua cota pessoal.
A estratégia traçada para garantir o apoio de 172 deputados na Câmara sofre fricção no nascedouro. Era reforçar o PP com o Ministério da Saúde (apoio de pelo 25 deputados da bancada), o PR com o Ministério de Minas e Energia ou o de Turismo (mais 20 deputados), o PSD com a Secretaria de Aviação Civil (outros 10) e mais um agrupamento de pequenos partidos liderados pelo PTN com a Secretaria de Portos (19 deputados). Somariam-se aos votos do PT, do PCdoB B e de outros aliados, num total de pelo menos 140 votos. A meta do governo é mobilizar 200 votos em plenário.
Essas contas, porém, não batem com o discurso desesperado da presidente Dilma Rousseff. Ontem, em cerimônia no Palácio do Planalto, mais uma vez a presidente da República voltou a acusar a oposição de preparar um golpe de Estado. O discurso estava sintonizado com as intervenções dos deputados petistas na comissão especial do impeachment, que analisa o pedido apresentado pelos juristas Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. Os dois foram à comissão apresentar os fundamentos do pedido, numa reunião tumultuada pelos governistas. Há uma estratégia para judicializar a decisão da comissão e é preciso fazer barulho para isso.
O problema de Dilma Rousseff, porém, é que seu governo está em debacle. A pesquisa do Ibope/CNI divulgada ontem foi avassaladora. A desaprovação é generalizada: combate à fome e à pobreza (69%), combate ao desemprego (86%), saúde (87%), educação (74%), combate à inflação (86%), segurança pública (84%), meio ambiente (68%), taxa de juros (90%) e impostos (91%).
Apenas 2% dos entrevistados consideram o governo “ótimo”. O índice “péssimo” chega a 54%. A maior avaliação positiva (“ótimo/bom”) está no Nordeste (18%), enquanto a avaliação negativa (“ruim/péssimo”) aparece no Sudeste (76%). A forma de Dilma Rousseff governar é rejeitada por 82% e aprovada por 14%. A confiança em Dilma também é baixa (18%). São 80% os que não confiam na presidente da República. Esse cenário dificulta a rearticulação da base. Político gosta de cargos e verbas, mas gosta muito mais de votos.
Lula não consegue sustentar medidas econômicas impopulares, porém necessárias, ainda que em médio e longo…
Essa foi a primeira troca da reforma ministerial que está sendo maturada no Palácio do…
Lula não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo, porém se…
Agora, às vésperas de tomar posse, Trump choca o mundo com uma visão geopolítica expansionista…