Dilma está fora da alçada de Sérgio Moro, ao contrário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que agora enfrenta um problema muito maior do que as investigações sobre o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá
A presidente Dilma Rousseff ainda não sabe o que fazer para blindar sua imagem em relação à Operação Acarajé, que investiga a utilização de caixa dois para financiar as campanhas eleitorais do PT. Oficialmente, o marqueteiro João Santana recebeu R$ 88 milhões durante a campanha à reeleição de Dilma, mas há dois problemas: suspeita-se que a verdadeira origem do dinheiro seja os contratos das empreiteiras com a Petrobras e há a possibilidade de que Santana tenha recebido dinheiro “por fora” durante a campanha e depois dela, por meio de caixa dois.
Ontem, João Santana e a mulher e sócia, Mônica Moura, só não foram presos porque estavam na Republica Dominicana. Ambos anunciaram a volta imediata ao Brasil. Por meio de carta, João Santana deixou a campanha eleitoral de Danilo Medina à reeleição para o cargo de presidente da República Dominicana. No documento, em espanhol, Santana diz que existe um “clima de perseguição” no Brasil e que seu nome “está sendo ligado a um suposto esquema relacionado ao financiamento de campanhas políticas” no país.
O marqueteiro teria recebido dinheiro da empreiteira Odebrecht em contas na Suíça. A empresa é uma das investigadas na operação. Dilma se reuniu ontem com a coordenação política para avaliar o quadro e cobrou informações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O ex-deputado foi surpreendido pela operação, embora a Polícia Federal seja a ele subordinada. Seu desgaste junto ao PT aumentou, até porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre foi contra sua presença na pasta e agora está se sentindo ainda mais ameaçado pela Operação Lava-Jato.
Dilma está fora da alçada de Sérgio Moro, ao contrário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta um problema muito maior do que as investigações sobre o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá, em São Paulo: a suspeita de que a Odebrecht teria construído o prédio do Instituto Lula no Ipiranga, em São Paulo, em troca de vantagens indevidas.
Santana foi o responsável pela campanha de sua reeleição, em 2006, e o grande artífice da eleição de Dilma Rousseff, em 2010. Segundo os investigadores da Lava-Jato, teria recebido pagamentos no exterior que totalizam mais de US$ 7 milhões, mas ainda não foi comprovado que esses recursos foram destinados ao pagamento da campanha de reeleição de Dilma ou serviços prestados ao governo sem contrato.
O PSDB acusa Dilma de abuso do poder econômico e de utilizar recursos desviados da Petrobras na campanha eleitoral de 2014. O caso tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que recebeu do juiz Sérgio Moro depoimentos e provas reunidas pela Operação Lava-Jato que reforçam as suspeitas de que parte dos recursos desviados da Petrobras foram destinados à campanha do PT.
Aliado incômodo
Dilma Rousseff tem ainda outro problema: a volta do senador Delcído do Amaral (PT-MS) ao Senado. Ex-líder do governo na Casa, ele teve a prisão preventiva relaxada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal federal (STF). Em prisão domiciliar, porém, poderá voltar a exercer o mandato. O senador petista cobra solidariedade dos pares e não esconde a mágoa com o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a revogação da prisão preventiva, o senador petista pode voltar normalmente aos trabalhos na Casa, mas a repercussão dessa decisão está sendo muito negativa. Delcídio sofre pressões do Palácio do Planalto para se licenciar do cargo e não reassumir as funções de presidente da poderosa Comissão de Assuntos Econômicos. Por ora, pretende voltar à tribuna do Senado na quarta-feira para se defender. Alega que foi vítima de uma armação do ex-diretor de Relações Internacionais da Petrobras, Nestor Cerveró, que aceitou fazer delação premiada.
Mesmo antes de ser solto pelo ministro Teori Zavascki, Delcídio havia revelado a amigos e parentes que poderia recorrer à delação premiada se tivesse o mandato cassado e perdesse o direito ao foro privilegiado, ou seja, se for a julgamento pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba. Como existe um processo de cassação de Delcídio no Conselho de Ética do Senado, aumenta a tensão no governo e no Senado. Outros senadores do PT, do PMDB e do PP também estão sendo investigados pela Lava-Jato.
A cúpula petista pretendia discutir a expulsão de Delcídio da legenda na sexta-feira, mas pode ser que mude de ideia. Jogá-lo ao mar pode ser uma péssima ideia. Os senadores que estão envolvidos no escândalo da Petrobras trabalham para evitar a cassação do petista, mas fazem isso discretamente. Desde a redemocratização, somente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), escapou da cassação em plenário, mas, para isso teve que renunciar ao comando da Casa.