Lula mantém o favoritismo com oposição dividida

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No segundo turno, num embate contra Tarcísio, Lula venceria pelo placar de 43% a 34%. Já contra os governadores Romeu Zema e Ronaldo Caiado, Lula teria 45% dos votos, contra 28% e 26%

Começou o segundo tempo do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se considerarmos a teoria do copo pela metade — para os otimistas está quase cheio, para os pessimistas, quase vazio —, diríamos que está se esvaziando, porém Lula ainda tem direito a refil. Apesar da queda de popularidade, principalmente após o impacto da inflação, anabolizado pela controvérsia do Pix, a pesquisa da Genial/Quaest, divulgada nesta segunda-feira, mostra que, se as eleições fossem hoje, Lula venceria todos os seus adversários na disputa de 2026.

Na semana passada, pesquisa Genial/Quaest mostrou que a reprovação de Lula ficou maior do que a aprovação, pela primeira vez, desde janeiro de 2023. Nesse novo levantamento, foram traçados quatro cenários para o primeiro turno, e, para o segundo turno, seis. Lula venceria em todos os cenários do segundo turno, porém perderia para a soma dos votos dos adversários em todos as simulações do primeiro turno. A pesquisa foi realizada entre 23 e 26 de janeiro e ouviu presencialmente 4.500 brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é de apenas um ponto percentual.

Dos oito candidatos listados no primeiro turno — Lula; o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o cantor Gusttavo Lima; o influenciador Pablo Marçal (PRTB); o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP); o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PDT); o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) —, no segundo turno, o melhor desempenho na oposição seria de Gusttavo Lima, com 35% de intenções de votos, contra 41% de Lula. Contra Eduardo Bolsonaro e Pablo Marçal, o presidente abriria 10 pontos de vantagem: 44% contra 34% em ambos os casos.

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Num embate contra Tarcísio, Lula venceria pelo placar de 43% a 34%. Já contra os governadores Romeu Zema e Ronaldo Caiado, Lula teria 45% dos votos, contra 28% e 26%, respectivamente. O índice de indecisos oscilou entre 19% e 25%. Na pesquisa espontânea, 78% dos entrevistados afirmaram que ainda estão indecisos e apenas três nomes foram citados: Lula, que aparece com 9% das intenções de voto, empatado com o ex-presidente Jair Bolsonaro; e Gusttavo Lima, com 1%, mesmo percentual de “outros”.

Bolsonaro tem rejeição maior do que a de Lula, de 53% contra 49%. Lula tem maior intenção de votos, 47%; Bolsonaro, fica em segundo lugar, com 41% da preferência. Haddad apresentou a maior rejeição dos entrevistados: 56% o conhecem e não votariam nele. E Eduardo Bolsonaro registrou a segunda maior taxa de rejeição, de 55%. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (49%) apresentou menos rejeição do que Gusttavo Lima (50%). A menor taxa de rejeição foi do governador Ronaldo Caiado, de 21%. Ele também teve a menor taxa de intenção de voto entre os que o conhecem, de 11%.

Mil e uma noites

A tradução mais completa de As Mil e Uma Noites é do explorador inglês Sir Richard Francis Burton, em 16 volumes, lançada entre 1885 e 1888. O clássico da literatura fantástica é uma coletânea de contos, inicialmente surgidas na Índia, por volta do século 3. Seus gênios, metamorfoses de animais e semideuses viajaram pela Pérsia, são histórias contadas pelos mercadores, reunidas a primeira vez numa coletânea anônima intitulada Hezar Afsaneh (“Os Mil Contos”).

Numa das passagens de As Mil e Uma Noites, o sultão diz para Sheherazade: “Aquele que não sabe adaptar-se às realidades do mundo sucumbe infalivelmente aos perigos que não soube evitar. Aquele que não prevê a consequência dos seus atos não pode conservar os favores do século”. Nesta terça-feira, Lula completa 766 dias de mandato, está longe ainda das mil e uma noites de poder, porém enfrenta uma conjuntura adversa, externa e interna.

Três ameaças reais à sua reeleição: a ascensão ao poder de Donald Trump, mais radical e imprevisível neste novo mandato, com sua política isolacionista e protecionista, que já põe em xeque a institucionalidade econômica da globalização, tecida ao longo de décadas de negociações e acordos comerciais; a situação da economia brasileira, com aumento da dívida pública e da inflação, que desafia o governo a manter o equilíbrio das contas públicas e, ao mesmo tempo, manter as taxas de crescimento e emprego; e o ambiente político no Congresso, cada vez mais empoderado e que exige uma reforma ministerial sintonizada com o novo alinhamento de forças do Senado e da Câmara, sob comando de Davi Alcolumbre (União) e Hugo Motta (PR), respectivamente.

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A pesquisa Genial/Quaest mostra aspectos relevantes para a reeleição de Lula. Sua rejeição, na casa dos 47%, precisa ser muito bem administrada pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, mas nada adiantará se o governo não deslanchar. Seus adversários são políticos de direita, que podem se unir num eventual segundo turno, e até contar com o apoio de Ciro Gomes. Lula enfrenta uma “guerra de posições” com Tarcísio, Zema e Caiado, em São Paulo, Minas e Goiás, respectivamente, com estruturas de governo poderosas e posicionamento ancorado nas forças de centro. Lula ainda não está preparado para uma “guerra de movimento” nas redes sociais, contra Eduardo Bolsonaro, na extrema direita, e Gusttavo Lima e Pablo Marçal, com o discurso “contra tudo o que está aí”.

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