O PT está como aquele jogador de xadrez em xeque que não pode perder a rainha para salvar o rei, pois aí, sim, o xeque-mate seria inevitável. Mas ainda pode bloquear a ofensiva do adversário com um grande roque de torre, mesmo que para isso tenha que entregar um bispo ou um cavalo.
É inédito na história republicana um encontro como o de ontem, em São Paulo, entre a presidente Dilma Rousseff e seu chefe da Casa Civil, o ministro Jaques Wagner, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A chefe na Nação e seu braço direito foram à capital paulista para discutir com o ex-presidente da República uma estratégia de defesa contra a Operação Lava-Jato e o inquérito do Ministério Público de São Paulo que investiga a suposta ocultação de patrimônio por Lula.
Com o país em recessão, inflação alta, desemprego em massa e uma crise de saúde pública de grandes proporções — a pré-olímpica epidemia de zika vírus –, os maiores problemas da presidente Dilma passaram a ser um sítio em Atibaia e um tríplex em Guarujá, que teriam sido, respectivamente, “disponibilizados” e “ofertados” ao ex-presidente da República, digamos assim, mas que oficialmente nunca foram nem são de sua propriedade.
Ironias à parte, a necessidade de construir um discurso unificado entre o governo e o PT em defesa de Lula passou a ser uma questão de vida ou morte para ambos. A cúpula da legenda acusa a presidente Dilma de se omitir em relação ao presidente da República e faz muita pressão para que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deixe o cargo.
Para substituí-lo, fala-se sempre no nome do ex-ministro Nelson Jobim, com amplo trânsito no Supremo Tribunal Federal (STF), do qual foi presidente, e que conhece bem a Polícia Federal, pois já ocupou a pasta no governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas quem o PT gostaria mesmo de ver à frente da Justiça é o deputado Vadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da OAB-RJ.
Cardozo já sente o cheiro de óleo queimado. Ontem, saiu em defesa de Lula e manifestou solidariedade ao presidente da República, que considera um “grande líder”, e atacou “setores da oposição” que teriam “muitos interesses” em atingir a imagem do petista e tentam “maximizar situações” com relação ao ex-presidente. “Há uma luta política em torno disso”, afirmou.
O ministro da Justiça evitou, porém, criticar as investigações da Polícia Federal, órgão sob sua responsabilidade: “Eu não comentaria dados concretos da apuração. As investigações têm que ser feitas com autonomia”, disse. É aí que mora o perigo. O PT é contra essa autonomia, embora seja uma prerrogativa constitucional dos investigadores da Lava-Jato. Por defendê-la é que Cardozo está por um triz.