Antes mesmo de ir ao ar, o programa causou irritação no PT porque reconhece erros do governo Dilma e apresenta propostas que contariam as teses defendidas pela legenda
O programa do PMDB que vai ao ar hoje parece coisa de morcego. Aliás, o partido lembra mesmo a espécie, que tem a maior diversidade de hábitos alimentares entre os mamíferos. Ao contrário do que se pensa, das 1.116 espécies de morcegos que existem no mundo, 70% se alimentam de insetos e apenas três espécies das demais, de sangue, uma das quais ataca outros mamíferos. Há morcegos altamente especializados em um tipo de alimento e aqueles que comem um pouco de cada coisa. De acordo com a comida preferida, são classificados em animalívoros, fitófagos e onívoros.
Seria divertido classificar os líderes do PMDB de acordo com cada categoria, mas não é o caso. Para ser ter uma ideia, os 30% que atacam animais se dividem em insetívoros, que se alimentam de mosquitos, besouros, gafanhotos e mariposas; carnívoros, que preferem pequenos vertebrados, incluindo aves, roedores, lagartos e mesmo outros morcegos; piscívoros, que comem pequenos peixes, como sardinhas, lambaris e barrigudinhos; ranívoros, que prefere rãs e sapos, mas também ataca outros pequenos animais; e os hematófagos, os famosos morcegos-vampiros, que se alimentam exclusivamente do sangue de vertebrados, mas apenas um deles ataca mamíferos: o Desmodus rotundus.
Como os morcegos, que têm papel fundamental para o controle de pragas e o equilíbrio ecológico, o PMDB é visto com muito preconceito, embora seja a força política que liderou a derrota do regime militar e desde o governo José Sarney desempenhe um papel estabilizador da política brasileira. A analogia não deixa de ser uma maldade, mas é assim que o partido é visto por pela presidente Dilma Rousseff e os ministros da Casa. O programa de tevê que irá ao ar hoje, com o presidente vice-presidente Michel Temer e praticamente todos os caciques do partido compondo um mosaico sobre a situação do país, reforça a comparação. A ala governista aparece de forma simpática ao governo, sem se comprometer demais; já a ala oposicionista, deita e rola: desce o sarrafo no governo e se apresenta como alternativa ao PT. Temer, magnânimo, propõe a pacificação, o entendimento e anuncia que a legenda tem propostas para sair da crise.
O PMDB se posiciona para sair do governo e ter candidato próprio em 2018; se puder, porém, o vice-presidente Michel Temer assume o lugar de Dilma, em caso de impeachment ou, há quem aposte, no caso de cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele se posiciona como o político capaz de conduzir um entendimento com a oposição para enfrentar a crise. Antes mesmo de ir ao ar, o programa causou irritação no PT, porque reconhece erros que Dilma Rousseff não admite e apresenta propostas que contrariam frontalmente as teses defendidas pela legenda. O PT prepara um plano emergencial para o Brasil, a ser lançado em um evento marcado para o fim desta semana no Rio de Janeiro, que é a antítese da proposta de Temer. Os petistas também descartam as propostas do ministro da Fazenda, Nélson Barbosa.
Pesquisa
Pesquisa CNT/MDA divulgada ontem mostrou uma leve melhora na avaliação do governo Dilma Rousseff, mas insuficiente para reverter o cenário adverso do ponto de vista da economia, da falta de sustentação política e da crise ética. O índice positivo (ótimo/bom) aumentou 2,6 pontos percentuais, um pouco acima da margem de erro da sondagem (2,2 pontos), passando de 8,8% em outubro passado para 11,4% agora. O percentual negativo (ruim/péssimo) caiu 7,6 pontos, ou seja, de 70,0% para 62,4%. A parcela dos entrevistados que rejeitava o governo em outubro do ano passado migrou para a avaliação regular, que cresceu 4,8 pontos no período, ou seja, foi de 20,45% para 25,2%.
Grosso modo, o aumento do salário mínimo e a presença ostensiva da presidente Dilma Rousseff na mídia em razão da campanha contra o Aedes aegypti ajudaram a melhorar a imagem do governo. Como resultado, houve queda no percentual dos entrevistados favoráveis ao impeachment, de 62,8% para 55,6%. Agora, 40,3% são contra; em outubro passado, eram apenas 32,1%. São números que trouxeram um novo alento para Dilma e os petistas, mas a comemoração foi embaçada pela prisão do marqueteiro João Santana. O Palácio do Planalto teme que os desdobramentos da Operação Lava- Jato influenciem a análise que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fará do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff/ Michel Temer.
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