Etnocídio: o belo monte de infâmias

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Desde 1960

com Circe Cunha e MAMFIL

colunadoaricunha@gmail.com

Em longa entrevista à jornalista Eliane Brum, do jornal El País, a procuradora da República Thais Santi, em Altamira (PA), desde 2012, faz um relato, ao mesmo tempo, revelador e tenebroso das consequências nefastas geradas pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, na Bacia do Rio Xingu. A obra, derivada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e orçada em torno de R$ 30 bilhões, foi mais uma das heranças deixadas pela dupla Lula-Dilma e poderá, segundo a procuradora “ser julgada pela história como uma operação em que a lei foi suspensa”, e em que houve a mais explosiva mistura entre o público e o privado.

O Consórcio Norte Energia S.A., ao vencer o leilão de forma polêmica, vem provocando naquele estado, além de um processo acelerado de sérios danos ambientais, capaz de pôr em risco o futuro do planeta, um verdadeiro etnocídio, com a destruição da cultura milenar de povos indígenas que sempre viveram em função do Rio Xingu. Estranhamente, as repercussões da obra têm suscitado mais debates  no exterior do que internamente.

O fato é que todo o planeta acompanha com apreensão a construção de Belo Monte e a possibilidade da repetição dessa catástrofe, com a possível construção da hidrelétrica no Rio Tapajós. Neste “mundo em que tudo é possível”, os brasileiros se comportam com indiferença em relação à morte cultural dos indígenas, da mesma forma que a sociedade alemã reagiu ao genocídio judeu.

A sustentação de Belo Monte, diz, não é no direito, mas no fato consumado. Para conseguir seu intento, a Norte Energia tem comprado o silêncio de muitos indígenas, alguns, inclusive, de recentes contatos, com quinquilharias, da mesma forma como agiu Cabral em 1500, dentro de uma estratégia assistencialista e elaborada, denominada Plano Emergencial. Dessa forma. distribui bola de futebol, gasolina, dinheiro, bebidas alcoólicas, refrigerantes e outros artigos do homem branco, destruindo e desestruturando paulatinamente aqueles povos em nome de um progresso incerto e que só tem beneficiados políticos e empreendedores de porte.

A descrição que Thais Santi faz da aldeia dos Arara é chocante. “Era como se fosse um pós-guerra, um holocausto. Os índios não se mexiam. Ficavam parados, esperando, querendo bolacha, pedindo comida, pedindo para construir as casas. Não existia mais medicina tradicional. Eles ficavam pedindo. E eles não conversavam mais entre si, não se reuniam. O único momento em que eles se reuniam era à noite para assistir à novela numa tevê de plasma. Então, foi brutal. E o lixo na aldeia, a quantidade de lixo era impressionante. Era cabeça de boneca, carrinho de brinquedo jogado, pacote de bolacha, garrafa Pet de refrigerante.”

Como consequência dessa obra gigantesca, aumentaram os casos de doenças, como diabetes, hipertensão e alcoolismo, dando início a conflitos de índio contra outro, de tribo contra tribo, provocando um caos na região. Não é sem motivos que muita gente pelo mundo afora tem repetido que os brasileiros não têm condições para cuidar do patrimônio da Amazônia. Com a globalização e a comunicação em tempo real, não há máscara que permaneça por muito tempo.

» A frase que não foi pronunciada

“Trabalhar não compensa!”

Faixa dos trabalhadores que trabalham nas obras da Papuda

Parceria

» Ana Regina Caminha Braga escreve brilhante texto sobre a responsabilidade docente no acolhimento ao portador de alguma deficiência física. Há que se alertar para a sobrecarga dos professores. A contrapartida é necessária. Pelo nível de dependência do aluno, um auxiliar da confiança da família seria importante.

Jurisprudência

» É fato. Em Tribunal do Rio Grande do Sul houve indenização à família porque morte por embriaguez ao volante não exclui indenização de seguro de vida.

Terror

» Casos de família nos quais o crack é assunto sempre há desespero. É o caso de Solange, de São Paulo, que acorrentou a filha em casa para que ela não fosse à boca de fumo. Isso mostra o extremo da agonia. O crack transforma as pessoas em monstros. Solange queria a filha de volta. Julgar é fácil. Difícil é fazer justiça.

Que será

» Valeria uma enquete nas cidades brasileiras com a pergunta. “O governo deve investir mais em festas como carnaval e Paradas Gays ou em saúde e educação? O povo surpreende.

E lágrimas

» Magela transpirava poder à frente da Codhab. Com a condenação do TRT, o suor volta para se defender dos empregados que diziam ser obrigados a fazer campanha política para o PT nas eleições de 2014. Um trabalhador buscou os tribunais e os outros foram pelo mesmo caminho.

» História de Brasília

O governador Leonel Brizola, que teve sua bagagem queimada no incêndio do avião que o transportou, não se apertou muito: o seu manequim era o mesmo do presidente da República, e a solução foi vestir roupas do sr. João Goulart. (Publicada em 29/9/1961)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: Política Brasil Brasília ari cunha MAMFIL circecunha

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