Assédio moral no trabalho e o perigo do silêncio

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Desde 1960

com Circe Cunha e MAMFIL

colunadoaricunha@gmail.com

Em reportagem de Talita de Souza publicada no caderno Trabalho e Formação Profissional, do Correio Braziliense, dados mostram que 52% dos trabalhadores brasileiros sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho, a maioria dos quais, 47,3%, foi claramente alvo de assédio moral. A falta de conhecimento da origem do assédio moral faz que até juízes interpretem dano moral como assédio moral. Todo assédio moral traz em si o dano moral, mas nem todo dano moral é assédio moral.

Algumas características facilitam a identificação do assédio moral. Separar o alvo, isolá-lo. Outra palavra que resume bem é que esse tipo de crime é insidioso. Tão insidioso que a própria vítima passa a ter dúvidas sobre si. É ataque ao direito de personalidade.

Quem primeiro percebeu o assédio moral foi o sueco Heinz Leymann. Ele comparou a angústia do trabalhador assediado a um leão cercado de hienas. Deu o nome a esse quadro de mobbing, ou terror psicológico. Esse termo foi cunhado por Leymann quando comparava a situação da selva com o ambiente de trabalho em uma indústria automobilística. Fez extensa pesquisa sobre o clima organizacional.

Lançado na França pelas Éditions La Découverte et Syros em 1998 sob o título original — Le harcèlement moral, o livro da psiquiatra e psicanalista Marie-France Hirigoyen imediatamente viria a se constituir farol de referência na abordagem e identificação de um dos aspectos mais tenebrosos do caráter humano, lançando luz pioneira sobre o comportamento patológico do assediador, seu modus operandi, bem como a desmontagem paulatina da psiquê da vítima, que é eviscerada psicologicamente diante de todos.

Hirigoyen demonstra que o ato de assediar moralmente o outro se prende de tal forma ao contexto sociocultural de nosso tempo que acaba por nos conduzir a determinado tipo de cegueira e insensibilidade que nos transforma, num átimo, de insensíveis e indiferentes a complacentes dessa brutalidade, ao mesmo tempo sofisticada e primitiva, que se desenrola silenciosamente bem diante de nossos olhos.

Pela frequência com que ocorre, o ato de destruição psicológica nos mais diversos tipos de relacionamentos humanos, em todos os lugares e em todos os tempos, requer, segundo a pesquisadora, que se adotem, o quanto antes e de forma clara e definitiva, as terminologias “agressor” e “agredida”, de modo que fiquem explícitas para todos que lidam com o assunto que se trata de um tipo específico de violência que, embora escamoteada, busca, em última análise, a destruição moral e total da presa.

Hirigoyen salienta em sua obra que, em muitos casos, é tamanha a intensidade e as táticas empregadas pelo agressor que, não raro, a parte agredida se vê incapaz de reagir a contento, o que, em muitos casos, acaba por resultar em sérias enfermidades físicas e mentais, nos mais variados graus, podendo, em casos extremos e não raros, induzir a presa a atentar contra a própria vida como única forma de se ver livre desse labirinto de opressão sufocante e paralisante.

A maior parte dos assediados é vítima de piadas, ironias, chacotas, agressões verbais ou gritos constantes. Ou a humilhação pode ser sorrateira. Expondo a vítima e tirando-lhe a oportunidade de defender-se. Grande parte dos assediados afirmam que a amarga experiência de ser exposto a ofensas e humilhações acabou por provocar dificuldades de todo tipo na carreira. O pior é que, segundo a pesquisa realizada, 87% das pessoas atingidas na alma simplesmente não denunciaram a agressão por medo de perder o emprego. O restante desses profissionais não fizeram queixas por causas que vão desde o medo de represálias, vergonha, temor de ser culpado pela questão até por inexplicável sentimento de culpa.

Especialistas são unânimes em considerar que o assédio moral causa consequências psicológicas graves, sendo que, em alguns casos, a pessoa tem que se afastar do serviço  porque já não consegue mais exercer as funções. A própria família também é atingida.

Para Fernanda Duarte, pesquisadora do Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da UnB, a violência faz a vítima ficar retraída, insegura e desconfortável no ambiente corporativo. Até mesmo aqueles que presenciam o assédio sofrem consequências equivalentes por não poderem denunciar.

Em muitos casos, até a empresa pode sofrer prejuízos por deixar de contar com um funcionário competente que foi perseguido diuturnamente e de forma cruel pelos chefes imediatos. Essa situação não é nova e vem ocorrendo, desde sempre, em muitas organizações públicas e privadas espalhadas pelo país afora. De forma silenciosa, vem fazendo uma legião de vítimas mudas.

Com a possibilidade agora de aprovação do Projeto de Lei nº 4.742/2001, transformando o assédio moral no trabalho em crime, a penalidade que era de três meses a um ano é aumentada de um a dois anos de prisão, com a punição não da empresa, como era feito, e de onde, não raro, o agressor saía livre, mas do próprio assediador, que passa agora a responder pelo crime de forma direta.

Trata-se de avanço que poderá modernizar as relações de trabalho, substituindo o arcaísmo em que muitos chefes agem mais como feitores ou capatazes do patrão do que como profissionais qualificados e humanos.

A frase que foi pronunciada

“O sofrimento do assédio moral passa. Mas a cicatriz fica.”

Depoimento de um assediado

História de Brasília

Outra coisa: no dia da inauguração, as salas estavam cheias de brinquedinhos de pelúcia. Assim que dona Maria Nilse e dona Eloá saíram, veio um automóvel e recolheu todos os bonequinhos que decoravam as salas. (Publicada em 30/9/1961)

Circe Cunha

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Circe Cunha

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