Aos que conheceram o câncer

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem: grupooncoclinicas.com

       Deixando de lado as possíveis interpretações psicanalistas, físicas e mesmo pessoais que a perda da visão possa a vir a acarretar para um indivíduo, o fato é que muitos de nós, que tivemos a sorte duvidosa de caminhar para a velhice, vamos deixando pedaços do nosso corpo ao longo da estrada. Assim, vão ficando pelo caminho vesículas, parte dos rins, do fígado, dedos, pernas, crianças abortadas e outras partes de nossa carne. Como repetia o filósofo de Mondubim: a velhice é um naufrágio lento. Presos a esses estigmas, esquecemos do principal.

Ao longo da vida, deixamos escapar o viço da juventude. Matamos lentamente a criança dentro de nós e, aos poucos, vamos nos transformando naquilo que já não reconhecemos ser e que nos faz fugir de frente dos espelhos. Nesse sentido, somos todos iguais. Perdemos nossa carne, nossos amigos e parentes. Todos deixados para trás, enterrados na poeira do esquecimento. Talvez, por isso, vamos nos apegamos a abstrações como a espiritualidade, ao poder da oração, ao fortalecimento da alma. Não como fuga ou último recurso, mas com a esperança de que é nesse ponto incerto que estão guardados nossos sonhos e tudo aquilo que é imutável e indestrutível pelo mundo.

 Para quem não teve a felicidade de manter presos à íris os sonhos de criança, todo o mundo é um enfado sem fim. Para os que aprenderam a fechar os olhos para fora e abri-los para dentro, a vida segue como no primeiro dia, cheio de cores e sons.

Também não nos foi ensinado a diferença em olhar e ver. Por isso, passamos a vida vendo coisas sem jamais enxergá-las de fato. Passamos milhares de vezes pela mesma rua e sempre parece haver algo novo que não foi notado antes. Esquecemos também o que vemos no dia a dia. Qual foi a primeira coisa que você viu ao acordar hoje? E ontem? Vemos demais e enxergamos muito pouco. Enxergar é sentir com o olhar. É tatear com a visão. Diferentemente de alguns povos do Oriente, não aprendemos a explorar o terceiro olho, ou agya chakra, ligado à glândula pineal, à intuição e à espiritualidade. Seguimos, ao longo da vida, movendo-nos mais pelo instinto, como faz a maioria dos animais, do que pela intuição e pelo sexto sentido. De um certo modo, somos todos meio cegos, quando não queremos enxergar certas realidades. Quando perguntamos aos outros que impressão lhe causou certo acontecimento: você viu o que eu vi? Costumamos perguntar de forma automática, surpresos com o acontecido. De outra forma, também dizemos: prefiro não ver isto.

Somente aqueles que experienciaram os maus augúrios anunciados pelo diagnóstico de um câncer podem imaginar o que essa sentença é capaz de provocar no íntimo de um ser. Dizer que o câncer é uma metáfora ajuda a entender o processo, como sendo algo ligado à vida e ao seu avesso. “Qualquer doença encarada como um mistério e temida de modo muito agudo será tida como moralmente, senão literalmente, contagiosa “, dizia a escritora Susan Sontag. Além do palavrório todo, que outros unguentos podemos oferecer a alguém acometido por essa enfermidade que não possa parecer demasiado piegas e sem sentido e até desprovido de sentimentos reais?

Talvez, o mais prático e, por certo, mais inacreditável é dizer que temos seu nome inscrito em nossas orações e que seguiremos com essa lembrança até que o Criador, mesmo que não creias, tome nota de seu nome e, em atendimento aos nossos pedidos, passe sua mão sobre seu rosto, restaurando, se não sua visão, a vontade e o ânimo pela vida, que é um direito que nos cabe até os últimos dias. Rogo ao Criador para que seus dias sejam de paz.

A frase que foi pronunciada:

“Câncer é aquela palavra terrível que todos tememos quando vamos ao médico para um exame físico, mas, naquele breve momento sombrio, ouvimos o mundo em que vivemos e as pessoas com quem o compartilhamos começam a iluminar coisas que não conhecíamos.”

BD Phillips

Volta à saga

Via Crucis tirar novo RG de criança ou adulto. Quando se consegue marcar no Paranoá e Valparaiso, é bom dar-se por satisfeito. Isso acontece na capital do país.

Arte: pefoce.ce.gov

Repensar

Cada vez menos notícias úteis em jornais televisivos. É tanta violência que a audiência desliga a TV com uma angústia pulsando no peito. Cenas que antes eram terminantemente proibidas, agora são exibidas no horário em que crianças assistem. Entre uma garfada de frango, uma mulher é jogada no asfalto e o carro passa por cima. Vem a salada e outra mulher leva 5 tiros disparados pelo marido, a queima roupa. Impossível!

Charge do Cazo

História de Brasília

O cine Brasília vai de mal a pior. Sábado, na apresentação do filme, começou pela última parte, o que provocou revolta e vaias da plateia. (Publicada em 20.03.1962)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: #AriCunha #Brasília #Câncer #CirceCunha #HistóriadeBrasília #Mamfil #TerceiraIdade #Velhice saúde

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