Estudo global, que mapeou 189 países, constatou que várias cidades brasileiras — Brasília entre elas — correm o risco de ficar sem água no futuro. Relatório do World Resources Institute (WRI), que será divulgado nesta terça-feira (6/8) em nível mundial, mostra que, apesar de o Brasil estar em uma situação confortável no ranking, algumas de suas principais cidades já aparecem no mapa de alerta: Fortaleza, Recife, Petrolina (RE) e Juazeiro (BA) têm estresse hídrico extremamente alto, enquanto Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória estão na categoria de risco alto.
O biólogo e economista do WRI Brasil Rafael Barbieri explicou que estresse hídrico significa que a disponibilidade de água de determinada região não atende à demanda, enquanto o risco é a probabilidade disso ocorrer. “Quando se olha globalmente, o maior risco é concentrado na África, em regiões desérticas, cujas condições naturais são de pouca água, muita população e histórico de ocupação muito antigo”, afirmou.
Barbieri ressaltou, contudo, que, embora o Brasil tenha bastante água, a distribuição do recurso é muito desigual. “Nos locais onde há modificação muito drástica da cobertura vegetal, concentração de população e da produção industrial e agrícola, que são grandes demandadores do recurso, o risco de ficar sem água é alto ou extremamente alto”, destacou.
Brasília, segundo o especialista, foi projetada para 500 mil a 600 mil habitantes. Hoje, a região metropolitana da capital federal abriga mais de 3 milhões de pessoas, com demanda por água grande e crescente. “Além disso, o cerrado tem uma sazonalidade bem definida, com secas que podem se prolongar, e uma das maiores concentrações de irrigação”, detalhou.
Para enfrentar o problema, que atinge de forma ainda mais drástica cidades do Nordeste, mas também grandes capitais, onde a demanda é maior do que a oferta dos recursos hídricos, é preciso planejamento, destacou Barbieri. “Fortaleza e Recife estão no semiárido, onde o sistema de captação é naturalmente frágil. Brasília e São Paulo sofrem com sazonalidade climática e demanda crescente. No Rio de Janeiro, o problema são as inundações”, enumerou. “Por isso, é necessário entender todos os processos naturais e previsíveis para estabelecer um plano de longo prazo para evitar crises”, ressaltou.
O WRI alerta para as consequências do estresse hídrico, como a insegurança alimentar, conflitos, migração e instabilidade financeira. “A boa notícia é que já temos tecnologias para reduzir ou reverter o problema. No caso do Brasil, nossos estudos mostram que investir em infraestrutura natural, na restauração florestal para oferta de serviços ambientais, melhora a qualidade da água que chega aos reservatórios, o que pode facilitar a capacidade dos governos de se prepararem para as crises”, assinalou Rachel Biderman, diretora-executiva do WRI Brasil.
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