Novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado nesta quinta-feira (8/7), aponta a necessidade de limitar o aquecimento do Planeta Terra em até 1,5 graus celsius (°C) sob pena de provocar redução nas safras de alimentos. Como o Brasil é um país agroexportador e as commodities são a base da produção agrícola, ignorar dados científicos sobre desmatamento, como ocorre por parte do governo, pode ser devastador para a economia.
O documento do IPCC, realizado por cerca de 100 especialistas de 52 nações, a maioria países em desenvolvimento, apresenta cenários sobre como o uso da terra contribui para o aquecimento global e como a Amazônia tem papel de destaque para capturar o dióxido de carbono (CO2), um dos gases de efeito estufa (GEE). A partir de uma série de estudos científicos que comprovam que a temperatura do planeta está em elevação, o relatório aborda desmatamento, segurança alimentar, degradação do solo e desertificação.
Rachel Biderman, diretora executiva do World Resources Institute (WRI Brasil), explica que o estudo foi feito por cientistas renomados, num momento crítico em que a ciência é questionada pelo governo brasileiro. “É um alerta sobre o que pode atingir a base da nossa economia, já que o Brasil exporta commodities e depende de seus recursos naturais para produzir alimentos”, diz.
Segundo ela, o estudo recomenda novas práticas agrícolas sustentáveis, que já são feitas no país, mas que deveriam se tornar regra. “Em um momento em que se questiona dados da ciência, o governo está negando fatos que podem prejudicar nossa economia e colocar em risco a produção do país”, destaca. Rachel refere-se à negação do governo de dados alarmantes sobre desmatamento revelados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), considerado referência mundial e cujo diretor, Ricardo Galvão, foi exonerado, conforme publicação no Diário Oficial da União de quarta-feira (7/8).
O relatório do IPCC alerta que, no Brasil, o aquecimento pode reduzir as safras de milho em 5,5% a cada grau celsius de aquecimento. Nos Estados Unidos, esse percentual pode chegar a 10,3%. As mudanças do uso do solo representam 22% das emissões dos GEE, com aumento de mais de 40% dessas emissões desde 1950, segundo o IPCC.
“Se o desmatamento na Amazônia atingir 40% da floresta, chega-se a um ponto irreversível tanto para barrar o aquecimento global quanto para a sobrevivência do ciclo da floresta como é hoje”, diz o estudo. O documento alerta para a necessidade de uma diversificação da dieta para reduzir as emissões. Até 2050 serão 10 bilhões de pessoas no mundo, um cenário preocupante para conciliar produção de alimentos e energia.
Ao avaliar os impactos da desertificação e da escassez de água, o relatório aponta que 8% das terras no Brasil já sofrem alguma forma de degradação relacionada. Na Caatinga, a estimativa é de 50% da área. Sem mudanças drásticas, o aumento médio da temperatura global em 1,5°C deve ser superado entre 2030 e 2052. Entre as alterações necessárias, estão a forma de consumo de energia, do planejamento urbano e territorial e da alimentação.
Atualmente, a meta estipulada pelo Acordo de Paris é a de não ultrapassar o aquecimento em 2°C. Porém, o relatório do IPCC mostra que se isso ocorrer as terras férteis se transformarão em desertos, as infraestruturas vão se desmoronar com o degelo das calotas polares e a seca e os fenômenos meteorológicos extremos colocarão em risco o sistema alimentar. O quadro só pode ser evitado com sistemas sustentáveis.
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