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Cristiana Oliveira é um dos destaques de Topíssima como a fútil Lara. Leia entrevista com ela!

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Marcada pelo personagem Juma, de Pantanal, Cristiana Oliveira diversifica a carreira apostando na Lara de Topíssima, uma personagem mais leve do que a série de mulheres dramáticas que ela vinha interpretando na TV. Confira entrevista com a atriz!

Há quase 30 anos, Cristiana Oliveira se transformava em onça na pele de Juma Marruá, protagonista de Pantanal, novela da extinta TV Manchete que, em 1990 tirou o sono (e a audiência) da Globo. Hoje em dia a onça está presente no animal print que faz parte do figurino de Lara Alencar, ex-atriz de sucesso e perua fútil a quem Cristiana dá vida, com muito brilho, em Topíssima, novela da Record.

A garra e a beleza representadas pela onça também permeiam a vida e a carreira de Cristiana. Além da novela, a atriz tem cinco filmes para estrear (Eu sou brasileiro, de Alessandro Barros; Borderline, de Cibele Amaral; O corpo é meu, de Teresa Jessouron; Uma carta para Ferdinand, de Fabio Cabral; e Os suburbanos, de Luciano Sabino) e não vê a hora de voltar a rodar o país com palestras em que leva autoestima a mulheres. Cristiana fala a elas com a experiência de quem sofreu com depressão e com a pressão de estar sempre bela e dentro dos padrões, além de ter passado por tragédias pessoais.

“Minha participação no universo feminino é muito ativa, sempre procurei ajudar as pessoas que precisassem de mim e, como tenho um histórico de baixa autoestima e equilíbrio emocional e físico que me permitem falar sobre o assunto que é uma coisa que eu já passei há anos, e eu adoro poder falar com o público”, afirma, em entrevista ao Próximo Capítulo.

Nesta mesma entrevista, que você lê a seguir, Cristiana fala sobre envelhecer na sociedade machista em que vivemos, Topíssima e revela quem ela gostaria de ver como Juma Marruá num remake de Pantanal. Confira!

Leia a entrevista com Cristiana Oliveira

Atriz Cristiana Oliveira
Foto: Edu Rodrigues/Divulgação. Cristiana Oliveira: “Existem várias Laras no mundo”

A Lara, de Topíssima, fala algumas maldades, mas tem muito humor. Você a considera uma vilã?
Talvez não seja uma vilã como o personagem do Floriano Peixoto (Paulo Roberto). Ela não engana, não manda matar. Ela tem uma personalidade distinta daquilo que eu estou acostumada, mas ao mesmo tempo eu sei que existem várias Laras no mundo. Lara é preconceituosa, tem uma vaidade excessiva que chega a beirar o ridículo, é uma mulher que vive fora da realidade, tudo para ela é dinheiro, aparência. Ela tem uma personalidade bastante questionável, que não tem muito as atitudes nobres e os sentimentos nobres. Ela não conhece a realidade, ela acredita que as coisas devem acontecer exatamente como ela quer, na hora que ela quer. Eu, Cristiana, não gostaria de conviver com ela. (risos)

A Lara é uma mulher que tem problemas com a idade. Nem permite que a filha, Sophia, a chame de “mãe”…
A Lara foi uma atriz de grande sucesso quando jovem, fez muitas novelas, filmes, teatro, ela é uma apaixonada pela arte da interpretação. Depois de um tempo, ela passou a não ser tão escalada, tão valorizada, e isso faz dela uma pessoa muito fútil porque ela acredita que a juventude manteria ela no status que ela possuía quando jovem. Ela tem 60 anos e quer aparentar ser mais jovem. Ela não quer ser chamada de senhora, de mãe, dona. Então as pessoas pensam que ela deve ter muito mais idade do que aparenta, acaba acontecendo uma incoerência nessa atitude dela. A Lara tem isso de querer que a filha dela seja uma continuidade dela, então ela se projeta na filha, e como a Sophia tem uma outra personalidade, fica indignada com ela.

Como você lida com a idade?
Eu lido com a idade de forma madura, valorizo muito a minha história. Se eu olhar para trás eu fui uma mulher que viveu intensamente, errou, acertou, sofreu, teve momentos felizes. Então não tenho esse problema. Acredito que a nossa cobrança seja uma questão mais externa, principalmente em atrizes e mulheres em geral. Parece que os espectadores não aceitam que a gente envelheça, principalmente quem já foi musa, quando fomos muito enaltecidos por causa da beleza (coisa que eu passei). Não é uma coisa que me atinge tanto, eu não quero aparentar ser mais jovem, apenas mais feliz. E eu sou muito feliz, tenho uma família linda, duas filhas, neto, marido, o trabalho que eu gosto. Mas eu também me cuido e gosto de me cuidar, tenho uma vaidade equilibrada.

Você interpretou várias mocinhas em sua carreira. Como está sendo viver a mãe de uma delas?
Olha, eu estou mesmo na idade de ser mãe das mocinhas ou não mocinhas (risos). É muito bacana, minha troca com a Camila (Rodrigues, a Sophia na novela) é incrível, a gente se dá muito bem dentro e fora de cena. Daqui a pouco eu vou estar interpretando as vovós e é muito legal acompanhar essa evolução. Pretendo continuar na ativa até meus 90 anos, como a Bibi Ferreira fez.

Topíssima tem um elenco jovem, com poucos trabalhos na televisão. Como é a troca entre você e os atores iniciantes ou mais jovens?
Adoro trabalhar com gente jovem! Já tive essa experiência 14 anos atrás, em Malhação, e foi muito bacana porque são pessoas que querem crescer, aprender, sugar de você o máximo do que a gente sabe. Eu sempre fui e sempre vou ser uma atriz muito generosa, eles me respeitam muito. Eu acabo tratando eles como filhos ou sobrinhos. Está sendo uma experiência muito incrível trabalhar com tanta gente talentosa e cheia de vida.

Sua carreira tem personagens pesados, mas também tem leveza, como acontece com a Lara. Você tem alguma preferência?
Eu venho em uma batida em que fiquei com muitas personagens vilãs ou com personalidades muito distintas da minha. Desde 2012 tenho interpretado na televisão pessoas com um cunho mais maldoso, ao contrário do cinema que eu tenho interpretado personagens bem leves e bonitos, bem diferentes do que eu já tinha feito. Eu sou atriz, quando o personagem é interessante o trabalho fica mais gostoso. Agora, colocar humor na Lara que tem uma personalidade mais engraçada, fora da casinha, dá uma leveza muito bacana. Quando é um personagem muito pesado, como eu fiz em Terra prometida, chega uma hora que pesa também, apesar de eu não levar a personagem para casa.

Você está na Record desde 2016. Sente alguma diferença entre as emissoras?
Eu fiquei na Record em 2016 e voltei em 2019. Fiquei 3 anos fazendo cinema e teatro. É muito bom trabalhar com a equipe de lá, somos muito unidos. Em Terra prometida também foi a mesma experiência. As duas vezes que eu estive na Record foi muito bom. Mas eu fiquei 22 anos na Globo e tive experiências também muito bacanas lá. Como eu dou muito valor ao que estou vivendo agora, estou muito feliz com a equipe, existe uma relação de valorização muito grande entre as pessoas.

Logo no início da carreira você estourou como a Juma de Pantanal. Você guarda boas lembranças desse papel?
Com certeza! Ela vai ser eterna, personagem linda que está na história da teledramaturgia brasileira. Eu tenho muito orgulho de ter feito a Juma, ela me eternizou. E eu guardo lembranças muito gostosas daquele período, foi minha segunda experiência na TV com uma equipe muito bacana, tendo a oportunidade de gravar em uma das maiores riquezas naturais do nosso país. Sempre fui muito urbana e tive a possibilidade de ficar bastante tempo no mato, é uma coisa que eu carrego pro resto da minha vida.

Até hoje ainda te identificam com a personagem?
Sim, claro! Marquei a vida de muita gente que assistiu na época. As pessoas sempre se lembram muito emocionadas da Juma, que vai fazer 30 anos ano que vem. Essa personagem me trouxe muitas coisas boas na vida. Me chamam de Juma até hoje e eu não ligo. Já acoplei ao meu nome.

Vira e mexe alguma emissora fala em fazer um remake de Pantanal. Quem seria uma boa Juma hoje? Você teria ciúmes da personagem?
As pessoas falam isso, mas eu não sei. Acredito que seria legal alguém que não seja conhecida, um novo talento. Uma menina que tenha leveza, espontaneidade, o ineditismo, como foi o meu caso. Não sei se teria ciúmes do personagem, só vendo mesmo, mas acho que não. Tantos remakes lindos foram feitos de grandes obras da televisão e acho que Pantanal merece um remake. Torço para que dê certo como foi na primeira vez.

Atriz Cristiana Oliveira na novela Pantanal
Foto: Arquivo/Bloch. Juma foi o primeiro personagem marcante da carreira de Cristiana Oliveira

Tanto Pantanal como Amazônia foram trabalhos que você fez com grande ligação com a ecologia. Você é uma pessoa engajada nas causas ambientais? De que maneira?
Eu não sou engajada mas sou uma pessoa que dá muito valor a isso. No meu dia a dia, na hora de preservar e reciclar. Várias coisas que a gente sabe que acontece e vê até hoje áreas sendo desmatadas. São riquezas nossas, do povo brasileiro que impacta mundialmente. Mas não existe um engajamento meu como é feito pelo Victor Fasano, da Christiane Torloni.

Sua imagem sempre foi muito ligada ao rótulo de sex symbol. Sentiu-se pressionada por isso em algum momento de sua vida.
Existe essa cobrança de eterna juventude, de a gente sempre corresponder a uma imagem que não existe, que é uma coisa surreal. Me incomoda um pouco isso porque eu acho que a gente tem que envelhecer com naturalidade. Existe esse exagero da mídia e da sociedade de juventude eterna, da magreza. E isso mexe com a nossa cabeça. Na televisão a gente sofre essa pressão muito mais do que uma mulher que não vai ter sua imagem exposta como eu tenho. Até hoje eu, com 55 anos, me sinto pressionada, mas nada que vá mudar minha maneira de ser. Existem pessoas que eu realmente admiro e que pra mim são mulheres exemplares como a Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg, Laura Cardoso, Bibi Ferreira. Mulheres que, para mim representam conteúdo, grandes atrizes que se desenvolveram e cresceram como as damas da dramaturgia brasileira.

Você tem vários filmes para estrear. O cinema descobriu a Cristiane recentemente ou o processo se deu ao contrário?
Minha experiência foi muito intensa, gravei 5 filmes em dois anos. Todos foram muito legais, foi uma vivência muito bacana trabalhar com cinema.

O que você pode contar sobre seus personagens em Eu sou brasileiro, de Alessandro Barros; Borderline, de Cibele Amaral; O corpo é meu, de Teresa Jessouron; Uma carta para Ferdinand, de Fabio Cabral e Os suburbanos?
O corpo é meu é um filme que acabou deixando de lado a parte dramatúrgica e virou um documentário. Mesmo assim eu tive essa experiência e foi muito bacana viver dentro desse universo, dessa abordagem sobre a mulher brasileira nos primórdios. Boderline foi maravilhoso, fiz uma professora de psicologia, lidei com internos de clinicas que tratam da doença, teve toda uma seriedade para abordar esse assunto. O filme Eu sou brasileiro foi uma pegada completamente diferente, uma mulher mais velha que não tem vaidade nenhuma, é viúva e se dedica totalmente ao filho dela, eu estava com 10kg acima do peso, deixei meus cabelos brancos aparecerem. Foi um crescimento muito grande pra mim, um personagem muito legal de ser feito. Cartas para Ferdinand é um filme de abordagem regional, adaptado para comédia. Eu fiz a Mila que realmente existiu, uma história de amor platônico. E Suburbanos é do Rodrigo, meu amigo pessoal, sempre admirei muito ele como comediante e ator, conheço desde que ele ainda não era conhecido na mídia, então ele me chamou para fazer a Lorena que se parece um pouco com a Lara.

Além de atriz você roda o país em palestras sobre empoderamento e superação. Como sua experiência pode ajudar as outras pessoas? Você se sente realizada com o retorno que recebe do público desses encontros?
Eu agora estou parada por causa das gravações da novela. Eu tenho esse meu lado empresária, sou sócia de uma empresa de cosméticos, estou com minha própria marca que se chama C.O Cosméticos e sou sócia de uma marca para profissionais que são produtos de tratamento capilar. Esse meu lado é uma coisa que toma muito meu tempo. Então não estou dando muitas palestras. Mas é uma coisa que eu não descarto de forma alguma. Minha participação no universo feminino é muito ativa, sempre procurei ajudar as pessoas que precisassem de mim e, como tenho um histórico de baixa autoestima e equilíbrio emocional e físico que me permitem falar sobre o assunto que é uma coisa que eu já passei há anos, e eu adoro poder falar com o público, mais precisamente com as mulher e ver que ainda infelizmente existe uma quantidade muito grande de mulheres que são oprimidas e acabam ficando muito inseguras. Falar com elas o quanto elas têm importância no mundo e para elas mesmas é muito satisfatório e prazeroso para mim.