Volume de serviços recua 0,9% em agosto, dado pior do que o esperado

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ROSANA HESSEL

Apesar das revisões para cima do Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê o Brasil voltando para o grupo das 10 maiores economias do planeta, o volume de serviços no Brasil recuou 0,9% em agosto, desacelerando na comparação a julho, quando cresceu 0,4% frente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira (17/10). O resultado de agosto na comparação mensal da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) ficou abaixo das expectativas do mercado e deixou um sinal de alerta sobre a fragilidade da recuperação da atividade econômica do país.

O setor de serviços é o que mais emprega e tem um peso em torno de 70% no Produto Interno Bruto (PIB). Conforme os dados do IBGE, dentre os setores pesquisados, quatro das cinco principais atividades recuaram frente ao nível do trimestre terminado em julho: transportes (-0,7%); outros serviços (-0,6%); serviços prestados às famílias (-0,3%); e informação e comunicação (-0,2%), ao passo que os profissionais, administrativos e complementares (0,8%) assinalaram a única expansão. Na comparação com agosto de 2022, a alta foi de 0,9%, também abaixo das estimativas do mercado, que giravam em torno de 2,8%, e da alta de julho na mesma base de comparação, de 3,6%.

O economista da CM Capital, Matheus Pizzani, lembrou que a mediana das estimativas do mercado estava em 0,4% para a PMS de agosto. Segundo ele, esse desempenho pior do que o esperado teve a contribuição da queda de quatro dos cinco principais grupos que compõem o indicador, com destaque para os serviços prestados às famílias (-3,8%), impactado pelo forte recuo do subgrupo de alojamento e alimentação (-3,5%). “O movimento pode ser explicado pela correção do crescimento apresentado pelo grupo nos meses anteriores, bem como a ausência de fatores sazonais que favoreçam sua performance, como os feriados, que tendem a dinamizar o desempenho do grupo e ajudaram a impulsionar os resultados dos meses anteriores”, explicou.

O analista lembrou que esse último ponto ajuda a explicar também a retração de 2,1% sofrida pelo grupo de transportes, armazenagem e correio, influenciado negativamente pela queda de todos os seus componentes, com destaque para os subgrupos de transporte terrestre (-0,9%), armazenagem e serviços auxiliares (-5,5%) e transporte aquaviário (-1,3%), sendo que este último não conseguiu esboçar crescimento nem mesmo com a ajuda do dinamismo do setor externo.

“Tendo em vista a correlação existente entre o setor de transportes e a atividade econômica do país como um todo, a expectativa para o desempenho da economia do país para o mês de agosto não é positiva. Em linhas gerais, apesar de ter surpreendido as projeções até o momento de sua divulgação, a PMS de agosto está mais alinhada ao que poderíamos esperar em termos macroeconômicos para o desempenho do setor de serviços em uma conjuntura marcada pelo nível de juros tão elevado”, explicou Pizzani. Segundo o analista, a sazonalidade positiva que marca o desempenho dos serviços no último trimestre do ano “traz uma perspectiva mais positiva para o resultado do setor em 2023”. Ele projeta alta de 3,5% no volume de serviços deste ano.

Marcos Caruso, economista-chefe do PicPay, esperava alta de 0,3% no volume de serviços em julho e lembrou que, dado o tamanho da surpresa negativa, “é preciso entender se estamos em um ponto de inflexão do setor de serviços ou se foram fatores temporários que ancoraram os números de agosto”. “Por ora, no nosso cenário atual, ainda vemos espaço para um bom desempenho no segundo semestre, sem grandes consequências nos preços, que já mostram uma dinâmica favorável. Para 2023, projetamos um avanço de 2,8% da PMS”, destacou.

Nível pré-pandemia

De acordo com dados do IBGE, na série com ajuste sazonal, após ter acumulado um ganho de 2,1% no período de maio a julho. O setor de serviços está 11,6% acima do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020 e 1,9% abaixo de dezembro de 2022, no auge da série histórica.

No índice acumulado no ano, frente a igual período de 2022, o setor de serviços apresentou expansão de 4,1%, com quatro das cinco atividades de divulgação apontando taxas positivas e crescimento 58,4% dos 166 tipos de serviços investigados.

Para o consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos, o setor de serviços “foi um dos que mais se beneficiaram com a pandemia no sentido que se intensificou o uso de tecnologia no setor e para além disso houve mudança do padrão de consumo da sociedade demandando mais serviços no período”. Na avaliação dele, a alta de 4,1% no acumulado do ano, “não é desprezível”, mas, para avançar mais, o setor precisaria de outros impulsos que ainda não se concretizaram como os efeitos defasados da queda da taxa de juros como um todo na economia. “A queda não necessariamente é um número ruim, mas serve de alerta de que falta ainda muito para a economia de fato deslanchar na esteira da elevação da massa salarial”, completou.

Entre os setores, a contribuição positiva mais importante ficou com o ramo de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (4,2%). Os demais avanços vieram de informação e comunicação (4,8%); de serviços profissionais, administrativos e complementares (4,5%); e de serviços prestados às famílias (4,7%). Em contrapartida, os outros serviços (-0,4%) exerceram a única influência negativa no acumulado no ano.

Desempenho nos estados

Conforme a pesquisa do IBGE, os serviços ainda recuaram em 19 das 27 unidades da federação em agosto, na comparação com o mês anterior.

Entre os locais com taxas negativas, o impacto mais importante veio de São Paulo (-1,2%), seguido por Minas Gerais (-1,8%) e Bahia (-2,8%). Em contrapartida, Mato Grosso do Sul (7,5%), Paraná (0,4%) e Rio de Janeiro (0,2%) exerceram as principais contribuições positivas do mês.

Frente a agosto de 2022, o avanço do volume de serviços no Brasil, de 0,9%, foi acompanhado por 23 das 27 unidades da federação. As principais contribuições positivas ficaram com Paraná (9,8%), Mato Grosso (26,3%) e Minas Gerais (6,1%). Em sentido oposto, São Paulo (-4,6%) assinalou o resultado negativo mais relevante do mês.

Vicente Nunes