O presidente Jair Bolsonaro inovou ao criar o mercado futuro de demissão de ministros. Ao anunciar que, na próxima segunda-feira, decidirá o futuro do comandante da pasta da Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, demitiu o subordinado antecipadamente, sem assinar a exoneração. Ao ser informado sobre as falas do chefe, Vélez disse que não entregaria o cargo. Bateu o pé, mas perdeu toda a autoridade para liderar um dos ministérios mais importantes do país. Diante desse quadro dantesco, é assustador ver como um setor estratégico está sendo tratado com tanto descaso.
Na verdade, Bolsonaro não deveria nem ter nomeado Vélez para a Educação. Além de não ter as credenciais que o cargo exige, ele se mostrou um péssimo gestor. Nos três meses em que está à frente da pasta, só conseguiu criar confusão. Tanto que quase duas dezenas de seus comandados já foram demitidos. Em meio à balburdia, nenhuma política educacional foi levada adiante. Está tudo parado. O Fies, programa de financiamento que permite a jovens carentes pagarem a universidade, se transformou em uma bomba. O Enem, porta de acesso ao ensino superior, está engolfado por denúncias de irregularidades.
Bolsonaro, depois de praticamente tirar Vélez do cargo, disse que o ministro tem conserto. Ele sabe que não é verdade. Se insistir no erro, o presidente condenará o Brasil ao atraso. Um país que precisa, urgentemente, dar saltos de produtividade, não pode ter um Ministério da Educação nas mãos de uma pessoa que não sabe o que está fazendo e, pior, tem uma visão totalmente equivocada da realidade, a ponto de querer mudar os livros didáticos para recontar a história da maneira que lhe é mais conveniente. Isso é um insulto ao bom senso.
Sem ideologia
Além de mandar Vélez para casa, Bolsonaro deveria fazer uma grande reestruturação no Ministério da Educação, eliminando os aspectos ideológicos e focando no que realmente é importante: a melhora do ensino no país. É inadmissível que o Brasil, uma das 10 maiores economias do planeta, tenha desempenho tão ruim nos exames que medem a capacidade de aprendizado dos estudantes. Os levantamentos apontam que os jovens brasileiros, em grande maioria, deixam as escolas sem compreender o básico de português — não conseguem interpretar um texto — e sem saber fórmulas simples de matemática.
Que futuro tem um país desse? Certamente, nenhum. O Brasil está condenado a ser uma nação de renda média por causa do desastre na economia nos últimos anos. Mas pode mudar essa triste previsão por meio de um sistema de educação de qualidade. A sensação que se tem é a de que as autoridades não querem preparar nossas crianças e jovens para um mundo novo que está se abrindo, em que a tecnologia dará as cartas. Prevalece a visão de que é mais fácil comandar um exército de ignorantes, uma massa de manobra incapaz de questionar o que está sendo imposto pelo Estado.
Que fique claro: o Ministério da Educação deve ser conduzido de forma técnica. Os interesses políticos devem passar bem longe dali. Uma equipe preparada não perde tempo fazendo o que o time de Vélez fez desde que Bolsonaro tomou posse. As políticas educacionais devem ser conduzidas por pessoas comprometidas com o país, não com grupos ideológicos. Se tiver a grandeza que todos esperam dele, Vélez deve dar adeus, até logo. Para o bem do Brasil.
Brasília, 10h12min