VIRANDO PÓ

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A incapacidade do governo de chegar ao tamanho do rombo fiscal em 2015 é impressionante e só comprova como a máquina federal se acostumou com as manobras, as maquiagens e as pedaladas para esconder a real situação das contas públicas. Sabe-se que o buraco é enorme e, se realmente for contabilizado por completo, pode ficar próximo de R$ 100 bilhões. Mas, independentemente do valor a ser divulgado e das justificativas que venham a ser dadas, o certo é que Dilma Rousseff conseguiu a façanha de quebrar um país que, quando lhe foi entregue, crescia a 7,6% ao ano.

A situação é desesperadora. Quanto mais o governo demorar para apresentar a realidade fiscal, mais a economia irá para o buraco. As previsões mais recentes para o Produto Interno Bruto (PIB) mostram um Brasil destroçado. Pelos cálculos do Bank of America Merrill Lynch, o país vai encolher 3,3% em 2015 e 3,5% em 2016. Em apenas dois anos, se o banco norte-americano estiver correto, o PIB brasileiro acumulará queda de quase 7%.

O Santander endossa esse quadro dramático e prevê tombo de 3,2% neste ano e de 2% no próximo. Cética quanto à capacidade do governo de fazer um ajuste fiscal, a instituição espanhola estima deficit primário de 1,5% em 2015 e de 1% no ano que vem. Com isso, a dívida bruta do país alcançará 68% neste ano e 75% em 2016. São previsões catastróficas, que refletem a desconfiança dos agentes econômicos em relação à capacidade de Dilma de pôr o Brasil nos eixos.

Mesmo dentro do governo, o pessimismo é grande. Acreditava-se que, com as mudanças feitas pela presidente nos ministérios e com o enfraquecimento do impeachment, Dilma conseguiria ganhar fôlego para destravar a agenda e criar fatos positivos, por mínimos que fossem. Ledo engano. A presidente se mostra cada vez mais despreparada para o cargo e seus comandados, mais preocupados em garantir suas boquinhas. Nem mesmo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, consegue se desvencilhar da camisa de força que engessou o governo e travou a economia.

Risco de aventuras

Nas ruas, a gritaria é geral. Para boa parte dos brasileiros, seria melhor que Dilma pedisse para sair. Mas ninguém sabe dizer o que ocorreria no país se a presidente, por exemplo, renunciasse. As opções que se colocam não agradam aos eleitores. Não há hoje um líder capaz de arregimentar as massas. Isso fica claro por meio da mais recente pesquisa do Ibope. A despeito de a rejeição ao ex-presidente Lula, que está disposto a retornar ao Palácio do Planalto na eleição de 2018, ter atingindo 55%, nenhum dos nomes apresentados pelo instituto consegue atrair a atenção.

A falta de opção abre espaço para o surgimento de aventureiros, como foi Fernando Collor de Mello, em 1989, sustentado pelo lema “o caçador de marajás”. O que se viu foi um governo corrupto, que surrupiou a poupança dos brasileiros e provocou queda superior a 4% do PIB em apenas um ano. O Brasil não merece a repetição desse quadro. Já basta todo o estrago provocado por Dilma, que trouxe de volta a inflação, rodando nos 10%, e o desemprego.

Os desafios para o país são enormes. O ajuste fiscal é um problema de curto prazo. Se feito a contento, dará apenas um alívio temporário. Os anos de descaso com as reformas, em especial a tributária e a da Previdência Social, comprometeram o futuro. Além de a economia perder competitividade, abriu-se um fosso que tem tudo para tragar as finanças do país. Diante dessa realidade, será preciso muito mais do que discurso e promessas, receita que jogou a economia no atoleiro.

A Argentina, felizmente, pode nos servir de referência. Depois de ser destruída por anos de políticas populistas, sobretudo nos governos de Cristina Kirchner, parece disposta a se livrar dessa praga, com chance real de vitória do candidato de oposição, Maurício Macri, no segundo turno da eleição presidencial. Os argentinos estão sendo obrigados a conviver com inflação acima de 30% ao ano, restrições cambiais e falta de perspectivas. Ainda não chegamos a esse ponto. Mas, perante todo o descalabro a que assistimos diariamente, tudo é possível. Com diz a sabedoria popular, sempre pode piorar.

Receita de Meirelles

» Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, diz que, quando aceitou o convite de Dilma Rousseff, o ministro Joaquim Levy deveria ter exigido o que Henrique Meirelles impõe para sucedê-lo na Fazenda: nomear o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. “Certamente, Levy não estaria enfrentando tantos problemas”, diz.

À espera de Dilma

» O corpo diplomático está em polvorosa em Brasília. Pelo menos 15 embaixadores estão esperando a boa vontade da presidente Dilma para lhes conceder às credenciais de representantes oficiais de seus países no Brasil.

Brasília, 00h10min

Vicente Nunes