No domingo, Bolsonaro antecipou o anúncio da Petrobras como justificativa de que “não vai interferir” na política de preços da estatal. Contudo, esse tipo de vazamento de “informações privilegiadas” foi um claro sinal de que o presidente pode operar como quiser o mercado de ações e até favorecer os interlocutores mais próximos.
Nesta segunda-feira (25/10), a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) intensificou a alta no Índice Bovespa, apesar de abrir o pregão andando meio de lado, após a Petrobras anunciar aumento nos preços do diesel e da gasolina a partir de amanhã.
Por volta das 15h30, enquanto o IBovespa subia quase 2,5%, a 108,8 mil pontos, as ações da Petrobras subiam 4,71%, no caso das preferenciais (sem direito a voto), e 3,98%, no caso das ordinárias (sem direito a voto). “A desconfiança era que os preços seriam reprimidos na marra por Bolsonaro. Ao garantir que não ia impedir acabou tirando essa preocupação”, comentou um operador. “Agora, o desgaste do governo no mercado está cada vez maior”, acrescentou.
Vale lembrar que, nos Estados Unidos, o chamado “insider information”, ou tráfico de informações privilegiadas, como ocorreu no caso da Petrobras e o presidente da República, dá cadeia. Mas parece que a CVM pretende continuar fazendo vistas grossas nesse sentido, o que é muito ruim para quem investe na Bolsa e está amargando prejuízos. Procurado e questionado se vai investigar essa possibilidade de tráfico de influência na Petrobras, o órgão encaminhou uma resposta dizendo que “não comenta casos específicos”. “A CVM acompanha e analisa informações e movimentações no âmbito do mercado de capitais brasileiro, tomando medidas cabíveis, sempre que necessário. A Autarquia não comenta casos específicos”, informou a assessoria.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem uma reunião com o presidente da CVM, Marcelo Barbosa, nesta quarta-feira (25/10), e assessoria do ministério evitou comentar sobre esse assunto espinhoso. Apenas informou que a pauta da conversa trata apenas de “assuntos institucionais da CVM”.
Conforme dados da Economática, na semana passada, devido ao aumento da desconfiança no país por conta das declarações de Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes, decretando praticamente o fim do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação –, os investidores da B3 perderam R$ 350,57 bilhões e os acionistas da Petrobras foram os maiores prejudicados, pois o papel da estatal registrou desvalorização de R$ 30,37 bilhões.
Apesar de ter dito no início do governo de que não pretendia privatizar a estatal desde o início do governo, Bolsonaro, hoje, voltou falar sobre o assunto admitindo que a privatização da empresa “entrou no radar”. A informação, segundo analistas, também ajudou a elevar o valor do papel da estatal, que chegou a subir 7% após a fala do presidente.