Vacinação deverá determinar velocidade da retomada da economia

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ROSANA HESSEL

A corrida pela vacina contra a covid-19 deverá determinar a velocidade de retomada do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2021. A alta de 7,7% o PIB do terceiro trimestre foi puxada pelo setor de serviços e por investimentos, mas a continuidade e a velocidade do processo de recuperação no ano que vem dependem de como o país vai conseguir vacinar toda a população, de acordo com especialistas ouvidos pelo Blog.

O resultado do PIB do terceiro trimestre divulgado nesta nesta quinta-feira (03/12), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou abaixo da mediana das expectativas do mercado, de 8,8%. E analistas reforçam que a normalização do setor de serviços, que tem um peso importante no PIB, dependerá do avanço dos testes de vacina e de como isso vai ocorrer.  O Brasil pode não ficar entre os primeiros colocados se a vacinação da população não for em larga escala.

“A capacidade do governo conseguir fazer uma vacinação ampla será fundamental para determinar a velocidade do processo de retomada da economia”, alertou a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). “Em uma pandemia, não tem como ter certeza de recuperação sem a vacinação. Ela vai ditar o ritmo, dependendo de como isso vai acontecer”, reforçou.

De acordo com a analista, o ponto positivo dessa crise provocada pela pandemia é que o mundo conseguiu descobrir a vacina contra a covid-19 em tempo recorde. Contudo, o Brasil deverá iniciar o processo bem depois do que os países desenvolvidos.  “É muito bom que o mundo descobriu a vacina e que a Europa já tenha começado a vacinar a população, mas, no Brasil, ainda é preciso muito planejamento das autoridades para fazer uma campanha de vacinação organizada e com pessoas capacitadas. Vai ser muito desafiador”, alertou.

Pelas projeções do Ibre, o PIB do terceiro trimestre deveria crescer 7,4%, e, após os dados e a revisão do IBGE, o instituto mudou a estimativa de queda para este ano de 5% para 4,8% e passou de 3,5% para 3,6% a previsão de crescimento no ano que vem. “Houve uma melhora no efeito de carregamento estatístico do segundo semestre que deve impulsionar a economia em 2021 em 2%, mesmo se o PIB não apresentar crescimento”, explicou Silvia Matos.

“O ritmo de crescimento da economia em 2021 é incerto e vai depender muito da vacinação e se ela vai começar efetivamente no primeiro trimestre do ano que vem. Sem ela, dificilmente haverá uma recuperação no setor de serviços, que tem um peso importante na economia e no mercado de trabalho”, destacou o economista João Leal, da Rio Bravo Investimentos. Ele prevê avanço de 1,9% no PIB do quarto trimestre e manteve as projeções de alta de 3,2% no ano que vem.

O economista do Itaú Unibanco, Luka Barbosa, também reconhece que o ritmo da recuperação da economia deve depender do avanço da vacinação devido ao “repique” dos contágios neste fim de ano. “O setor de serviços só deve normalizar quando houver uma vacinação em larga escala”, afirmou ele, durante entrevista virtual a jornalistas sobre os dados do PIB.

O Itaú esperava alta de 9% no PIB do terceiro trimestre, mas, de acordo com Barbosa, os dados do PIB, diante das revisões realizadas pelo IBGE, o banco manteve as projeções de queda de 4,1%, neste ano, e de crescimento de 4%, em 2021, com uma taxa de carregamento estatístico de 2020 de 3,5% para o ano que vem. “A gente entende que tem duas vacinas que são importantes e aparentemente mostram avanços consideráveis. Mas a questão das vacinas que são importantes no país continua dependendo dos resultados de testes que devem sair nas próximas semanas. Nosso cenário considera uma vacinação que deixa as pessoas mais ou menos seguras”, afirmou, demonstrando otimismo com a recuperação.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da  PNP Paribas Asset, não vê um processo de retomada robusto da economia em 2021 e também reconhece que a vacinação será importante termômetro para esse processo. Ela lembrou que há várias travas para a retomada que ainda não estão totalmente resolvidas, como os problemas fiscais. Pelas estimativas dela, a formação de riqueza do país só deverá voltar ao patamar pré-crise no fim do ano que vem ou no começo de 2022.

“O setor de serviços foi impactado diretamente pela pandemia e, enquanto não tem uma vacinação ampla e um remédio específico, há muita incerteza no processo de retomada, porque isso vai afetar também o mercado de trabalho, que é uma trava para o crescimento. Nossa realidade e no mundo é que, enquanto não houver vacinação, o mercado informal vai continuar sofrendo e há uma massa grande do mercado de trabalho que vai procurar emprego com o fim do auxílio emergencial”, alertou a economista do BNP. “Se não houver uma solução para a covid, não vai ter emprego para esse setor”, afirma ela, que prevê a taxa de desemprego chegando a 16% no ano que vem.

Pelas projeções de Tatiana Pinheiro, o PIB de 2021 deverá crescer 3%, no máximo. “Antes da divulgação do PIB, a expectativa era de uma taxa de crescimento maior na ponta. Mas, com a revisão do histórico, a taxa de carregamento estatístico ficou menor, abaixo de 2%, considerando que o PIB do quarto trimestre deverá avançar 1%. Esse é o ponto”, explicou. Ela manteve as previsões de crescimento do PIB de 2021 em 3%, mas revisou de 5% para 4,8% a estimativa de retração em 2020.

As novas estimativas do IBGE apontam crescimento de 1,4% em 2019 em vez da alta de 1,1%. O instituto atualizou as quedas do PIB do primeiro e do segundo trimestres, para 1,5% e 9,6%.

Vicente Nunes