União Europeia aguarda Brasil para marcar reunião de cúpula

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CLÁUDIA DIANNI

A Comissão Europeia aguarda o governo brasileiro para marcar data para a realização do VIII Encontro de Cúpula Brasil-União Europeia (UE). Espera-se que o encontro bilateral, que ocorreu pela última vez em 2014, seja realizado ainda no primeiro semestre. O convite para retomar as reuniões bilaterais foi feito pela atual administração no início do ano passado, mas a nova comissária europeia, a alemã Ursula Von Der Leyen, que assumiu o posto em novembro de 2019, ainda aguarda contato da chancelaria brasileira para marcar o evento, que deve acontecer em Brasília.

De acordo com o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignácio Ybañez, a data do encontro bilateral Brasil-UE não está condicionado à divulgação do texto final do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, divulgado em maio do ano passado, depois de 20 anos de negociação. O texto final do acordo, que inclui aspectos políticos e relacionados a meio ambiente e direitos humanos, além do comercial, ainda passa pelo escrutínio jurídico da Comissão Europeia, em Bruxelas, além da tradução para os 24 idiomas do bloco.

“Depois dessa etapa, é que o texto final do acordo será divulgado, o que deve acontecer no segundo semestre. Mas não é necessário esperar por isso para marcar a cimeira Brasil-União Europeia, pois há muitos assuntos na agenda bilateral, como o Green Deal (o recém anunciado pacto ecológico europeu para descarbonizar a economia europeia), a cooperação entre pesquisadores, o salto para a implementação do G5 e a biodiversidade. A Europa tem grande interesse nesse tema e o Brasil é um dos gigantes mundiais da biodiversidade”, diz o embaixador.

A UE prepara também um encontro bilateral com a China, em setembro, na Alemanha. Além dos interesses econômicos, a China é o segundo parceiro comercial da UE, depois dos Estados Unidos. O gigante asiático é também o maior emissor de gases do efeito estufa, e os europeus têm interesse em aumentar o compromisso dos chineses no acordo de Paris. Como demonstrado nos cinco dias do Fórum Econômico Mundial Davos, em janeiro, meio ambiente será uma tema que permeará cada vez mais as discussões econômicas.

Coronavírus e Brexit

Na manhã desta terça-feira (04/04), Ybáñez e o embaixador da Croácia no Brasil, Ranko Vilović, apresentaram as prioridades do bloco europeu para o semestre. A Croácia preside o Conselho Europeu no primeiro semestre. Na agenda estão ações para aumentar investimento, integração da infraestrutura de transporte e energética, mas também digitalização, proteção social, empoderamento das mulheres e meio ambiente.

De acordo com Ybañez, os efeitos econômicos do coronavírus certamente vão atingir a UE, mas ainda não há cálculos concretos sobre a economia europeia, que, nos últimos anos, recebeu mais de 300 bilhões de euros em investimentos chineses, de acordo com a American Heritage Foundation.

“Por enquanto, os chineses nos pediram ajuda na facilitação do comércio de medicamentos, o que foi prontamente atendido”, afirma Ybañez. Para o embaixador, a associação entre o Mercosul e a União Europeia vai ajudar a fortalecer a prevenção contra esse tipo de problema nas duas regiões (Mercosul e Europa), pois as “regras sanitárias europeias são muito estritas e não vão mudar”.

Segundo o embaixador, a saída do Reino Unido do bloco, concretizada na última sexta-feira (03/03), também deve gerar efeitos econômicos na Croácia e em outros membros novos ou menores do bloco europeu, impactos que ainda não são possíveis mensurar, mas ele não acredita que a saída do Reino Unido influenciará outros sócios do ponto de vista político ou futuros parceiros, apesar da onda nacionalista que tem chegado a vários países, inclusive na Europa. “Quando houve o referendo na Croácia, 65% disseram sim à UE. Nós pagamos menos do que recebemos para estar no bloco”, diz. Servia e Montenegro negociam ingresso no bloco. Albânia e Macedônia também têm interesse em aderir ao arranjo econômicos europeu.

Vanguarda religiosa

Pela manhã, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, recebeu o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polônia, Jacek Czaputowicz, para a primeira reunião do grupo de trabalho sobre Questões Humanitárias e Refugiados do Processo de Varsóvia, para paz e cooperação no Oriente Médio.

Na declaração conjunta divulgada ao final do encontro, além de reforçar a necessidade de reforçar cooperação econômica entre os dois países, o documento afirma que Brasil e Polônia estão na vanguarda da defesa da liberdade religiosa do mundo. O governo de Jair Bolsonaro tem se aproximado dos governos mais nacionalistas e conservadores do bloco europeu, como Polônia e Hungria.

Brasília, 13h50min

Vicente Nunes