Uma semana a mais para as negociações da Previdência

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PAULO DE TARSO LYRA E ALESSANDRA AZEVEDO

O governo marcou para o dia 18 a votação da reforma da Previdência. O acerto foi feito após reunião do presidente Michel Temer com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o líder do governo, Aguinaldo Ribeiro (PP-AL). Na prática, isso significa mais uma semana para que os aliados tentem conseguir os 308 votos necessários para aprovar a proposta, em dois turnos, ainda em 2017.

Pressionado pela dificuldade de virar votos e embalado pelo espírito natalino, o Planalto também vai perdoar os infiéis que votaram a favor das denúncias contra o presidente Michel Temer, em agosto e em outubro. O perdão não significa, necessariamente, a retomada dos cargos perdidos, porque isso geraria um descontentamento naqueles parlamentares que se expuseram para absolver Temer.

“Foi feita uma avaliação de que devemos ter mais uma semana para melhorar um ambiente que já melhorou e avançarmos mais ainda para conquistarmos os votos necessários para aprovação da reforma da Previdência”, disse Aguinaldo, no início da noite de ontem. “Ficou acordado que o dia para votarmos a PEC da Previdência seria o dia 18 de dezembro. Em respeito inclusive ao Brasil, porque precisamos ter a responsabilidade de enfrentar um tema como esse”, destacou.

Infiéis

A absolvição dos infiéis está inserida nesse pacote de última tentativa. O pedido foi expresso por vários líderes partidários durante jantar no Palácio da Alvorada na noite de quarta-feira e reforçado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em conversas públicas e reservadas com o presidente. A avaliação generalizada é de que faltou, tanto ao Planalto quanto a algumas figuras mais expressivas da base aliada, capacidade para fazer análises de futuro após o arquivamento das denúncias contra o presidente.

A partir dali, alguns parlamentares defenderam caça às bruxas dos infiéis, com a recomposição dos cargos entre aqueles que seriam governo e aqueles que não seriam. Alguns alvos preferenciais foram escolhidos, como o PSDB. Mas a guilhotina envolveu outras legendas. Tanto que um dos parlamentares chegou a procurar uma liderança governista, queixando-se de que nem sequer estava sendo recebido nos ministérios. “Pode deixar que o seu caso eu vou resolver”, disse o cacique governista.

A aritmética básica começou a pesar. Na primeira denúncia contra o presidente, arquivada no início de agosto, o governo conseguiu 263 votos favoráveis ao Planalto. Já em outubro, quando a segunda acusação foi encaminhada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, esse número caiu para 251. Uma oscilação aparentemente pequena, mas que mostrava uma perda de fôlego para o governo.

Os articuladores e o próprio Maia começaram a correr atrás dos votos e as adesões sempre batiam no teto, quando eram apresentadas. “O jantar de quarta à noite, no Alvorada, em tese, era para cada um dos líderes apresentar seus números de votos. Mas só eu levei minha planilha”, confirmou o líder do PP na Câmara, Artur Lira (AL). Ele garante já ter, hoje, 33 votos alinhados ao Planalto mas prospecta chegar aos 42, um índice de praticamente 90%. “Não fecharemos questão para não constranger os companheiros. Mas poucos partidos entregarão um índice de votos maior que o meu”, garantiu Artur.

Dificuldades

A situação no PP está tranquila, se comparada a de outros partidos. PTB e PMDB fecharam questão, mas legendas como o PR e o PSD estão com profundas dificuldades para aumentar o quórum de apoiadores. Levantamento ao qual o Correio teve acesso mostra que, no partido comandado por Valdemar Costa Neto, 10 dos 30 deputados estão alinhados, aumentando a tarefa de Valdemar, condenado no mensalão, para reverter votos.

No PSD dos ministros Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e Henrique Meirelles (Fazenda), a defecção também é alta. No máximo 15 dos 38 deputados apoiam a reforma da Previdência. Parlamentares como o deputado Fábio Farias (PSD-RN) defendem a proposta feita pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, de restrição ao acesso ao fundo eleitoral e dificuldade de filiação às legendas da base para os deputados que votarem contra a reforma. “Mas os presidentes de partido têm medo de uma debandada de deputados na janela partidária de março. E o DEM já avisou que não vai vetar a entrada de ninguém”, queixou-se Fábio a um interlocutor.

Brasília, 06h45min

Vicente Nunes