UM PAÍS À DERIVA

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Os investidores estão vendo o Brasil como um país sem rumo. Com a presidente Dilma Rousseff isolada em seus palácios, a sensação é de que o governo está acéfalo. Não há hoje uma liderança capaz de  aglutinar forças que possam funcionar como um contraponto às loucuras encabeçadas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que trabalha pesado pela ruptura institucional. As chances de a economia afundar de vez estão cada vez maiores.

A pergunta que todos estão se fazendo é se o Brasil aguentará mais três anos e meio mergulhado neste clima de desconfiança e incerteza, que combina crise política com desastre econômico. A cada semana, pioram as expectativas dos formadores de preços. Agora, se fala em queda do Produto Interno Bruto (PIB) entre 3% e 4% neste ano. O país, alegam os especialistas, parou. As fábricas estão desligando as máquinas, demitindo funcionários e restringindo ao máximo os investimentos. As famílias cortaram o consumo. Com a inflação alta, viram a renda cair justamente no momento de elevado endividamento.

O quadro é tão dramático que alguns analistas asseguram que pelo menos metade das quase 50 milhões de pessoas que migraram para a classe C nos dois governos de Lula poderá voltar à pobreza se a recessão que se anuncia de confirmar — serão 11 trimestres de retração do PIB. A se confirmar tal quadro, será a maior derrota do PT, partido que se mostrou um antro de corrupção, preocupado apenas com um longo projeto de poder.

A única chance de a presidente Dilma reverter esse quadro é assumir publicamente que errou e que está sendo obrigada a tomar medidas impopulares para arrumar a casa até que o próximo governante assuma. O que não pode é a chefe do Executivo desaparecer, limitar sua agenda pública a eventos fechados com medo de ser execrada pela população. Já que ela levou o Brasil à situação atual, que tenha a honradez de pagar pelo que fez, antes que seja tarde demais.

O Brasil está sendo destruído pela desconfiança. Nas contas dos especialistas, somente neste ano e em 2016, com a economia crescendo abaixo de seu potencial, o país deixará de amealhar cerca de R$ 350 bilhões em riquezas. Desde que Dilma tomou posse, em dólar, a renda per capital do país só fez encolher, retração que se manterá pelo menos até 2018. A petista está deixando os brasileiros mais pobres e desiludidos.

De nada adianta a presidente recorrer a seu vice, Michel Temer, para fazer apelos ao Congresso, e, principalmente, ao partido dele, o PMDB, que isole Eduardo Cunha. Não há dúvidas de que o presidente da Câmara, em sua sanha de vingança, está disposto a quebrar o país aprovando uma “pauta-bomba” inaceitável. Mas o problema maior está em Dilma. Ela dá mostra de que está perdendo a capacidade de conduzir o Brasil.

Impeachment mais perto

» Pesquisa realizada pela Nomura Securities, com clientes de todo o mundo, mostra que 19,7% dos entrevistados veem entre 30% e 50% as chances de a presidente Dilma ser afastada do poder. Em março, somente 1,6% acreditava em tal hipótese.

Dólar a R$ 4 e rebaixamento

» A mesma pesquisa revela que, para 44,1% das pessoas ouvidas pela Nomura, o valor justo para o dólar no Brasil é de R$ 3,51 a R$ 4. Para 30% dos entrevistados, está entre 50% e 75% a probabilidade de o Brasil perder o selo de bom pagador.

Brasília, 08h31min

Vicente Nunes