UM ZUMBI NA ESPLANADA

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A permanência de Dilma Rousseff no poder resultará em um governo pior do que o que se viu nos últimos anos. Por mais que o ex-presidente Lula, que será uma espécie de primeiro-ministro, prometa mudanças importantes na condução da economia, não há como esperar melhora no padrão dos ministérios. Muito pelo contrário. A barganha que está sendo feita nos bastidores para enterrar o processo de impeachment resultará na entrega de cargos estratégicos a políticos sem qualificação, que estão ávidos por tirar proveito da coisa pública. Que ninguém se espante se, mais à frente, um outro escândalo de corrupção vier a ser desvendado pela Polícia Federal.

 

Quem acompanha o dia a dia do Congresso garante que os ventos estão soprando muito mais favoravelmente para o lado do governo. Se, na semana passada, a probabilidade de Dilma perder o mandato chegava a 85%, hoje, fala-se em 50%, com viés de queda. Muita gente subestimou o poder da caneta do Palácio do Planalto e como os políticos brasileiros são adepetos da lei da vantagem. Sempre ficarão do lado que oferecer mais, independentemente do compromisso assumido com o povo na hora que tomaram posse. A maior parte dos parlamentares já se candidata pensando em como poderá ganhar com as benesses que os cargos de deputados e senadores oferecem.

 

O sinal mais claro de que a vitória de Dilma está se consolidando foi dado pelo PSD, de Gilberto Kassab, que comanda o Ministério das Cidades. O partido anunciou, formalmente, que está fechado com o governo. Dos 33 parlamentares da legenda, pelo menos 25 devem votar contra o impeachment. Mesmo rachado, o PP, que tem o maior número de políticos investigados pela Lava-Jato, também tende a ficar com a petista. Não haverá pressão pública que se sobreponha às promessas colocadas no balcão de negócios aberto pelo Planalto.

 

Bicho de sete cabeças

 

Ainda que o parecer do relator do impeachment, Jovair Arantes, que será apresentado hoje, recomende a cassação do mandato de Dilma, o apoio ao governo tende a aumentar. A decisão da comissão que discute o afastamento da presidente, por sinal, já não importa tanto na visão do governo. A verdadeira guerra será travada no plenário. E, lá, os acordos fechados por Lula serão decisivos.

 

Em meio à barganha de cargos, o ex-presidente prepara um plano para acalmar empresários e investidores, claramente favoráveis ao impeachment. Mas há um problema: Lula poderá oferecer muito pouco do que os donos do dinheiro querem, a começar pela reforma da Previdência Social. O governo enterrou a proposta de mudança no sistema previdencário devido à pressão dos movimentos sociais, dos quais Dilma não pode se descolar, pois eles serão suas bases de sustentação nas ruas.

 

Derrubar o impeachment não significará maior popularidade para a presidente. Ela tirará a corda do pescoço, mas continuará a ser rejeitada pela maioria da população. A ideia, caso Dilma fique no poder, é se situar entre o modelo que prevaleceu desde que ela tomou posse e que quebrou o país e o neoliberarismo defendido pelo tucano Aécio Neves. Um bicho de sete cabeças, cujo resultado é possível prever: inflação acima da meta, desemprego maior e Produto Interno Bruto (PIB) em queda. Dilma, mesmo com Lula ao seu lado, será um zumbi.

 

Os mais pessimistas falam que a permanência da petista no Planalto empurrará a economia para um buraco ainda maior do que o visto hoje. Fala-se em tombo entre 5% e 6% do PIB. Essas previsões levam em consideração a incapacidade do governo de fazer um ajuste fiscal consistente e a adoção de medidas populistas. Não há, com Dilma, qualquer perspectiva de reversão das crises política e econômica. Se algo pode acontecer, é para pior.

 

Bala de prata

 

A bala de prata que os defensores do impeachment veem está na Odebrecht. A perspectiva de que o ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, assine o termo de delação premiada pode detonar a onda que está faltando para varrer o PT do poder. É na maior empreiteira do país que residem as provas que estão faltando para se fechar todo o esquema que surrupiou o caixa da Petrobras. Aposta-se que Odebrecht mostre como financiou as campanhas eleitorais de Lula e Dilma.

 

Até a próxima segunda-feira, quando será votado o relatório do impeachment, muitas surpresas devem surgir no horizonte. Dilma juntou parte dos cacos, mas sua base continua frágil. Uma coisa é certa: todos devem se preparar para tempos difíceis. O Brasil se tornou um transatlântico à deriva. Resgatá-lo levará anos e exigirá paciência, que — ressalte-se — o povo já perdeu há muito tempo.

 

Brasília, 07h19min