Um país em frangalhos e com futuro incerto

Compartilhe

POR ANTONIO TEMÓTEO

A maior recessão da história da economia brasileira acabou com os sonhos de milhões de brasileiros. A queda acumulada de 7,2% nos últimos dois anos destruiu 3,5 milhões de postos de trabalho e levou o Produto Interno Bruto (PIB) aos níveis de setembro de 2010. Para piorar, o PIB per capita em 2016 registrou redução real 4,4%, para R$ 30.407, superior à retração de 3,6% da geração de riquezas no país. Significa dizer que somos um país mais pobre e as dificuldades para recuperar o que foi perdido são enormes diante da renovação da crise política no país.

Os sinais políticos e econômicos são contraditórios. A inflação no país, por exemplo, parece estar controlada e o Banco Central (BC) reduz os juros para tentar aliviar o sofrimento de consumidores e empresas que estão com a corda no pescoço. Entretanto, as denúncias de que ministros do PMDB e o próprio presidente Michel Temer teriam participado de negociatas para financiamento de campanha podem levar o país à paralisia semelhante a que ocorreu em 2016, durante o processo de impeachment de Dima Rousseff.

A tendência é de piora, já que, ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma/Temer, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcou para a próxima sexta-feira uma acareação entre os delatores Marcelo Odebrecht, Cláudio Melo Filho e Hilberto Mascarenhas. Os três deram versões distintas sobre o repasse de recursos da Odebrecht para a campanha presidencial de 2014 e serão ouvidos para que as dúvidas sejam dissipadas.

Integrantes da equipe econômica têm se esforçado para passar a mensagem de que a recessão é passado, mas sabem que os riscos de nova turbulência crescem a cada semana, com o vazamento de delações que comprometem Temer e seus principais auxiliares. Enquanto o quadro político permanece turvo, os investidores nacionais e estrangeiros ficam em compasso de espera. Apesar da valorização da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), próxima dos 70 mil pontos, e da acomodação do dólar em R$ 3,10, o fechamento de vagas no mercado de trabalho continua a todo vapor e a renda dos brasileiros continua a despencar.

Somente nos últimos 12 meses encerrados em janeiro de 2017, 1,3 milhão de pessoas deixam o mercado formal, conforme dados do Ministério do Trabalho. Até janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou em 12,9 milhões o número de pessoas desocupadas. Para piorar, o rendimento real, atualmente em R$ 2.047 está longe dos níveis históricos já registrados, que chegam a R$ 2.113. A diferença numérica parece pequena, mas representa uma queda expressiva da massa de assalariados no país.

Sem opção, muitos trabalhadores têm migrado para a informalidade. Com isso, perdem a cobertura do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em casos de acidente de trabalho ou doença. Muitos voltaram para as filas dos hospitais públicos após perder os planos de saúde. Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro, 2,5 milhões de pessoas perderam os convênios.

Arrocho

A recuperação da economia brasileira ainda não está garantida, avalia o economista Alexandre Cabral, professor da escola de negócios FIA. Ele destaca que o desemprego em massa não permitirá que as famílias, que representam 60% da oferta, consumam. Para piorar, a indústria de transformação precisará de pouca mão de obra para voltar a produzir diante da ociosidade recorde da capacidade instalada. Na prática, a geração de postos de trabalho demorará significativamente para voltar aos níveis históricos de novembro de 2014, quando o desemprego estava abaixo de 5%.

No melhor dos cenários, que significa a aprovação da reforma da Previdência no Congresso Nacional e melhora do ambiente político, Cabral avalia que a economia brasileira não registrará crescimento em 2017, mas o ambiente para 2018 seria favorável diante da entrada significativa de investimentos estrangeiros. “A geração de empregos aos níveis históricos ficará para daqui três anos. Notícia ruim vem rápido, e as boas demoram a chegar”, resumiu.

O governo aposta em uma agenda de concessões para tentar tirar o país do atoleiro e gerar empregos, mas sabe que os desafios são enormes. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já avisou que se for necessário, o Executivo enviará ao Congresso propostas para aumentar impostos para cumprir a meta fiscal, de um deficit de R$ 139 bilhões. No mercado, os analistas ainda mantêm a confiança de que o Executivo manterá a base aliada unida para aprovar as reformas e com isso manter o país nos trilhos para recuperação da economia. Enquanto isso, milhões de brasileiros desolados aguardam o fim desse imbróglio para voltar a ter renda e pagar as contas em dia.

Brasília, 06h10min

Vicente Nunes