TUDO PELO PODER

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A tentativa da presidente Dilma Rousseff de qualificar como golpe o processo de impeachment que está tramitando no Congresso já não comove boa parte dos juristas do país. No Supremo Tribunal Federal (STF), onde a petista esperava encontrar respaldo para endossar seu discurso, a visão é de que, seguindo os trâmites constitucionais, o julgamento do pedido de impedimento está dentro da lei. Portanto, se realmente quiser manter o mandato, Dilma deve apresentar uma defesa convincente, e não tentar desqualificar seus opositores.

Quem acompanha a presidente de perto garante que não se deve esperar um processo pacífico de afastamento dela, como se viu com Fernando Collor de Mello, que saiu, resignado, pela porta lateral do Palácio do Planalto de mãos dadas com a então mulher, Rosane. A petista usará todos os instrumentos disponíveis para se manter no cargo, inclusive colocando seus defensores nas ruas, num movimento que pode desaguar no caos geral.

Quando diz à imprensa estrangeira, à qual concedeu entrevista ontem, que não “é mulher fraca”, Dilma sinaliza que está disposta a sacrificar o país por um projeto de poder. Mesmo que consiga derrubar o impeachment no Congresso, ela dificilmente reagrupará sua base de apoio parlamentar para pôr em prática as medidas que o Brasil tanto precisa para voltar a crescer. A presidente, infelizmente, não dispõe mais de um ativo importante para qualquer governante: credibilidade.

A incapacidade de tirar o país do atoleiro é explícita. Desde o ano passado, quando ainda dispunha de algum capital político e o processo de impedimento era remoto, a petista não consegue fazer nada andar no Congresso. Medidas que poderiam dar algum alento na área fiscal continuam paradas e outras tantas, que mais debilitam do que ajudam as contas públicas, tendem a seguir pelo mesmo caminho. Os parlamentares só têm um assunto a tratar: o mandato presidencial.

Sinais alarmantes

Dilma, como se vê, destruiu todas as pontes. As previsões com ela no poder até o fim de 2018 são alarmantes. O Produto Interno Bruto (PIB), que caiu 3,8% em 2015, pode recuar mais de 6% neste ano e outros 3% em 2017. Não há, na história do Brasil, um tombo tão grande em um espaço tão curto de tempo. O país, que hoje está mergulhado em uma recessão severa, verá uma retração sem precedentes no consumo das famílias, na produção e nos investimentos.

A presidente pode até acreditar que, continuando no Planalto, conseguirá um pacto para a governabilidade. Seria o ideal, pois não há mais como a população pagar pelos desmandos que se viu nos últimos anos. Mas, dadas as circunstâncias políticas do país, é impossível que isso aconteça. Dilma está isolada. Ela conseguiu se distanciar até de seu partido, o PT, que, mesmo na adversidade, não lhe dá o apoio necessário para permanecer no comando do país.

Erra a presidente ao acreditar que, superada a crise política, o país voltará a crescer e a gerar emprego e renda. As dificuldades enfrentadas pela economia são profundas. Com Nelson Barbosa no comando do Ministério da Fazenda, o desajuste fiscal se consolidou. Não há compromisso com reformas estruturais, que poderiam revigorar os ânimos dos agentes econômicos. Como se acreditava, a promessa dele de fazer mudanças importantes na Previdência Social era mais uma jogada de marketing, um bode na sala para legitimar a licença para gastar.

O descrédito do governo é tamanho, que os investidores já não dão o menor valor ao que dizem o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em tempos de normalidade, bastaria um espirro deles para que os mercados enlouquecessem. Hoje, o que dá o tom das negociações com dólar e ações são os fatores políticos, se Dilma está mais forte ou mais fraca e se o coração do governo foi ou não atingido pelas denúncias da Lava-Jato.

Filme de terror

Diante de tudo o que se vê, a sina do Brasil é permanecer de joelhos, vendo escapar oportunidades que poderiam resultar em melhoria de vida para a população. As ruas já perceberam que conquistas importantes estão se esvaindo e o futuro foi hipotecado. Entre os jovens, por exemplo, o desemprego já passa de 20%. A mão de obra que deveria estar produzindo riqueza está sendo empurrada para a marginalidade.

Esse filme de terror já prevaleceu no Brasil por um período longo demais. Quando todos acreditaram que o pesadelo jamais se repetiria, ele voltou com todas as forças. A pergunta que todos devem se fazer, inclusive Dilma, é se realmente precisamos prolongar o sofrimento. A sensatez diz que não.

Brasília, 12h26min

Vicente Nunes