A fatura entregue pela presidente Dilma Rousseff aos trabalhadores está cada vez mais pesada. São eles, infelizmente, que estão pagando a maior parte dos erros cometidos pela petista nos últimos quatro anos. A onda de demissões chegou com tudo e está pegando, sobretudo, a população de baixa renda, que não dispõe de poupança para enfrentar os tempos sombrios que tomaram conta do país. No setor da construção civil, no qual estão os trabalhadores menos qualificados, foram fechados 21.996 postos somente em julho. No acumulado do ano, os demitidos já somam 154.899. A previsão é de que ao menos 500 mil pessoas que tiram o sustento dos canteiros de obras tenham os contratos rescindidos ao longo de 2015. Será um ano de amargar para muitas famílias. Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, os números só comprovam o quanto o governo se equivocou na condução da política econômica. “Não houve e não há qualquer incentivo aos investimentos, que poderiam ajudar o país a crescer e a melhorar as receitas para viabilizar o ajuste fiscal”, diz. “Olhando à frente, o quadro é dramático”, acrescenta. Técnicos do próprio governo admitem que o Brasil se encontra numa posição crítica. Não bastassem os problemas internos, agravados por uma crise política, há o risco de um tsunami mundial se abater sobre o país. O comportamento das bolsas de valores — ontem, os mercados dos Estados Unidos tombaram mais de 3% e a Bolsa de Valores de São Paulo acumula perdas superiores a 10% em agosto — mostram que a economia externa pode entrar em um forte processo de desaceleração, muito semelhante ao que se viu em 2011. Há um sentimento de pânico tomando conta dos investidores. O que mais preocupa é o fato de os bancos centrais estarem sem ferramentas para evitar o pior. Nos EUA, os juros já estão próximos de zero. Na Europa e no Japão, as taxas são negativas. A China, que vinha funcionando como alavanca para a atividade global, vem crescendo a taxas abaixo de 6%. Os mais pessimistas falam em avanço, na margem, entre 3% e 4%. Entre os países emergentes, não há um só que apresente bons resultados. Na melhor das hipóteses, estão se defendendo para evitar o pior. Muitas dessas economias são extremante dependentes das commodities (mercadorias com cotação internacional), cujos preços derretem a olhos vistos ante a valorização do dólar. O barril do petróleo pode cair a US$ 30. Mesmo os analistas que vinham projetando alta dos juros nos Estados Unidos já começam a rever as apostas. Alegam que o Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, terá que lidar com um cenário muito complexo, do qual está tentando sair há anos. Esses mesmos especialistas alegam que a China tende a espalhar uma onda de deflação pelo mundo ao forçar a desvalorização de sua moeda. Distorções
Nesse contexto de desaquecimento global, a recessão brasileira pode se aprofundar. A inflação que tem atormentado os brasileiros será o menor dos problemas a serem enfrentados pelo Banco Central. É possível que o Produto Interno Bruto (PIB) recue até 3% neste ano e mais de 1% em 2016, o que levará o desemprego para 10% em dezembro ou janeiro próximos. A justificativa para esse quadro devastador é que a desconfiança, agigantada pela crise política, inviabilizará os investimentos produtivos que o Brasil tanto precisa para voltar a crescer. Mesmo capitalizadas, as empresas tenderão a ficar penduradas nos altos juros pagos pelos títulos públicos. Sem investimentos, as demissões vão se acentuar. Na avaliação de José Carlos Martins, da Cbic, esperava-se que, num momento tão difícil, o governo tivesse margem de manobra para agir. Mas não tem. Um exemplo das dificuldades está no programa Minha Casa, Minha Vida, que foi símbolo das promessas de um Brasil melhor que Dilma alardeou em verso e prosa. Sem caixa, o Tesouro Nacional já está devendo R$ 1,5 bilhão às construtoras, que não param de fechar postos de trabalho. A perspectiva é de que pelo menos R$ 1,6 bilhão, referentes a dois meses de pagamentos do Minha Casa, Minha Vida, sejam empurrados para 2016, numa pedalada para a qual o Tribunal de Contas da União (TCU) ainda não se atentou. O governo já assumiu compromissos de outros R$ 10 bilhões para o ano que vem, mas tudo indica que não terá como pagar integralmente a conta devido à forte queda das receitas por causa da recessão. No caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que deveria estar melhorando a infraestrutura do país, quase nada sai do papel. O governo tem R$ 50 bilhões em obras contratadas e compromissadas (convênios assinados com prefeituras, mas não licitados), mas o Tesouro só está liberando, no máximo, R$ 2 bilhões por mês. Num quadro de normalidade, seria saudável que o setor privado ocupasse o lugar do governo nesses investimentos. Mas num Brasil de imensas incertezas, assumir riscos se tornou proibitivo. Guias de boas práticas
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» Punta Cana será o quarto destino internacional que a TAM abrirá em 2015. A companhia vai operar, a partir de 15 de dezembro, voo direto para a República Dominicana saindo de Brasília.
Brasília, 11h50min