Por mais que se queira buscar um fato positivo relacionado ao governo, a realidade se impõe e o que se vê pela frente é um trem descarrilado em direção a uma montanha. E não há exagero nisso. Dia após dia, uma sucessão de denúncias atropela qualquer sinal de reação da presidente Dilma Rousseff, e o fim de seu mandato fica mais próximo. A delação feita pelo senador Delcídio do Amaral, ressaltando que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ofereceu dinheiro a ele para que protegesse a chefe e o ex-presidente Lula, torna a situação desesperadora.
É difícil acreditar que, ao se tornar ministro, Lula tenha força suficiente para mudar o curso da história. Ele está tão entranhado na corrupção desvendada pela Operação Lava-Lato que se tornou uma pessoa tóxica, com potencial para levar o governo mais rapidamente para o buraco. Dilma está disposta a abrir mão de todos os seus poderes em favor de seu criador, apostando que ele será capaz de reaglutinar a base aliada, mantendo uma ponte com o PMDB. Mas, alvejado pela Justiça, na condição de superministro, Lula colará de vez no Palácio do Planalto a responsabilidade pelos crimes cometidos na Petrobras.
O que se pode depreender das tentativas de Dilma de se reerguer é que ela sempre escolhe o caminho errado. A presidente teve todas as condições de dar uma guinada na economia logo depois que se reelegeu, o que hoje faria uma diferença enorme. Chamou Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e indicou que estava disposta a fazer um ajuste fiscal consistente. De início, pareceu convincente, tanto que os agentes econômicos lhe deram um voto de confiança. Mas a Dilma compromissada com a arrumação das contas públicas se mostrou uma farsa, como havia sido a campanha dela à reeleição.
Se a economia estivesse caminhando minimamente bem — em agosto de 2015, o Banco Central estava pronto para dar início a um movimento de queda de juros —, a crise política não teria ganhado a dimensão que ganhou, mesmo com todas as denúncias da Lava-Jato. O país não estaria mergulhado em uma recessão tão profunda e o desemprego se manteria sob controle. Haveria uma retomada dos investimentos, a ponto de o Produto Interno Bruto (PIB) encerrar 2016 com ligeira alta em vez do tombo de mais de 4% que boa parte dos analistas projeta.
Peso da soberba
Do alto de sua soberba, Dilma não se importou em jogar Joaquim Levy no colo dos inimigos, que estavam todos ali, no governo, prontos para dar o bote. Ela tinha a certeza de que, com seu discurso de mulher honesta, que não aceita malfeitos, conseguiria se manter distante da Lava-Jato. Contudo, ao mesmo tempo em que as investigações da polícia federal se aproximavam do Planalto, a economia afundava. Deu no que deu. O governo se enfraqueceu de uma tal forma que as ruas, hoje, pedem o impeachment da presidente e repudiam a nomeação de Lula para um ministério. Veem no gesto de Dilma um único objetivo: livrar o ex-chefe das garras do juiz Sergio Moro, pois passará a ter foro privilegiado.
Diante de todos os erros que coleciona, pode-se dizer que Dilma está cavando a própria sepultura. Ela perdeu todas as oportunidades de manter uma distância regulamentar da crise política agigantada pelas investigações na Petrobras. Se não tivesse cedido à tentação de repetir o populismo que prevaleceu no primeiro mandato, teria o mínimo de credibilidade para convencer os agentes econômicos a fazerem o dever de casa, ou seja, produzir, gerando emprego e renda. Hoje, não há um só empresário e investidor que defenda o governo. Todos querem o seu fim o mais rapidamente possível.
A torcida do capital pela saída de Dilma ganha força ante a perspectiva de que, com Lula na condição de superministro, o que já está ruim ficará pior na economia. A gastança voltará com tudo, com a tentativa do governo de se desfazer de parte das reservas internacionais, de US$ 372 bilhões, para tocar os programas mais estapafúrdios. “Se isso se tornar realidade, será o pior dos mundos”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da CM Capital Markets. Ela ressalta que o país está parado, só há incertezas no horizonte e a desmoralização do governo é tamanha que não há como revertê-la.
Fragilidade de Barbosa
Para a equipe econômica, com o governo caminhando para um final melancólico, não há muito mais a ser feito, a não ser prometer e prometer. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que, por enquanto, continua no cargo, já foi avisado para mudar o discurso e esquecer qualquer tipo de reforma estrutural, sobretudo a da Previdência Social, cujo projeto ele havia prometido enviar ao Congresso em abril. Assessores dele, por sinal, já começam a buscar alternativas para sair antes do que chamam de o fracasso final.
Tudo caminha, segundo integrantes da Fazenda, para a saída de Barbosa, que completará três meses no cargo na próxima segunda-feira, caso Lula passe a dar as cartas na economia. Sabendo que está sendo passado para trás, o ministro recolheu as asas. Nos últimos dias, não deu nenhuma declaração pública. Ele sabe, porém, que foi ator principal, ao lado da presidente, no desmonte da economia. Foi ele quem mais atacou o projeto de ajuste das contas públicas defendido por Levy e que poderia estar dando frutos hoje.
Neste governo, infelizmente, houve um esforço concentrado em busca do pior. A corrupção correu solta e as decisões na área econômica foram de deixar qualquer um estupefato com tantas barbaridades. Não adianta empurrar a culpa para ninguém. Se o dia da queda chegar, todos terão sua parcela de culpa. Uns mais, outro menos. Mas todos são culpados. Pena que a conta do desastre tenha que ser arcada pelo lado mais fraco da moeda, a população.
Brasília, 08h30min