Não foi à toa a gritaria contra o governo, que cogitou aumentar o Imposto de Renda sobre os contracheques dos trabalhados. Entre janeiro e junho deste ano, os brasileiros que têm emprego formal recolheram R$ 56,223 bilhões aos cofres da Receita Federal. Isso deu uma média de R$ 310,6 milhões por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. Mantido esse ritmo, o IR sobre a renda do trabalho sugará R$ 112,5 bilhões em 2017. Um recorde.
A gula do governo por impostos é enorme. Como não consegue conter os gastos públicos, recorre sempre ao caminho mais fácil: obrigar que a população cubra os rombos no orçamento. Recentemente, a equipe econômica aumentou o PIS e a Cofins sobre os combustíveis com o intuito de embolsar R$ 10 bilhões. Mas o buraco nas contas públicas é tão grande, que nem isso será suficiente para evitar que o deficit deste ano seja maior do que os R$ 139 bilhões previstos.
Nos últimos 10 anos, segundo dados da Receita, o IR incidente nos contracheques dos trabalhadores totalizou R$ 769,2 bilhões. Entre 2007 e 2016, os impostos pagos anualmente sobre a renda do trabalho mais que dobraram. A máquina arrecadadora da Receita é tão eficiente, que nem o desemprego afetou tanto as receitas com o IR. Em 2015, somaram R$ 103,4 bilhões. No ano passado, foram R$ 101,7 bilhões.
O presidente Michel Temer, depois de admitir o aumento do IR, disse que a proposta foi enterrada. Mas é bom ficar atento, pois o desejo por mais tributos está latente entre os integrantes da equipe econômica, que não conseguiram cumprir a promessa de colocar as contas públicas em ordem. Sem aumento de impostos, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, terá que anunciar, nos próximos dias, mudanças nas metas fiscais deste ano e de 2018.
A gastança está enorme, tanto que os R$ 4 bilhões que o governo pretendia arrecadar com a elevação do IR seria insuficiente para cobrir sequer os R$ 6 bilhões liberados em emendas parlamentares, negociadas em troca de apoio a Temer na Câmara dos Deputados.