Está se formando o consenso de que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano será maior do que a registrada em 2015. As projeções estão encostando em 4%, o que vai acelerar o desemprego e derrubar a renda dos trabalhadores a níveis de 2010. É esse quadro dramático que vem servindo de base para que um grupo de conceituados economistas rechace a possibilidade de o Banco Central aumentar a taxa básica de juros (Selic) na próxima semana.
O ambiente no país é de extrema desconfiança. Ninguém, nem empresários, nem investidores, confia no governo. Com isso, a economia parou. Os mais pessimistas falam que a atividade entrou em colapso. Ao subir os juros agora, o BC só contribuirá para jogar a pá de cal. E, pior, não conseguirá derrubar as expectativas de inflação. As projeções do mercado só vão cair quando os índices correntes mostrarem desaceleração consistente.
A elevação dos juros na semana que vem não servirá sequer para trazer o que o BC mais deseja: reputação. A credibilidade da instituição está no chão. A inflação só atingiu os níveis atuais, quase 11%, por culpa dos erros do governo, do qual o Banco Central faz parte. Quase nada foi feito de efetivo nos últimos anos para retomar o controle do custo de vida. O BC, em sua defesa, alega que promoveu um dos maiores apertos monetários da história, ao aumentar a Selic de 7,25% para 14,25% desde 2013.
Se os juros realmente tivessem efetividade, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não teria se deslocado tanto do centro da meta, de 4,5%. Está claro para todo mundo que o problema é o governo. O BC poderá continuar subindo a Selic até 20% sem que os agentes comprem a ideia de que, desta vez, há um compromisso real de se derrubar a carestia. Não há. O governo não fará o esforço fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, porque as receitas continuarão minguando e os cortes de gastos serão paliativos.
Entrega de cargos
Para os diretores do BC que defendem a alta dos juros, tornou-se conveniente a pressão do PT em relação a eles. Acreditam que ganharam um argumento a mais para sancionar o arrocho. Na verdade, em vez de tentarem mostrar autonomia impondo um remédio amargo demais à economia, deveriam pedir para sair. Entregariam os cargos alegando que, se é para fazer o que o partido da presidente Dilma Rousseff quer, melhor seria a legenda indicar diretamente os nomes para o banco.
O BC, infelizmente, foi tragado pelo desastre econômico dos últimos anos. Era para ser uma ilha de excelência, mas ficou refém de um governo que destruiu todas as bases da estabilidade. Hoje, empresas e famílias não podem fazer planos. Não têm a garantia de que o poder de compra será mantido nos próximos meses. O discurso do comandante da autoridade monetária, Alexandre Tombini, de que tudo fará para levar a inflação para o centro da meta até o fim de 2017 não convence.
Dada a situação que se vê no país hoje, é melhor o BC não fazer nada. É esperar para ver, com mais clareza, para onde vai a atividade. A inflação vai cair, mas não será pelo aumento dos juros. Cederá porque o Produto Interno Bruto (PIB) encolherá de uma tal forma que restará pouco espaço para correção de preços. Em vez de elevar a Selic para matar uma mosca, o BC deveria trabalhar pesado dentro do governo para convencer a Fazenda de que, sem ajuste fiscal, a carestia continuará minando o consumo e os investimentos produtivos.
Quem acompanha o dia a dia do BC sabe que nem tudo está perdido. Há uma clara divisão entre os diretores sobre o que fazer com a Selic. Talvez esse racha seja a melhor notícia que a instituição possa dar ao fim da reunião do Copom na quarta-feira que vem. No tradicional comunicado ao mercado, poderá dizer que não houve consenso, que alguns integrantes do Comitê votaram pela alta dos juros, mas a maioria optou pela manutenção da taxa. Para dar maior ênfase à decisão, o placar seria mais apertado do que o do encontro de novembro do ano passado, quando apenas dois diretores foram a favor da alta da Selic. Nada que seja um drama para esse BC tão maleável.
Brasília, 08h30min