Fabrícia Gouveia, 48 anos, está devastada. A morte do marido, Ricardo Clemente Cayres, 46, em um violento acidente na L4, domingo (30 de abril) à noite, destruiu sonhos e a promessa de uma longa vida a dois. O carro que Ricardo estava foi destruído por um veículo que participava de um pega. No acidente, a mãe dele, Cleusa Cayres, 69, também morreu. Duas pessoas da família, o pai e o cunhado, ficaram feridos. Os motoristas dos três carros que provocaram a tragédia estavam embriagados.
O inconformismo de Fabrícia é grande: “É inacreditável que pessoas irresponsáveis no trânsito continuem destruindo tantas famílias. As pessoas que mataram Ricardo e a mãe dele, Cleusa, precisam ter a noção do mal que fizeram. Dizem que não estavam com os carros em alta velocidade, dizem que não beberam antes de dirigir. É mentira. Há testemunhas. Todos viram a violência com que atingiram o carro no qual estava o meu marido”, diz. Para ela, é preciso uma punição severa. “De nada vai adiantar sentirem vergonha do que fizeram, pagarem cestas básicas ou fianças. Eles cometeram uma violência imperdoável. Até quando pessoas como essas continuarão destruindo famílias?”, indaga.
Para Fabrícia, lhe roubaram o melhor da vida. “A dor que estamos sentindo é enorme. Ricardo, meu marido, fazia a diferença. Ele só pensava em ajudar os outros. É inacreditável que tenha sido tirado de nós de forma tão violenta. Não poderei mais dar beijos e abraçar o bem mais precioso que Deus me deu. Não posso ter filhos. Acreditava que, com ele, viveria o resto dos meus dias. Apenas ele e eu, felizes”, afirma. Muitas eram as promessas baseadas no amor. “Prometemos cuidar um do outro desde o dia em que nos conhecemos, há 10 anos. Foi um ano de namoro e nove de casamento. Como fomos felizes. Por que tiraram o Ricardo de mim?”, pergunta.
No sábado, antes da morte de Ricardo, ele a Fabrícia haviam passado o dia procurando um terreno para construirmos a casa que tanto sonhavam. “Estávamos tão felizes, fazíamos tantos planos. Tínhamos escolhido ficarmos juntos. Sabíamos que não poderíamos ter filhos, pois eu havia tirado o útero. Isso em nada nos abalou, tamanho era o companheirismo dele, uma pessoa sempre disposta a ajudar o próximo. Ele chegava ao ponto de parar o carro num dia chuvoso para oferecer um guarda-chuvas a alguém que estivesse sem proteção. Não podia ver um cachorro abandonado na rua. Enquanto não encontrava uma solução, não sossegava”, lembra.
Será difícil retomar o rumo. “Ricardo morreu com a mãe. Ele tinha uma paixão enorme por ela. Era só beijos e abraços com ela. Como puderam tirar a vida de mãe e filho de forma tão violenta? Até quando vamos ficar calados achando que mortes tão violentas no trânsito são normais? Não são”, diz. Para Fabrícia, famílias não podem ser destruídas por irresponsáveis. “Daqui a pouco, todos estarão sorrindo, como se nada tivesse acontecido, protegidos pela impunidade. E eu? E a família do Ricardo? Só nos restará conviver com uma dor dilacerante, com uma ferida que jamais cicatrizará.”
Brasília, 21h09min