ROSANA HESSEL
O clima externo mais favorável, com as bolsas internacionais subindo diante da expectativa da aprovação de um novo pacote fiscal pelo governo dos Estados Unidos, e a expectativa de preços cada vez mais altos após o reajuste na tarifa de energia contribuiram para que o Tesouro Nacional conseguisse vender integralmente o lote de 8 milhões de NTN-B — títulos indexados à inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — no leilão realizado nesta terça-feira (1º/12), arrecadando R$ 30,3 bilhões.
Conforme os dados do Tesouro, os títulos NTN-B com vencimento em 15 de maio de 2023 incluíram uma taxa de juros real — acima da inflação — de 1,017% ao ano, valor abaixo do contratado anteriormente. Em 3 de novembro, o órgão vendeu 5 milhões desse mesmo papel com taxa adicional ao IPCA de 1,26% ao ano.
“O leilão foi bem-sucedido. Houve uma boa demanda pela oferta dos títulos do Tesouro e, como os juros reais foram menores do que o último leilão, o governo ainda conseguiu reduzir o custo de carregamento para o papel”, avaliou o economista-chefe da JF Trust Investimentos, Eduardo Velho, em entrevista ao Blog. “A curva de juros mais curta teve um alívio pontual, com o exterior ganhando impulso com o otimismo para a liberação do pacote fiscal dos EUA. Mas, no Brasil, a agenda fiscal precisa andar para destravar a curva longa. As previsões de inflação de 2020 passam para mais de 4%”, destacou.
Ajuda de Bolsonaro
Para ele, a fala do presidente Jair Bolsonaro hoje também ajudou para que o leilão do Tesouro fosse bem sucedido. Em encontro com o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, em Foz do Iguaçu (PR), durante visita das obras da segunda ponte entre os dois países, o chefe do executivo afirmou que a prorrogação do auxílio emergencial, como pedem alguns parlamentares, é “o caminho certo para o insucesso”. “A prorrogação do auxílio estava precificada porque o (deputado) Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que não colocaria em pauta enquanto fosse presidente da Câmara. Mas o fato de o presidente deixar a entender que está contra a extensão do auxílio emergencial é bom para conter a alta na curva de juros futuros”, explicou Velho. Segundo ele, o leilão de R$ 4 bilhões de operações compromissadas realizado pelo Banco Central não teve novidades.
Mais tarde, com a sinalização do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), definir dia 16 como data para a votação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2021, ajudou a também no mercado de câmbio depois das 16h, que operava com desvalorização superior a 2%. “A queda do dólar também foi beneficiada com a perspectiva de votação no Orçamento, LDO e discurso de Bolsonaro”, afirmou. Velho.
Pelos cálculos do economista da JF Trust, as pressões inflacionárias, após o reajuste na conta de luz anunciado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), devem aumentar as projeções em 0,4 ponto percentual, “levando as estimativas anteriores do IPCA de 2020 subirem para algo entre 4,10% e 4,20%”. “Apesar do aumento, a inflação ainda deverá dentro o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual da meta, de 4%”, afirmou.
Vale lembrar que a dívida pública bruta está em uma escalada, alcançando 90,7% do Produto Interno Bruto (PIB), em outubro, e deverá continuar subindo pelas projeções do mercado. Não à toa, o risco país do Brasil medido pelos contratos de CDS (Credit Default Swap) de cinco anos, está em 165,2 pontos, patamar acima da Grécia ( que tem o mesmo rating BB- que o Brasil) de 113,30 pontos.
“A questão fiscal é muito importante daqui para frente para determinar o comportamento no mercado dos juros futuros. Qualquer sinalização do governo de que haverá piora no controle das contas públicas fará os juros futuros subirem cada vez mais e, com isso, o Banco Central será obrigado a voltar a subir a Selic (taxa básica da economia)”, destacou Velho.