Temer tentou fechar acordo com Janot, diz Renan

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DENISE ROTHENBURG

Primeiro defensor da devolução do mandato a Aécio Neves, o senador Renan Calheiros trata de deixar bem claro que seus gestos não representam uma volta ao colo do governo de Michel Temer. “(Rodrigo) Janot fez tanta besteira que criou condições para o Michel se salvar”, diz o ex-presidente do Senado, acusando o presidente de, por duas vezes, ter tentado fazer acordos com o ex-procurador-geral Rodrigo Janot.

A segunda tentativa, conta Renan, foi no início do ano. Diz Renan que Temer “fecharia os olhos”, ou seja, não interferiria na sucessão de Janot e, em troca, o procurador-geral não denunciaria os ministros. “Eu disse, Michel, você não vai fazer acordo com Janot. Ele traiu o Fabiano (Silveira, ex-ministro da Transparência de Temer, que pediu demissão ao ser flagrado nos áudios de Sérgio Machado criticando a Lava-Jato). Vai trair você na primeira esquina.”

A primeira tentativa teria sido ainda no governo Dilma. Renan afirma que o vice-presidente recebeu Janot e pediu que tirasse Henrique Eduardo Alves da lista de investigados para que o então ex-presidente da Câmara pudesse ser ministro do Turismo.

Conta Renan: “O encontro que Michel teve com Janot foi para isso. Janot me mandou o seguinte recado, por intermédio de um amigo: Diga ao Renan que ele não tem prestígio nenhum com o vice-presidente, que me pediu que tirasse Henrique e Eduardo (Cunha) da lista. Janot tirou Henrique, que virou ministro, mas Eduardo Cunha, a força-tarefa não permitiu”, afirma Renan. “Diziam (Geddel, Eduardo Cunha) que quem tinha a ver com a Lava Jato era o Renan”, comenta o senador alagoano.

Renan vai além: “Pedi ao Michel que demitisse Osmar Serraglio do Ministério da Justiça porque tinha sido indicação do Cunha e ele me respondeu: Renan, você sabe que estou sendo chantageado”.

Ministros do Planalto dizem que Renan Calheiros tem se dedicado a falar mal de Michel Temer e que o presidente jamais buscou acordo com a PGR. Em fevereiro, dizem autoridades do governo, Temer até propôs indicar mais uma vez o próprio Janot e o procurador-geral não quis. Os primeiros pedidos de investigação, dizem os palacianos, incluíam apenas Cunha e Renan. Henrique Alves veio depois. Portanto, não houve qualquer pedido do então vice-presidente ao procurador-geral na época. Oficialmente, o Planalto diz o seguinte: “O senador Renan Calheiros deveria escolher melhor seus amigos-informantes. Verifica-se, pelas informações fantasiosas, que essa é mais uma de suas escolhas erradas”.

Vicente Nunes