O presidente Michel Temer está tentando dar uma imagem de tranquilidade a seu governo, mas o esfacelamento é visível. A base aliada que enterrou as duas denúncias de corrupção contra o peemedebista está cada vez menor e tende a implodir com a possível saída do PSDB do grupo. O enfraquecimento de Temer praticamente enterrou as chances de aprovação da reforma da Previdência — ainda que o discurso seja de que há espaço para um projeto mínimo vitorioso — e pode resultar em um enorme revés para o Palácio do Planalto no processo de ajuste fiscal.
Num Congresso que começa a respirar eleições, será difícil reunir apoio para aprovar medidas que cortam benefícios de servidores públicos, categoria extremamente organizada, com fortíssimo lobby junto a deputados e senadores. Com o pacote fiscal, que vai do adiamento do reajuste do funcionalismo de 2018 para 2019 à taxação sobre fundos de investimentos exclusivos, o governo prevê arrecadar R$ 12,6 bilhões, recursos essenciais para evitar que o rombo nas contas do Tesouro Nacional supere o limite de R$ 159 bilhões no ano que vem.
Não bastasse, porém, a deterioração da base aliada, que está cobrando cada vez mais caro para oferecer menos ao governo, Temer está tendo que lidar com o sururu criado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que, claramente, assumiu a fantasia de candidato à Presidência da República. Insuflado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o chefe da equipe econômica despertou nos apoiadores de Temer uma reação pouco amistosa. Meirelles, na visão de vários parlamentares, perdeu o discurso de defensor do ajuste fiscal. Agora, entrou de vez na barganha política.
O ministro diz que sua candidatura à Presidência é mais uma possibilidade do que uma “obsessão”. Mas, para integrantes do Planalto, foi justamente a obsessão que levou o ministro a sair do casulo bem antes do previsto. Como não tem certeza de que seu partido, o PSD, está disposto a lhe dar a vaga para a disputa ao Palácio do Planalto, Meirelles passou a se articular nos bastidores. E encontrou um aliado de peso no presidente da Câmara. Não custa lembrar que, quando se aventou a possibilidade de Temer ser afastado, depois da divulgação da delação de Joesley Batista, da JBS, o ministro logo afirmou que continuaria no governo, independentemente de quem estivesse no comando. O Planalto viu tal declaração como traição.
Temer está ciente de todas as dificuldades para levar seu governo adiante. Mas levou um susto diante da ausência de vários líderes de partidos da base na reunião que convocou no Planalto na noite desta segunda-feira, 6, para debater a estratégia de votação das medidas econômica e da reforma da Previdência no Congresso. O presidente avisa, porém, que não jogará a toalha. E ressalta que não se sentirá um derrotado caso a reforma previdenciária não vá adiante. Com esse discurso,Temer está se antecipando a seu ocaso.
Brasília, 21h10min