O presidente Michel Temer se antecipou ao Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e já indicou para onde vai a taxa básica de juros (Selic). Em discurso a ruralistas na cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, indicou que a Selic cairá, até o fim deste ano, dos atuais 9,25% ao ano para algo entre 7% e 7,5%.
Não é comum um presidente da República fixar um nível determinado para a taxa básica definida a cada 45 dias, em média, pelo BC. Ao falar em números, Temer dá a entender que já acertou tudo com o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, e os demais diretores da instituição.
Não custa lembrar que, no fatídico encontro entre Temer e o empresário Joesley Bastista, no Palácio do Jaburu, em 7 de março, o presidente afirmou que o BC cortaria os juros na próxima reunião do Copom em um ponto percentual, o que acabou se confirmando.
E mais: foi a forte intervenção de Dilma Rousseff, quando presidente da República, no Banco Central, que resultou em uma grande onda de desconfiança e no aumento da inflação. Dilma obrigou o BC, então comandando por Alexandre Tombini, a reduzir os juros para o nível mais baixo da história, 7,25%. A façanha, porém, durou apenas seis meses, pois o custo de vida disparou.
O Banco Central sempre faz questão de ressaltar sua independência para conduzir os rumos dos juros. É isso que dá base à credibilidade da instituição, que ficou muito arranhada durante o governo Dilma. Portanto, soa, no mínimo, estranho, que Temer já saiba para que nível a Selic vai cair.
Ao longo do governo Temer, a taxa básica já baixou cinco pontos percentuais, de 14,25%, em outubro do ano passado, para 9,25%, atualmente. No mercado financeiro, a perspectiva é de que os juros cedam um patamar entre 7% e 8%, devido ao forte recuo da inflação, que, nos 12 meses terminados em julho, ficou em 2,71%, o nível mais baixo desde 1999.