Temer faz propaganda enganosa com o feijão

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POR RODOLFO COSTA

De nada vai adiantar o presidente interino, Michel Temer, autorizar a importação de feijão da Argentina, da Bolívia, do Paraguai e da China para tentar conter os preços do produto. Segundo o assessor da Presidência da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Carlos Augusto Albuquerque, o feijão oriundo de países do Mercosul já têm alíquota zero e, portanto, acesso livre ao mercado brasileiro. Logo, a medida beneficiaria mais o feijão importado da China, o que também não gera benefícios práticos de redução de preços. Trata-se de uma propaganda enganosa do governo interino.

“É pura demagogia. A importação vinda da China chegaria aqui em 60 a 90 dias, quando já teremos outra safra. Qualquer compra de um produto de giro rápido, como o feijão, é bobagem. O efeito só vai ser para ter feijão demais quando chegar a próxima safra, fazendo o produtor perder com isso”, afirma Albuquerque, sem esconder a insatisfação com o anúncio. “O governo está apenas assinando algo que é uma miragem. Quem deu essa ordem não entende de agronomia”, sustenta.

Foto: Minervino Junior/CB/D.A. Press

Abastecimento

O Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe) reconhece que a importação do grão ameniza o cenário de pouca oferta no mercado consumidor, mas admite que não resolve os problemas de abastecimento. Segundo o presidente da entidade, Marcelo Lüders, cerca de 50% dos supermercados estão desabastecidos do produto. Ele avalia, no entanto, a medida do governo como positiva para a concorrência com o feijão-preto argentino que, somente nos primeiros cinco meses deste ano, respondeu por 80% do produto importado.

Em resposta às críticas, o governo federal informa que, “com a alíquota zero para países fora do Mercosul, o Brasil vai ampliar as opções de importação do produto de forma a aumentar a oferta no mercado interno e consequente redução dos preços”. A importação de feijão do México, entretanto, ainda depende da assinatura de um acordo sanitário, que está em fase final de negociação para a abertura de mercado.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, reforçou que vai negociar com grandes redes de supermercado para que busquem o produto onde há oferta maior. Sem dar muitos detalhes, diz que está envolvido em negociações com cerealistas e grandes supermercadistas para que “possam fugir do tradicional e ir diretamente à fonte para trazer o produto”. Ele destaca que mantém a expectativa de que o preço ao consumidor, que chega a R$ 19 o quilo em algumas regiões, ceda à medida em que o produto importado chegue ao Brasil.

Brasília, 12h30min

Vicente Nunes