Aliados do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, têm procurado, nos últimos dias, ressaltar a força dele junto ao presidente interino, Michel Temer. “Meirelles não entra em discussão nem em disputa de poder no governo. Ele simplesmente decide o que precisa ser feito e vai ao presidente para pegar o aval. Em nenhuma das vezes que fez isso, saiu de mãos abanando”, dizem.
Tanto empenho em reforçar a força de Meirelles mostra que ele não está tão poderoso assim. O ministro sabe que tem um contraponto de peso no Palácio do Planalto, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, escalado pelo próprio Temer para conter a visão de que existe no governo um superministro e ele está na Fazenda.
O embate entre Meirelles e Padillha está visível. Basta um olhar mais atento para os discursos dos dois nos últimos dias para ver o quanto estão com posições opostas, se confrontando e tentando desmentir o que o outro diz.
A última disputa entre os dois teve como pano de fundo o contingenciamento de recursos do Orçamento deste ano. Após o adiamento dos cortes, aliados de Meirelles saíram a campo para dizer que partiu dele a decisão de deixar para depois a tesourada nas despesas. Para o ministro, é conveniente esperar a evolução das receitas, que devem mostrar alguma reação neste segundo semestre.
Padilha, por sua vez, mandou emissários espalharem que o adiamento do corte de gastos havia sido uma vitória da ala política do Planalto, que vê o contigenciamento agora como uma trava desnecessária para o bom funcionamento do governo e um desestímulo à economia, que continua mergulhada em uma severa recessão.
Não satisfeito, Padilha chamou, nesta quinta-feira, as agências internacionais para dizer que não há a menor possibilidade de recuperação das receitas deste ano, como diz Meirelles, e que a folga no Orçamento para acomodar gastos imprevistos ou frustrações na arrecadação é de R$ 38 bilhões, o dobro dos R$ 18 bilhões anunciados pelo chefe da equipe econômica.
Meirelles, ciente das declarações de Padilha, articulou muitas conversas para dizer, mais uma vez, que ele tem canal direto com Temer e que o presidente há de continuar bancando todas as posições da Fazenda, pois sua sobrevivência depende do bom desempenho economia.
O certo é que Padilha e Meirelles são vaidosos demais. Não há como um deles abandonar as armas na queda de braço que travam. Um problemão para a retomada da confiança. Em público, continuarão posando de excelentes amigos e parceiros de governo. Nos bastidores, porém, já avisaram: é guerra.
Brasília, 00h07min