Temer diminuiu

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O governo interino de Michel Temer ficou mais fraco ontem. A saída de Romero Jucá do Ministério do Planejamento, acusado de tramar a obstrução das investigações da Lava-Jato, explicita o quanto o sucessor de Dilma Rousseff está vulnerável às denúncias de corrupção. O risco de outros auxiliares de peso do peemedebista serem pegos aumentou consideravelmente. Com isso, em vez da confiança necessária para levar adiante as duras medidas fiscais que o Brasil precisa, sobram, agora, incertezas. De novo, o país mergulha num mar de dúvidas e a administração que parecia salvadora pode implodir.

Como bem observa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em política, um raio pode cair na sua cabeça mesmo com o céu azul. Foi o que ocorreu com Temer. Desde que tomou posse, e apesar de todos os vaivéns nas decisões, como a envolvendo o Ministério da Cultura, havia uma boa vontade dos agentes econômicos com o governo. O anúncio da equipe chefiada por Henrique Meirelles se sobrepôs às fragilidades do presidente. Agora, porém, com um dos homens mais fortes do peemedebista na linha de tiro, já não se tem certeza do sucesso da empreitada do ministro da Fazenda de tirar o país do buraco.

Não foi por falta de aviso que Temer se machucou — e feio. Pouco antes de anunciar o ministério, ele foi aconselhado a não nomear auxiliares citados na Lava-Jato. Jucá, inclusive, aparecia como dúvida na lista que os auxiliares do presidente interino exibiam sobre o possível time do peemedebista. Prevaleceu, contudo, a visão de que os votos que Jucá tem no Congresso seriam muito mais importantes do que a opinião popular. Temer passou por cima de todos os pudores, se é que ainda os têm, e se cercou de políticos amigos, aos quais deve grandes favores. Está colhendo o que plantou.

Retorno de Dilma

Para um governo que precisa tomar medidas tão duras, que mexem com privilégios e expectativas de direito, é inadmissível deixar brechas abertas para questionamentos, especialmente quanto ao caráter de pessoas que estão em postos-chaves. Jucá já havia sido demitido do Ministério da Previdência do governo Lula por suspeitas de corrupção. Responde a vários processos por desvios de dinheiro público e peculato. Mesmo com toda a ficha corrida, transitou com força pelos governos pós-redemocratização. Em vez de cair, sempre se mostrou mais forte. Na administração Temer, era peça-chave.

Os investidores estão atônitos, como era de se esperar. Temem que o governo interino se desfaça e a opção passe a ser o retorno de Dilma ao poder. Se quiser reverter o pessimismo que voltou a reinar no horizonte, Temer terá que mostrar toda a sua força para aprovar, ainda hoje, a nova meta fiscal, de deficit de até R$ 170,5 bilhões neste ano. Tem, ainda, que apresentar um pacote consistente de medidas para reverter o caos nas contas públicas e viabilizar as tão esperadas reformas, como a da Previdência Social. Ao menor sinal de fracasso, verá ruir o frágil apoio dos agentes econômicos.

O peemedebista já não é visto mais como a esperança de um Brasil melhor. É o que resta num quadro que beira o caos. É preciso que ele dê certo para que todos cheguem vivos a 2018, quando poderemos eleger um novo comandante para o Brasil. O país fechará este ano com queda do Produto Interno Bruto (PIB) próxima de 4%. O tamanho exato será definido pelos desdobramentos da política. Apesar de mais fraco, Temer ainda tem condições de impedir o desastre total, especialmente se Meirelles conseguir arrumar as contas públicas e dar uma boa direção ao ajuste.

Jogo bruto

Cláudio Porto, presidente da consultoria Macroplan, diz que a desconfiança em relação ao sucesso de Temer é grande. Pesquisa realizada pela empresa mostra que 36% dos entrevistados veem chances de o peemedebista não entregar o que prometeu. Ele ressalta que, na política, o jogo é bruto. É uma guerra sem sangue. Sobreviver requer muita habilidade, o que o presidente interino não tem demonstrado desde que chegou ao Palácio do Planalto. Temer brincou com fogo ao levar Jucá para uma área tão estratégica, da qual depende o sucesso do governo.

O presidente interino acredita que ainda é possível juntar os cacos e evitar que o Congresso paralise o governo. Ontem mesmo, em meio à crise provocada por Jucá, tratou de mapear o apoio que tem para liquidar faturas urgentes nesta semana. Ouviu de vários aliados que há clima para votar a meta fiscal, a despeito dos sobressaltos, e apresentar medidas de peso, como os projetos para limitar o crescimento dos gastos públicos e para ampliar a desvinculação do Orçamento, a superDRU. Não há, porém, como confiar em promessas. É isso o que mais perturba investidores.

Jucá, como se diz no Planalto, agora será importante no Senado. Ele se licenciou do cargo de ministro para se defender das acusações, mas é certo que não voltará ao Planejamento. Por uma razão simples: não terá como provar sua inocência. A possibilidade de ele se encrencar ainda mais na Lava-Jato é muito maior. Temer, que também é citado na operação que desvendou um esquema sem precedentes de corrupção na Petrobras, acordou menor hoje. Tomara que ainda haja tempo de estancar a sangria. O Brasil precisa de uma saída urgente para a crise.

Brasília, 08h05min

Vicente Nunes