A gritaria que começa a ecoar pela Esplanada do Ministérios contra a política econômica do governo levou o presidente Michel Temer a fazer algumas reflexões. E ele já começa a se convencer de que errou na escolha da Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Central.
Quando o nome de Ilan foi apresentado a Temer, a indicação veio acompanhada da observação de que o economista, que, à época, estava no Itaú Unibanco, estaria disposto a cortar, rapidamente, os juros, para estimular a atividade e tirar a economia da recessão. Ilan, então no banco das famílias Vilella e Setúbal, falava em corte de até dois pontos percentuais na taxa básica de juros (Selic).
Temer se animou bastante. Afinal, Ilan reunia conhecimento técnico para o cargo, era respeitado no mercado e ainda pregava a queda rápida dos juros como estímulo à economia. O presidente da República se convenceu de que tinha a pessoa certa para tocar a política monetária.
Passados seis meses, porém, Ilan não entregou o que Temer esperava dele: a queda mais rápida dos juros. A inflação, por conta da gravíssima recessão, está caindo e caminhando para o centro da meta, de 4,5%. Os juros começaram a ceder, mas muito lentamente, mesmo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrando que a recessão se aprofundou.
Receio
Temer esperava que, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizado no mesmo dia em que o IBGE mostrou o tombo de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano (foi o primeiro PIB da era Temer), Ilan e seu time fossem mais corajosos para acelerar o passo no corte de juros. Mas, não. O BC manteve o ritmo do corte em 0,25 ponto, com a Selic baixando para 13,75% ao ano, taxa elevadíssima para os padrões mundiais.
A decepção de Temer com Ilan vem sendo alimentada por representantes da indústria. Eles dizem ao presidente que não há como destravarem os investimentos produtivos com o custo do capital tão elevado. A taxa real de juros (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) está um pouco acima de 8%. É muito para o setor produtivo.
O descontentamento dos industriais tende a se somar às frustrações dos varejistas, que continuam assistindo as vendas despencarem. Temer, realmente, não anda nada satisfeito como Ilan.
Brasília, 15h18min