“Tem gente que trabalhou para a ditadura e me critica”, reclama Paulo Guedes

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ROSANA HESSEL

O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a atacar os economistas Affonso Celso Pastore e Mailson da Nóbrega, que têm criticado a condução da política econômica do atual governo e a polêmica Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que prevê calote em dívidas judiciais e ainda antecipa a mudança do indexador do limite da do teto gastos para abrir espaço para o governo gastar mais do que alega precisar para pagar os R$ 400 do Auxílio Brasil prometidos pelo presidente Jair Bolsonaro. Sem citar nomes, ele voltou a criticar os desafetos, mostrando claramente que está incomodado pelas criticas, principalmente, de Pastore, que é um dos conselheiros econômicos do ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, recém-filiado ao Podemos e que está sendo cotado, inclusive pelo vice-presidente Hamilton Mourão, como o nome mais forte da terceira via nas eleições presidenciais de 2022.

“Tem gente que levou a inflação para 5.000% e está criticando”, disse Guedes, na noite desta quinta-feira (18/11),  em referência a Mailson, ex-ministro da Fazenda no governo José Sarney (MDB) e sócio da Tendências Consultoria. “Tem gente que trabalhou para a ditadura e me critica. Eu estou trabalhando para um governo eleito democraticamente”, acrescentou o ministro da Economia, também sem citar o nome de Pastore, que foi presidente do Banco Central durante o governo do ex-presidente João Figueiredo, o último da ditadura militar.

Guedes, que trabalhou durante a ditadura de Augusto Pinochet, no Chile, participou do encerramento de um evento promovido pela Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta. Durante a fala de mais de uma hora e meia, disse que ele e a equipe recebem críticas “todos os dias”, mas só sai do governo quando o presidente Jair Bolsonaro não confiar mais no trabalho dele. “Não devemos desanimar. Nossa função é servir o país. Estamos fazendo o trabalho na melhor das intenções e até quando for possível. Se não nos deixarem fazer e formos removidos, ok”,  emendou.

Para o ministro, a economia está se recuperando e os fundamentos da política fiscal “estão sólidos”. Além disso, afirmou que a alta do dólar é resultado da “barulheira infernal” no cenário político, mas deve ajudar na entrada de investimento no país. “Em vez de aplausos, só recebemos críticas”, reclamou. “Não precisamos ser aprovados. Cada um está fazendo o seu trabalho e vamos ser julgados pelo tempo. É muito fácil jogar pedra”, acrescentou.

O ministro voltou a citar os mais de R$ 500 bilhões de investimentos contratados nos projetos de infraestrutura como o principal motivo para que a economia brasileira cresça mais de 2% no ano que vem, como prevê a SPE, apesar das projeções do mercado indicarem uma taxa inferior a 1% ou até mesmo queda no Produto Interno Bruto (PIB). “Eu estou falando de fatos. E estou me baseando na previsão da SPE. Vamos ver o que vai acontecer no resto do mundo”, afirmou ele, sinalizando acreditar que o país vai ter um crescimento acima da média global neste ano e no próximo.

“Todo mundo está prevendo que o Brasil não vai crescer porque os juros estão subindo. Mas este será o primeiro governo que vai tentar reeleição com o Banco Central independente”, afirmou. Ele voltou a criticar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), afirmando que eles foram reeleitos porque houve interferência do BC no câmbio e nos juros.

O ministro também criticou novamente os críticos que não querem apoiar a reforma do Imposto de Renda proposta por ele e que prevê 15% de taxação dos dividendos. Ele disse que esse percentual é metade do que é cobrado nos países desenvolvidos e, depois das eleições, os outros candidatos devem aumentar esse imposto acima desse percentual.  “Não é inteligente se todos os países do mundo cobram esse imposto”, disse Guedes, que ainda precisa se explicar no Congresso sobre os investimentos que têm fora do país em paraísos fiscais. “O próximo governo vai vir e vai aumentar o imposto. Basta olhar o que os candidatos falam”, disse, em um claro discurso eleitoreiro.

Auxílio Brasil

Guedes voltou a afirmar que a definição do valor do benefício do novo Bolsa Família, de R$ 400, prometidos pelo presidente para o Auxílio Brasil, ocorreu “por pressão política” por um programa de renda básica mais robusto. Ele disse que a equipe econômica pretendia aumentar o benefício para R$ 300, valor que ficaria dentro do limite do teto gastos, mas a proposta acabou sendo inviabilizada por conta do volume das despesas com precatórios em 2022, de R$ 89,1 bilhões. “Mas precatórios causaram primeira turbulência. Depois, a pressão política pelo conceito de renda básica, em que nenhuma família poderia receber menos de R$ 400 foi um imperativo político”, afirmou.

O ministro também negou que a PEC dos Precatórios vai permitir o calote das dívidas judiciais. “É o contrário. A PEC precisa ser aprovada para impedir o calote futuro e a hiperinflação”, disse. Ele também reconheceu que a saída de técnicos da equipe ocorreu porque alguns “não concordaram na flexibilização do teto de gastos” para abrir espaço para o programa social em maior valor. “Ao contrário do que dizem, o arcabouço fiscal brasileiro não está sendo derrubado. Não estamos furando o teto, estamos lutando justamente para colocar os precatórios embaixo do teto”, acrescentou.

De acordo com o chefe da equipe econômica, a viagem do presidente aos Oriente Médio foi positiva, pois os árabes demonstraram interesse em investir no Brasil, inclusive, em dois times de futebol. Ele voltou a comentar o interesse de que o Flamengo seja um desses times, para ter recursos como o Manchester United, time britânico que, após ser comprado por sauditas, comprou até o craque português Cristiano Ronaldo.

Vicente Nunes