TARIFAÇO CUSTARÁ R$ 47,2 BILHÕES PARA OS CONSUMIDORES

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>> SIMONE KAFRUNI

O tarifaço de eletricidade e de combustíveis vai custar R$ 47,2 bilhões aos consumidores brasileiros em 2015. No entanto, nem mesmo essa fatura bilionária pode livrar o país de mais um racionamento de energia elétrica, a exemplo do que ocorreu em 2001 e tirou R$ 45 bilhões do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. O primeiro apagão de 2015, que deixou mais de 3 milhões de brasileiros sem luz em 10 estados e no Distrito Federal, na última segunda-feira, reacendeu o temor do corte de abastecimento. Se a pior crise hidrológica dos últimos 80 anos adentrar o período úmido, que vai até abril — e a falta de chuvas em janeiro indica que isso é muito provável —, não haverá outra saída senão a redução da carga pela limitação do consumo, apontam especialistas.

O governo continua negando o risco de racionamento, ciente do custo político de uma medida desse tipo. “Mesmo com uma estiagem severa e prolongada, não há perigo de apagão por falta de geração e de distribuição, como ocorreu no passado”, afirmou ontem o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas. O PT chegou ao poder em 2003 capitalizando em seu favor o racionamento do fim do mandato de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Daí a dificuldade de admitir que o país tem sérios problemas no sistema elétrico.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, os brasileiros estão pagando a energia mais cara do mundo. “A gasolina já está 70% acima do cobrado no mercado internacional, e vai subir até 10% nas bombas por conta do aumento de impostos”, pontuou. O custo do reajuste dos combustíveis para a população é calculado em R$ 12,2 bilhões só com o restabelecimento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e deve provocar um aumento de 0,3 ponto percentual na inflação.

No setor elétrico, como se não bastasse o rombo financeiro, que provocará elevação de até 40% nas tarifas, o aumento do preço do diesel também vai encarecer a geração das usinas termelétricas que usam o óleo como combustível. No fim da linha, quem pagará a conta será o consumidor. O gerente de Regulação da Safira Energia, Fábio Cuberos, explicou que o custo dos reajustes pode chegar a R$ 35 bilhões. “Um aumento de 1% representa R$ 1 bilhão a mais nas contas de luz”, disse. A Safira Energia calcula em 30,5% a alta da energia em 2015. Outros especialistas apostam em 40%.

No limite

Equanto o governo tenta minimizar o apagão da segunda-feira, especialistas dizem que esse não será o único blecaute por carga instantânea — quando o pico de consumo atinge quase a capacidade de geração de energia e provoca desligamentos forçados para não comprometer o sistema. Na avaliação do Itaú BBA, o risco de racionamento aumentou de 26% para 35%.

O professor do Programa de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro Marcos Freitas destacou que o pico de consumo, em todo o país, na segunda-feira alcançou 65 mil MW, chegando bem próximo da capacidade de geração do sistema, que está atualmente em 67 mil MW, nas contas do presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos. Foi o que levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a determinar às distribuidoras que interrompessem o abastecimento, na tarde de segunda-feira.

De acordo com relatório divulgado ontem pelo ONS, somente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o consumo bateu recorde 20 minutos antes do corte, alcançando 51,6 mil MW. “Antes, os apagões ocorriam porque havia uma demanda intensiva de eletricidade ao escurecer, quando as pessoas chegavam em casa, acendiam as luzes e ligavam o chuveiro. Hoje, o ar-condicionado é o grande vilão”, afirmou Marcos Freitas. Por isso, o pico não ocorre mais das 18h às 20h, e sim às 15h, quando o forte calor é responsável pelo acionamento de climatizadores de ar por todo o país.

“O país não tem garantia de abastecimento. Falta oferta”, reforça Vlavianos, da Comerc. “O potencial do sistema é de 130 mil MW médios, mas não se consegue gerar tudo isso porque 75% são de energia hidrelétrica e os reservatórios estão em níveis críticos por falta de água. As térmicas têm capacidade de 25 mil MW, mas só geram 19 mil MW porque muitas usinas estão em manutenção ou não conseguem mais despachar no limite”, destacou.

Vlavianos ressaltou que as condições dos reservatórios são muito preocupantes. “Em janeiro do ano passado, a reserva era de 40% de água e choveu 54% da média para o mês. Este ano, as represas entraram em janeiro com apenas 18% da capacidade e está chovendo somente 44% da média. Temos dois meses de período úmido ainda pela frente, mas a situação é de alto risco e só redução do consumo pode resolver”, argumentou.

Brasília, 15h25min

Vicente Nunes