Surpresa de prévia da inflação faz mercado projetar piso de 9% para 2022

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ROSANA HESSEL

Apesar da desaceleração do ritmo da prévia de inflação divulgada nesta terça-feira (24/50), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou alta de 0,59% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de maio, frente ao avanço de 1,73% de abril, o resultado ficou acima da alta esperada pelo mercado, de 0,45%.

As surpresas estão deixando os analistas preocupados e eles não param de refazer as contas para o IPCA deste ano. Algumas já consideram um piso de 9%, o que é um péssimo sinal para o bolso do brasileiro, pois o dragão da inflação não para de corroer o poder de compra do real e o consumidor acaba tendo que reduzir as compras no supermercado para encaixar no orçamento doméstico. E os vilões são os de sempre: alimentos e bebidas e combustíveis.

E é bom lembrar que, no acumulado em 12 meses até maio, o IPCA-15 disparou 12,20%, patamar desde 2016 bem acima dos patamares da alta do custo de vida nos demais países, refletindo o custo da instabilidade interna, tanto do ponto de vista político, por conta das eleições, quanto do ponto de vista econômico, de acordo com os especialistas. Em 2021, o IPCA encerrou o ano com alta de 10,06%.

“Dois anos com o IPCA acima de 10% será muito pesado para a população e é ruim para qualquer governo”, alertou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, contou que prevê alta de 9,13% no IPCA deste ano, mas não descarta o indicador podendo chegar a 9,47%. Para 2023, a previsão está em 5,13%, com teto de 5,47%. As duas estimativas estão acima do teto da meta, de 5%, neste ano, e de 4,75%, em 2023.

O banco Credit Suisse, que esperava alta de 0,50% no IPCA-15 manteve as projeções para a inflação oficial em 9,8%, neste ano, e em em 5,1%, em 2023.

“A inflação está surpreendendo mês a mês e isso é preocupante e é bem possível que, se isso continuar nesse ritmo, vamos ter um piso de 9% nas próximas projeções”, afirmou Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, que estava prevendo 8,9% de alta no IPCA deste ano, mas revisou para 9,2%.  Para 2023, a estimativa para o indicador é de elevação de 4,3%. “Tudo indica que a inflação só vai voltar ao centro da meta em 2024”, alertou.

Pelos cálculos do especialista da Órama, a mudança no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cogitada pela Câmara dos Deputados, impondo um teto de 17% para combustíveis e energia, poderá ter um impacto de um ponto percentual no IPCA deste ano, ou seja, reduziria a inflação projetada em torno de 9% para 8%. “A inflação nesse patamar ainda será ruim para o atual governo conseguir se reeleger. É provável que o Congresso e o governo se articule para tentar outras medidas”, afirmou.  Segundo Santo, apenas a nova redução de 10% no Imposto de Importação (II), anunciada, ontem (23/5) pelo governo, deverá ter um impacto de apenas 0,2 a 0,3 ponto percentual no IPCA.

Vicente Nunes