ENFIM, SUPREMO DÁ UMA RESPOSTA À POPULAÇÃO

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Finalmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu afastar Eduardo Cunha do mandato e da Presidência da Câmara dos Deputados. Diante de tantas denúncias e provas de que o deputado se beneficiou de propina da corrupção, não havia mais como a maior Corte do país adiar tal decisão. Foi preciso, porém, que a Rede Sustentabilidade entrasse com uma ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) para que os ministros colocassem o tema em votação hoje. A população agradecerá. Já passou da hora de Cunha não só ser afastado do comando da Câmara como ter o mandato cassado.

 

Cunha é quase uma unanimidade no país. Ele simboliza o que há de pior na política. Os mais radicais contra o PT o defenderam durante a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, alegando que o processo só andou por causa dele. É inadmissível esse argumento. Há motivos de sobra para que se discuta o afastamento da chefe do Executivo. Melhor seria, contudo, que todo o debate ocorresse com o deputado já afastado de suas funções.

 

O Brasil passa por um dolorido processo de limpeza ética, que não combina com um parlamentar que tem contas no exterior abastecidas com dinheiro da corrupção. É regozijante ver grandes empresários, banqueiros e políticos do alto escalão presos por terem saqueado os cofres públicos. Mas sempre que nos deparamos com Eduardo Cunha transitando livremente e participando ativamente de um governo que pode ser empossado caso o impeachment seja aprovado pelo Senado, tudo fica menor. A sensação é de que a lei ainda não vale para todos.

 

Com Cunha fora da Presidência da Câmara e, se possível, com o mandato cassado rapidamente, o país terá a certeza de que a Justiça não aceita mais desaforos. O STF não pode se curvar a uma pessoa que se acha acima do bem e do mal, invencível. Os tempos de hoje não comportam mais um político como o peemedebista em cargo tão estratégico. Se Dilma for afastada de suas funções e o vice Michel Temer assumir, o substituto imediato seria o presidente da Câmara, um tapa na cara daqueles que acreditam que o Brasil está deixando de ser um país de privilégios para poucos.

 

Política rasteira

 

O afastamento de Cunha do mandato e da da Presidência da Câmara pelo Supremo deve ser usado por Temer para não montar um ministério que corre o risco de já nascer podre. Para um governo que precisará contar com imensa credibilidade a fim de tirar a economia do atoleiro, contar com pessoas citadas na Operação Lava-Jato em postos importantes será, no mínimo, inaceitável. De antemão, a administração do vice estará sob suspeição.

 

Não bastam apenas competência e apoio político, é preciso ter a ficha limpa para ocupar ministérios, sobretudo agora, com a Polícia Federal e o Ministério Público mostrando que a lei vale para todos. Dilma pagou um preço alto por se cercar de pessoas suspeitas. Ao longo da gestão dela, vários ministros ficaram no meio do caminho, abatidos por denúncias de corrupção. Os malfeitos estavam tão disseminados que tanto a presidente quanto o antecessor dela, Lula, estão sendo acusados pela Procuradoria-Geral da República de tentarem obstruir a Justiça para dificultar as investigações da Lava-Jato.

 

Temer já não tem uma boa imagem junto aos eleitores. Muitos o associam ao atraso, à política rasteira que sempre prevaleceu no Brasil. Para o eleitorado, sairá a quadrilha comandada pelo PT e entrará a facção liderada pelo PMDB. Ou seja, tudo continuará da mesma forma, só mudando os atores. Para se descolar dessa péssima reputação, o vice deveria começar construindo uma administração pautada pela ética e pela competência técnica. Infelizmente, não será assim. Ele já se rendeu ao fisiologismo, ao rateio dos cargos para obter apoio.

 

Cara da descrença

 

A partir do afastamento de Dilma pelo Senado, continuaremos a ver um Estado inchado, ineficiente, longe de atender às necessidades dos cidadãos que arcam com pesada carga tributária. O ideal seria que Temer enxugasse a máquina pública para o tamanho que ela tinha até 2002. Nos últimos 13 anos, o PT se encarregou de inchar o governo, de ampliar a participação do Estado na economia. O resultado está aí: corrupção, descaso com a população, inflação alta, desemprego e contas públicas em frangalhos. E, claro, uma presidente perto de perder o mandato.

 

O governo Temer, apesar de apoiado pelos donos do dinheiro, já estampa a cara da descrença. Tem tudo para repetir os erros do passado porque está temendo o novo, o rompimento com as velhas práticas políticas. A sorte do país é que as instituições estão vivas e atuantes e a Justiça — pelo menos uma parte dela — está disposta a levar para trás das grades aqueles que ainda acreditam que o dinheiro público é capim.

 

Em defesa do vice, um de seus mais próximos auxiliares diz que o maior compromisso dele com a boa gestão dos recursos públicos será a nomeação de Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda. Ora, por mais poder que o futuro chefe da equipe econômica possa ter, nada impede que práticas ilícitas continuem prevalecendo na Esplanada. Em outras gestões, já tivemos ministros poderosos. Nem por isso, a corrupção deixou de correr solta.

 

Brasília, 07h21min, atualizado às 09h13min