Sucesso de vacinação definará a retomada da economia, diz RPS Capital

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ROSANA HESSEL

O governo brasileiro precisa, pelo menos, entregar o que prometeu no Plano Nacional de Vacinação (PNV) para garantir uma retomada da economia em 2021 e evitar um cenário de “terra arrasada”. Essa é a avaliação do economista-chefe da RPS Capital, Gabriel Leal de Barros, em relatório divulgado nesta segunda-feira (11/01), sob o título “Apelo à razão econômica”.

“Se o governo cumprir o que ele anunciou no plano nacional no fim de 2020, o cenário é positivo. Mas, se as autoridades errarem ou falharem no cronograma, vamos ter aumento da desigualdade estrutural e a economia vai crescer muito menos. Tudo vai depender da entrega da vacina”, afirmou Barros, em entrevista ao Blog.  Para ele, um fracasso no programa de vacinação levará o país para “um cenário de terra arrasada”, podendo fazer a economia entrar em uma nova recessão.

“O governo precisa garantir a previsibilidade do cronograma de vacinação apresentado no PNV, que ainda não tinha a CoronaVac no programa. Logo, tudo vai depender da competência do governo entregar o que ele se comprometeu publicamente”, alertou o economista.  Segundo ele, se aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), as duas vacinas potenciais, CoronaVac, do Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, e Suptnik V, da Rússia, “reforçarão o portfólio e oferta do PNV”.

O economista lembrou que, pelo cronograma, o PNV prevê 33,2 milhões de doses aplicadas no primeiro trimestre, somando mais 83,8 milhões, no segundo trimestre, e 170 milhões, no terceiro trimestre. Na avaliação dele, se o governo conseguir entregar tudo isso até o terceiro trimestre de 2021, será possível evitar que as medidas fiscais para evitar os efeitos da pandemia na economia, principalmente, o Benefício para Manutenção do Emprego e da Renda (Bem), não serão perdidos.

De acordo com Barros, esses três trimestres são a janela de tempo que o governo tem para evitar um aumento maior do desemprego, porque coincide com a regra do benefício para que as empresas não realizem demissões no mesmo intervalo de tempo médio em que utilizaram o incentivo fiscal. “O Bem ajudou a preservar cerca de 10 milhões de empregos formais e foi utilizado, em grande parte (765), por empresas do comércio e serviços, que foram as mais afetadas pelo confinamento social.

“Há um interregno benigno da Lei que institui o benefício emergencial que oferece algum tempo para que os atores políticos garantam o início, meio e fim da agenda sanitária e econômica, com efeitos sobre a confiança e recuperação do emprego e atividade”, frisou Barros. Ele lembrou que, apesar de o quadro de desemprego ser recorde, em torno de 14%, a taxa real, incluindo as pessoas desocupadas da força de trabalho que não estão procurando emprego, deve girar em torno de 22%.

Barros lembrou ainda que até mesmo a sustentabilidade do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior — também depende do sucesso da vacinação, porque ela vai garantir o fim do uso de novos gastos emergenciais no combate à pandemia.

Vicente Nunes