Ministros do Supremo Tribunal (STF) acompanham de perto o desenrolar da crise provocada pela quebra das Lojas Americanas, ainda que o tema não tenha chegado oficialmente à Corte. Dois deles falam em festival de fraudes e propinas na rede de varejo controlada pelo trio Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles.
Na avaliação dos ministros, havia uma organização criminosa dentro da empresa, com ramificações nos bancos que a financiavam e nas firmas de auditoria que ratificavam balanços fraudados. “Todo mundo fechava os olhos para a situação das Americanas, porque se beneficiavam de alguma forma ao manterem o silêncio”, diz ao Blog um dos ministros. “E foi muito dinheiro envolvido nisso”, acrescenta.
Ou seja, as suspeitas dos ministros são de que diretores das Americanas ganharam muito dinheiro não só cometendo, mas escondendo as fraudes, funcionários de bancos responsáveis pela análise de empréstimos recebiam propinas para liberar recursos mesmo sabendo que a empresa estava quebrada e auditores independentes engordavam as contas bancárias ao darem aval para uma saúde financeira que não era real.
Não há santos nessa história
Os ministros dizem que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável pela regulação e fiscalização do mercado de capitais, deve ser dura na punição de todos os envolvidos com a quebra das Americanas. E esperam que o Judiciário não deixe brechas para que os responsáveis pelas fraudes, sejam eles quem forem, fiquem impunes. “Esse caso merece punição exemplar, para que não se repita”, complementa outro magistrado da mais alta Corte do país.
Para esse ministro, não é possível que apenas os trabalhadores das Americanas, que começam a der demitidos, e acionistas minoritários, que viram o patrimônio virar pó, fiquem com o ônus das irregularidades cometidas por executivos da empresa, dos bancos que agora posam de vítimas e das firmas de auditorias.
Na avaliação dos magistrados, não há “santos” na história das Americanas. Todas as fraudes que levaram a empresa a assumir dívidas de R$ 40 bilhões não reconhecidas em balanço e a pedir recuperação judicial, foram muito bem-estruturadas, com o beneplácito de muita gente graúda.
“Alguém acredita que nenhum dos diretores da empresa não sabia o que estava acontecendo? Alguém acredita que funcionários de bancos que avaliaram os pedidos de crédito feitos pela empresas não identificaram os problemas? Alguém acredita na ingenuidade de auditores independentes?”, questionam os ministros. “De novo, não tem santo aí, muito pelo contrário”, acrescentam.