Governo mantém previsão de retração do PIB de 2020 em 4,7%

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ROSANA HESSEL

MARINA BARBOSA

A Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, manteve as projeções de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020  em 4,7%, conforme novo relatório de parâmetros macroeconômicos divulgado nesta quarta-feira (15/07).

As previsões atualizadas da equipe econômica continuam, portanto, mais otimistas do que o mercado. A mediana das estimativas para o PIB de 2020 computada pelo boletim Focus, do Banco Central, prevê retração de 6,1%. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê retração de 9,1%.

O secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, que esse número ainda pode ser revisto, dado o grau de incertezas causado pela pandemia de covid-19. Porém, disse que o dado está em linha com os dados setoriais e os dados antecedentes de maio e junho, que vêm mostrando que o pior dessa crise ficou em abril. Ele lembrou até que, diante desses números, o mercado reduziu de 6,54% para 6,1% a sua projeção de queda do PIB no Focus. “Pode ser revisto na divulgação da próxima grade, mas já mostra a tendência de que abril foi o fundo do poço. Foi um mês onde a retração econômica foi mais intensa e agora há uma movimentação de recuperação”, ponderou ele, durante a apresentação do relatório da SPE que é subordinada à Fazenda.

Em maio, após rever as previsões de uma variação próxima a zero da economia, de 0,02%, a SPE tinha passado a prever queda de 4,7% no PIB deste ano. Essa projeção considerava que as medidas de distanciamento social, necessários ao combate ao novo coronavírus, durariam até o fim de maio e acabou mantida no Boletim Macrofiscal da secretaria.

Porém, desta vez, a SPE afirmou que “apesar da extensão do isolamento social”, manteve as estimativas devido à  “melhoria dos indicadores, refletindo um efeito positivo das políticas adotadas até então”. Pelas projeções da secretaria,  a queda do PIB do segundo trimestre será de 7,5%, em relação ao trimestre anterior, e de 9,3%, na comparação com o mesmo período de 2019. Para 2021, o órgão manteve também a estimativa de expansão de 3,2%.

A SPE também não alterou as projeções para o desempenho da atividade econômica nos próximos anos. Por isso, continua projetando uma recuperação de 3,2% do PIB em 2021 e de 2,6% em 2022. Já para 2023 e 2024, a perspectiva é de alta de 2,5% do PIB.

Com a manutenção dessa projeção de queda do PIB em 2020, o governo vai reduzir a perspectiva de rombo fiscal deste ano, porque não deverá ter uma queda mais brusca nas estimativas de receita.  Waldery explicou que a perspectiva de deficit primário das contas do governo central (que inclui Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social), de 12% do PIB, considerava a queda de 6,5% do PIB que era a estimativa esperada pelo mercado financeiro no início deste mês. Porém, será reduzida diante da perspectiva oficial de queda de 4,7% do PIB. “Como mantivemos essa estimativa, as perspectivas de déficit também serão revistas”, antecipou, dizendo que os novos indicadores fiscais devem ser divulgados no fim do mês.

Auxílio emergencial

Em maio, a equipe econômica admitiu que poderia revisar essa projeção caso as medidas de distanciamento social entrassem pelo mês de junho. Afinal, segundo os cálculos do governo, cada semana de distanciamento social custa cerca de R$ 20 bilhões para a economia brasileira. A principal política considerada nesse sentido é o auxílio emergencial de R$ 600, que já liberou mais de R$ 102 bilhões para cerca de 65 milhões de brasileiros. É que o auxílio tem ajudado a manter a renda e o consumo das famílias brasileiras nesse momento de crise e desemprego alto, segundo os economistas. Tanto que foi apontado como uma das principais razões para a recuperação de 19,6% das vendas do varejo ampliado em maio.

“Com a elevação da massa salarial ampliada, que foi estendida ainda por alguns meses devido à prorrogação do auxílio emergencial e do benefício emergencial, e fortalecida com a liberação dos saques emergenciais do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), diversos setores da economia estão se adaptando para sobreviver durante esse período”, reiterou a SPE.

A SPE também destacou, por sua vez, que essas políticas são muito caras para serem mantidas após a crise do novo coronavírus. Só o auxílio emergencial, por exemplo, custa cerca de R$ 51,5 bilhões por mês. Por isso, segundo os analistas poderia agravar o quadro fiscal brasileiro caso virasse uma política permanente. “Tais políticas são um escudo de proteção à população e às empresas para esse período, mas não são um estímulo sustentável no longo prazo, e, mais que isso, não são capazes de ampliar a capacidade Produtiva da economia, sendo portanto temporárias e com efeitos importantes de imediato, mas não seriam eficazes de forma permanente”.

Inflação

A Secretaria de Política Econômica reviu, por outro lado, as perspectivas para a inflação brasileira neste ano de 2020. O indicador foi reduzido de 1,77% para 1,6%, ou seja, para ainda mais distante da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que prevê uma inflação de 4%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

A revisão se explica pela redução da demanda provocada pela crise do novo coronavírus, sobretudo no que diz respeito ao consumo de bens industriais e serviços não essenciais. Além disso, puxou para baixo a inflação nos últimos meses o recuo dos preços internacionais do petróleo, que reduziu o preço dos combustíveis, no início da pandemia.

Por outro lado, a SPE lembra que a alimentação no domicílio ficou mais cara nesse período de isolamento social. Por isso, reconhece que a inflação vai pesar mais para os consumidores de baixa renda. A perspectiva é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) suba 2,09% neste ano, diferente da inflação oficial, que deve marcar 1,6%.

Veja os principais dados na apresentação da SPE:

Boletim_macro_Fiscal_2020_7 (versão final)

Vicente Nunes