Em conversas muito reservadas, o governo admite que a situação da Petrobras está alarmante. Por mais que a presidente Dilma Rousseff tente passar uma imagem de confiança em relação à companhia, há o temor de que a estatal fique sem recursos para honrar compromissos no exterior, caso os credores exijam o pagamento antecipado de dívidas. Muitos consideram essa hipótese um caso extremo. Mas, pelo sim, pelo não, começou-se a mapear as circunstâncias em que a petroleira pode ser socorrida com recursos públicos.
O governo admite que as portas do mercado estão fechadas à Petrobras. No exterior, nenhuma instituição financeira de renome está autorizada a liberar empréstimos à estatal por não ter ideia da dimensão do estrago provocado pela corrupção comandada pelo PT, o partido de Dilma. No país, a mesma resistência é observada entre os bancos privados. E não há qualquer possibilidade de emissão de ações, diante dos prejuízos acumulados pelos investidores — somente ontem, foram R$ 13,9 bilhões com a queda de mais de 10% dos papéis nas bolsas de valores.
A opção de socorro pode ser os bancos públicos. Mas o espaço para que liberem recursos à estatal está limitado. Nas muitas averiguações que fez no sistema, o Banco Central constatou que a petroleira já tomou recursos demais com as instituições controladas pelo governo. As regras prudenciais, portanto, indicam muito cuidado. “Realmente, não está fácil a vida da Petrobras, sobretudo para lidar com casos extremos, de escassez de recursos”, diz um integrante do governo. “A única notícia boa é o fato de a empresa estar, agora, ganhando dinheiro com combustíveis, diante da queda do petróleo. Mas ainda não houve tempo para cobrir todo o buraco acumulado nos últimos quatro anos”, acrescenta.
A atual situação da Petrobras contrasta com a pujança que prevaleceu ao longo de sua história. No início dos anos 1980, quando o Brasil ficou sem acesso ao mercado internacional de crédito, a empresa abastecia os caixas do Tesouro Nacional e do BC. Usava as linhas de financiamento de que dispunha no exterior a fim de importar petróleo para bancar despesas do governo. Em 1991, mesmo sem a renegociação da dívida externa brasileira, emitiu títulos fora do país, quebrando um jejum de 15 anos.
Não por acaso, executivos que passaram pela empresa nas últimas décadas se dizem estarrecidos com a atual situação da petroleira. Muitos reconhecem que a empresa sempre teve problemas com a corrupção, sobretudo por meio de superfaturamento de contratos. Mas, nem de longe, a roubalheira se compara à que foi descoberta pela Polícia Federal por meio da Operação Lava-Jato.
Ninguém acredita, porém, que a Petrobras vá se desintegrar. A empresa está longe disso. Mas quanto mais demorar para sair do lamaçal em que se encontra, maior será o custo para o país.
Proteção a companheiros
A presidente Dilma repete, insistentemente, que não compartilha dos malfeitos que sugaram quase R$ 90 bilhões da Petrobras. Suas palavras, porém, estão longe de mostrar uma ação firme do governo para dar transparência aos números da estatal. O exemplo mais evidente disso foi a manutenção dos ex-ministros Guido Mantega (Fazenda) e Míriam Belchior (Planejamento) no Conselho de Administração da petroleira. Ontem, os dois seguiram à risca a determinação do Palácio do Planalto para manter a caixa-preta da empresa muito bem lacrada. Certamente, estão mais preocupados em proteger companheiros do que em prestar contas aos brasileiros.
Aperto nos juros próximo do fim
» Economista-chefe da Itaim Asset Management, Ivo Chermont acredita que o Banco Central dará hoje, por meio da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), fortes indícios de que aumentará mais 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em março, para 12,50% ao ano. Com isso, encerrará o ciclo de aperto monetário.
Fragilidade da economia
» Para Chermont, as recentes declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, indicam que a autoridade monetária se convenceu de que o arrocho monetário chegou ao limite, dada a fragilidade da atividade econômica. “Entre todos os bancos centrais relevantes do mundo, a instituição brasileira é a única que está elevando os juros”, afirma.
Apostas invertidas
» Ontem, as apostas no mercado financeiro mostravam 70% de chances de o BC aumentar os juros em 0,50 ponto percentual em março. Mas, com a divulgação da ata do Copom, Ivo Chermont acredita que as posições se inverterão: 60% passarão a cravar alta de 0,25 ponto.
Máquinas emperradas
» Com a economia caminhando rapidamente para a recessão, a indústria de máquinas e equipamentos deverá registrar, em 2015, o quarto ano consecutivo de contração, um sinal de que o empresariado está longe de acreditar nas promessas do governo de fazer um ajuste fiscal consistente. Os investimentos na ampliação e construção de fábricas só voltarão, na melhor das hipóteses, em 2016. No ano passado, o faturamento da indústria de máquinas totalizou R$ 71,2 bilhões, 13% a menos que em 2013.
Caixa em nova sede
» A Caixa Seguradora vai na direção contrária do desânimo que marca a economia e inaugura, em 10 de fevereiro, sua nova sede em Brasília. Os investimentos encostaram em R$ 200 milhões. Toda a cúpula do grupo francês que controla a empresa, o CNP Assurances, foi convidada.
Brasília, 12h40min