O governo tem colhido relatos assustadores do setor produtivo em relação aos rumos da economia. “A sensação que temos é de que estamos no meio do deserto e não vemos nenhuma miragem de salvação. Para onde quer que se olhe, só há ruínas”, descreve um empresário que, recentemente, passou pelo Ministério da Fazenda. Para ele, por mais que a equipe do ministro Joaquim Levy se empenhe para melhorar o ambiente de negócios, algum sinal positivo, se vier, será só no segundo semestre de 2017. Na visão do setor produtivo, o governo perdeu a guerra da comunicação. Nada do que é dito, nenhuma proposta apresentada, tem conseguido reverter a desconfiança que se espalhou pelo país. A decepção com o pacote fiscal apresentado por Levy e pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, só reforçou o sentimento de que a retração da economia vai aumentar. O fundo do poço, que todos acreditavam ter sido o segundo trimestre do ano, está longe de ser atingido. Para o empresariado, o pacote de quase R$ 65 bilhões, lançado na última segunda-feira, não será suficiente para o cumprimento da meta fiscal de 2016, de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). A queda da atividade vai tirar muita receita do Tesouro Nacional. Se nada for feito para reverter o pessimismo rapidamente, daqui a dois ou três meses, o governo terá que lançar mais um programa de medidas, que também não terá sucesso porque, sem consumo e sem produção, não há recolhimento de impostos. “Nesse contexto, não há como se falar em ajuste”, admite um técnico do Planejamento. “Mais do que cortes no Orçamento e aumento de tributos, é preciso recuperar a credibilidade do governo. E não veremos isso tão cedo”, acrescenta. Ele reconhece que o deficit de credibilidade que atormenta a todos decorre das opções erradas nos últimos quatro anos e das divergências que têm prevalecido no Palácio do Planalto e na equipe econômica. “Se dentro do governo não há consenso sobre o que deve ser feito, não há como esperar que o setor privado reaja positivamente a qualquer coisa que seja anunciada”, frisa. Pedaladas
A tendência, segundo o mesmo técnico do Planejamento, é de que os agentes econômicos se retraiam ainda mais quando forem divulgados os números das contas públicas. Com a arrecadação despencando, não há como o Tesouro fechar este ano com superavit primário, nem mesmo o 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) com o qual o governo se comprometeu. Sem as pedaladas fiscais, o rombo será grande, maior do que os R$ 17,7 bilhões projetados no caso de se decidir pelo abatimento das despesas com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Quem viu os números de agosto que já estão sobre a mesa de Levy reconhece que o quadro é de arrepiar. Mas não há mais nada a fazer em relação a 2015, que já foi dado como perdido. A determinação do ministro da Fazenda é tentar salvar o próximo ano. Contudo, a cada dia que passa, 2016 vai ficando mais no vermelho. Não por acaso, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que dificilmente será aprovada nos próximos três meses, se transformou em questão de vida ou morte para o governo.
Brasília, 11h35min