O Congresso reabre efetivamente hoje os trabalhos com o Brasil à beira do colapso. Em um país sério, certamente os senhores parlamentares estariam prontos para dar uma resposta agressiva aos graves problemas enfrentados pela economia. Infelizmente, o que veremos será um Legislativo muito mais preocupado em tirar proveito da fragilidade do governo, ampliando suas benesses e atendendo a favores de grupos específicos. O resultado disso será mais crise.
Não há precedentes na história recente do país — nem mesmo durante o desastroso governo Collor de Mello — de um quadro tão dramático quanto o que estamos vendo agora. Para qualquer lado que se olhe, não há luz no horizonte. Muito pelo contrário. As perspectivas são as piores possíveis, devido, sobretudo, a um governo que perdeu a capacidade de liderança e se tornou sinônimo de desconfiança.
Esperava-se que, diante da gravidade da situação, Congresso e governo se unissem para aprovar medidas de curto e longo prazos a fim de tirar a economia do atoleiro. Mas, do lado do governo, não há convicção sobre o que fazer. E, pior, quando alguma proposta aparece, como a tal banda fiscal, é sinal de mais problemas. Na prática, o que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, quer, ao apresentar a medida, é legalizar o deficit nas contas públicas.
Do lado do Congresso, além de não haver competência técnica para propor soluções para o país, o grosso dos parlamentares está envolvido em falcatruas. É difícil encontrar alguém gabaritado para tomar a frente dos debates. Essa realidade é ainda mais cruel entre os partidos da base aliada, que deveriam puxar as discussões e não se prender a visões ultrapassadas e ao corporativismo, comportamento que só favorece a corrupção.
Desordem
A inação do governo e do Congresso cobrará um preço elevado ao longo deste ano. Na avaliação de especialistas, a recessão se agravará a tal ponto que a desordem no país ficará parecida com a que se viu após a derrocada da Grécia. E não há nenhum exagero nisso. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 4% em 2015, índice que deve se repetir em 2016. O desemprego tende a ir a 12%, mas, entre os jovens, pode encostar nos 25%. O rombo nas contas públicas, quando incluídos os gastos com juros, já passa de 10% do PIB e há quem projete dívida bruta equivalente a 75% de todas as riquezas produzidas pelo país.
Como diz um dos principais banqueiros do país, se esse cenário se repetir por mais um ano, que ninguém se espante em ver grandes empresas “boiando”, ou seja, quebrando. Não por acaso, tanto o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, quanto o comandante do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, vêm pregando a queda dos juros. Eles temem uma onda de calotes que deixará um rastro de prejuízo que há anos não se vê no sistema financeiro.
Na avaliação do mesmo banqueiro, o Brasil vinha contando com a retomada da economia dos Estados Unidos para sair do atoleiro. Contudo, a locomotiva do planeta começou a ratear. Se a desaceleração se confirmar, o mundo tende a ruir. O Brasil, que já está em uma situação superfrágil, irá de vez para o buraco. “Vamos viver tempos terríveis. Devemos nos preparar. Não há ilusão”, reforça. O mais assustador, acrescenta ele, é o fato de o governo se prender a detalhes e a presidente Dilma Rousseff não entender a dimensão da crise na qual o país está mergulhado.
A única esperança dos especialistas para minimizar os problemas seria a queda da inflação, que muitos acreditaram ser possível a partir de março. Mas boa parte dos otimistas já jogou a toalha. A aposta, agora, é de índices de preços mais próximos de 8% para este ano, mesmo com o PIB derretendo quase 4%. “Se a inflação ficasse em torno de 6%, certamente o Banco Central se sentiria mais confortável para cortar a taxa básica de juros (Selic). Não é o que estamos vendo. A carestia continua firme e forte”, admite um técnico da equipe econômica.
Brasília, 08h30min