SHOW DE HORRORES

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O terceiro trimestre ainda não fechou, mas a maior parte dos analistas garante que os dados colhidos até agora são estarrecedores. Se alguém ficou assustado com a queda de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) entre abril e junho, ficará horrorizado com o resultado que está por vir. As projeções apontam para recuo entre 2% e 2,5% ante o trimestre imediatamente anterior e entre 4,2% e 4,8% quando comparado a julho e setembro de 2014. Essas projeções mostram que, em vez de estancar a sangria, o país acelerou a recessão.

Historicamente, o terceiro trimestre costuma ser o melhor período para a indústria. É quando as máquinas trabalham a pleno vapor para abastecer o comércio que tem, nos três últimos meses do ano, o auge das vendas. Mas, em vez de acelerarem o ritmo de trabalho, as fábricas estão desligando os motores e, pior, demitindo. Os estoque se mantêm elevadíssimos e como não há perspectivas de fortes encomendas nos próximos meses, mesmo com o Natal batendo à porta, as empresas não querem se arriscar. Aumentar a produção hoje significa prejuízo na certa.

O quadro é tão preocupante que, em vez de contratar temporários para reforçar o quadro de pessoal, rotina comum a partir de setembro, quando as vendas começam a esquentar, o varejo está demitindo. Por isso, estão crescendo as apostas de que, em vez do primeiro trimestre de 2016, o desemprego chegará aos 10% nas principais regiões metropolitanas do país já em dezembro.

A gota d’água para reforçar o pessimismo em relação ao terceiro trimestre foi o resultado do varejo em julho, com retração de 1%, o pior resultado para o mês em 15 anos. Diante desse desempenho, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) ampliou a previsão de queda para o setor neste ano, de 2,4% para 2,9% — será o primeiro recuo em mais de uma década.

O que mais incomoda os varejistas é que não há perspectiva de recuperação tão cedo. Tudo indica que 2016 será tão ruim quanto este ano, pois pegará toda a onda de desemprego e de calote. A renda real dos trabalhadores deve fechar 2015 em queda, voltando aos níveis de 2010, quando o país elegeu Dilma Rousseff para a presidência da República. A massa salarial tombará quase 7% no acumulado deste ano e do próximo, eliminando qualquer perspectiva de aumento do consumo. Política errática Nem mesmo o mais otimista dos integrantes da equipe econômica chefiada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vê possibilidade de um quadro menos dramático. E boa parte dos técnicos culpa o governo pela intensificação da queda do PIB. Nos corredores do ministério é comum ouvir queixas sobre a forma como a presidente Dilma vem conduzindo o país, seja insistindo na maluquice da nova matriz econômica no primeiro mandato, seja no vaivém de decisões na área fiscal neste ano.

“O certo é que o governo produziu o Natal do desemprego e o ano-novo do calote”, afirma um auxiliar de Levy. Agora, reconhece ele, o governo precisa correr para conseguir apoio no sentido do aprovar o pacote de quase R$ 65 bilhões anunciado na última segunda-feira. Se fracassar nessa empreitada, em vez de 3%, o PIB deste ano poderá encolher entre 3,5% e 4% e, em 2016, tombar mais de 2%, o que fará com que, na média de todo o mandato de Dilma, o resultado da economia seja negativo.

O Palácio do Planalto, porém, parece alheio ao show de horrores que está sendo gestado. Continua com uma política errática na relação com o Congresso, do qual depende quase todo o pacote fiscal de 2016, e minando a última ponte que resta com o empresariado. Não é só. Ao defender a CPMF, Joaquim Levy tem criado mais animosidade do que consenso. Pegou muito mal o discurso dele de que o imposto que Dilma quer ressuscitar é “pequenininho” e ninguém vai sentir ao pagar a alíquota de 0,2%.

Seria bom se o governo começasse a dar um pouco de esperança em meio a tantas notícias ruins. Mas, diante de tudo o que se viu nesses nove primeiros meses do segundo mandato de Dilma, parece ser pedir demais. A capacidade de destruição da petista vai muito além da nossa imaginação.

Menos, Dilma » A presidente Dilma não perde a chance de distorcer as informações para tentar diminuir seus erros. Ontem, em discurso a uma rádio, disse que Estados Unidos foram rebaixados, mas voltaram a crescer logo depois. Sim, foram rebaixados, mas não perderam o grau de investimento, como o Brasil. BNDES fecha as torneiras » Depois de anos de dinheiro farto e critérios frouxos para a concessão de empréstimos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) resolveu fechar a torneira drasticamente. Nem mesmo empréstimos já aprovados estão saindo. A instituição está criando uma série de empecilhos técnicos e burocráticos para liberar os recursos. Empresários que contavam com esse dinheiro nesses tempos de economia andando para trás, estão de cabelo em pé. Brasil no Canadá » O cientista político Thiago de Aragão, sócio da consultoria Arko Advice, falará amanhã sobre o Brasil a um grupo exclusivo de grandes investidores canadenses. Ele será o único brasileiro presente ao Fórum Global de Negócios, que discutirá mudanças nas relações econômicas e sociais dos Brics, em Banff, Alberta, Canadá. Seu tema é “Ambiente Político no Brasil e Suas Perspectivas”.

Brasília, 00h10min

Vicente Nunes