Servidores públicos tornam-se porto seguro para os bancos

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Os bancos encontraram um porto seguro em meio à grave crise provocada pela pandemia do novo coronavírus: os servidores públicos. Como eles têm estabilidade no emprego e não tiveram redução de salários, tornaram-se alvo preferencial das instituições financeiras na hora de emprestar dinheiro. Resultado: o crédito consignado ao funcionalismo continua crescendo como se não houvesse amanhã.

Dados do Banco Central apontam que, somente no consignado, os servidores devem R$ 232,8 bilhões — um recorde. De janeiro a junho deste ano, esses empréstimos aumentaram R$ 10,4 bilhões. Isso significa que, na média, os bancos liberaram R$ 57,1 milhões ao dia por meio dessa linha de crédito, incluindo sábados, domingos e feriados. Ressalte-se: o calote nessas operações é praticamente zero.

Bons clientes, os servidores são compensados com as menores taxas de juros do mercado quando se trata de empréstimo a pessoas físicas (nessa comparação não entra o financiamento da casa própria). Pelos cálculos do BC, os encargos médios estão em 17,7% ao ano — os menores da série histórica. No consignado para trabalhadores da iniciativa privada, que devem R$ 23,8 bilhões aos bancos (10% do saldo devedor do funcionalismo) as taxas pulam para 29,3% anuais.

Nas contas do sistema financeiro, os servidores ainda têm uma ampla margem de endividamento. A folha de salários daqueles que são pagos pelo governo federal custará R$ 323 bilhões neste ano. Quando incluídos os funcionários públicos de estados e municípios, a fatura deve encostar em R$ 940 bilhões. E há perspectivas de reajustes em 2022, pelo menos para os servidores federais. Será um agrado do presidente Jair Bolsonaro num momento em que ele tentará à reeleição.

Brasília, 08h59min

Vicente Nunes